HOME | NOTÍCIAS  | SÓ SÃO PAULO | COMUNIDADE | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS


REFLEXÃO


Envie seu comentário

 

urbanidade
11/10/2006
Periferia animada

Rafael e Daniel mergulharam na periferia para criar um desenho animado, cujos personagens são dois DJs

Formados pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, Rafael Terpins e Daniel Greco estavam sem emprego quando decidiram abrir uma pequena produtora de animação. Com um galpão na Barra Funda, conseguiam sobreviver com serviços para cinema e publicidade. Queriam, porém, ir mais longe, e não apenas ilustrar projetos alheios. Nas horas vagas, desenvolviam uma experiência, inspirada na periferia paulistana, que lhes tomava muito tempo e não dava um único centavo de retorno, mas, agora, está prestes a atingir um público internacional.

Há quatro anos, Rafael e Daniel mergulharam em bairros periféricos para buscar inspiração e criar um desenho animado, no qual os personagens centrais são dois DJs. Os bonecos são feitos de massa, semelhante ao material que serve para crianças brincarem de modelagem. "Não sabíamos nada sobre essa técnica", diz Rafael. "Saímos à cata do que havia disponível na literatura de animação com bonecos de massa", complementa Daniel.

Juntaram-se a eles quatro estudantes de arquitetura e desenho industrial do Mackenzie e da USP, para os quais a experiência serviu pelo menos para que tirassem boas notas. Nada de dinheiro.

Nas suas incursões periféricas, Rafael e Daniel descobriam o encanto que os DJs exerciam na periferia -um encanto que, muitas vezes, segundo eles, servia de contraponto aos traficantes. À medida que o projeto saía da prancheta, mais jovens eram arregimentados para a produção. A mão-de-obra qualificada para animação é escassa e pouco qualificada, o que exigiu dos dois que atuassem como mestres diante de aprendizes.

Neste ano, o que era um aprendizado coletivo, sem nenhuma garantia de ir para as telas, caiu nas mãos de profissionais da Cartoon Netwoork, uma das principais emissoras de desenho animado do mundo. Gostaram e encomendaram quatro filmes curtos, com versões em inglês e espanhol. "Só conseguimos avançar quatro segundos por dia, isso quando vamos bem", conta Daniel, que, como Rafael, está usando a madrugada para finalizar o projeto.

Diante desse contrato surgiram, além das questões da finalização, mais dois problemas futuros. O primeiro deles, fácil de resolver, é a dificuldade de os jovens da periferia assistirem ao filme, pois são poucos os que têm acesso à TV por assinatura. "Podemos mostrar o trabalho em telões ambulantes", sugere Rafael.

O segundo dos problemas é bem mais complexo, porque tem a ver com as mais profundas carências brasileiras. Se vierem novos contratos desse tipo - a emissora sinalizou que um eventual sucesso dos DJs animados significaria mais encomendas-, será necessário arregimentar técnicos. " Não há mão-de-obra disponível no mercado", lamenta Rafael.

Daí que, desse gargalo, pode surgir mais uma experiência, dessa vez educativa. Com as técnicas que desenvolveram, eles gostariam de criar uma escola para a formação de jovens, especialmente da periferia, em animação.

Para saber mais sobre o projeto.


Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   
 
 
 

COLUNAS ANTERIORES
10/10/2006 FHC é um injustiçado
09/10/2006 Muito show, poucas idéias
04/10/2006
ACM e a verdade sobre o Bolsa Família
04/10/2006
Sacode a poeira e dá volta por cima
03/10/2006
A bela história de Cristovam
02/10/2006 Alckmin começa favorito
02/10/2006
A verdade óbvia sobre a corrupção
27/09/2006
A invenção da rua
25/09/2006
Honestidade virou sinônimo de tolice?
20/09/2006
Praça da comunidade