Rafael
e Daniel mergulharam na periferia para criar um desenho animado,
cujos personagens são dois DJs
Formados pela Escola Superior de Propaganda e Marketing,
Rafael Terpins e Daniel Greco estavam sem emprego quando decidiram
abrir uma pequena produtora de animação. Com
um galpão na Barra Funda, conseguiam sobreviver com
serviços para cinema e publicidade. Queriam, porém,
ir mais longe, e não apenas ilustrar projetos alheios.
Nas horas vagas, desenvolviam uma experiência, inspirada
na periferia paulistana, que lhes tomava muito tempo e não
dava um único centavo de retorno, mas, agora, está
prestes a atingir um público internacional.
Há quatro anos, Rafael e Daniel mergulharam em bairros
periféricos para buscar inspiração
e criar
um desenho animado, no qual os personagens centrais são
dois DJs. Os bonecos são feitos de massa, semelhante
ao material que serve para crianças brincarem de modelagem.
"Não sabíamos nada sobre essa técnica",
diz Rafael. "Saímos à cata do que havia
disponível na literatura de animação
com bonecos de massa", complementa Daniel.
Juntaram-se a eles quatro
estudantes de arquitetura e desenho industrial do Mackenzie
e da USP, para os quais a experiência serviu pelo menos
para que tirassem boas notas. Nada de dinheiro.
Nas suas incursões periféricas, Rafael e Daniel
descobriam o encanto que os DJs exerciam na periferia -um
encanto que, muitas vezes, segundo eles, servia de contraponto
aos traficantes. À medida que o projeto saía
da prancheta, mais jovens eram arregimentados para a produção.
A mão-de-obra qualificada para animação
é escassa e pouco qualificada, o que exigiu dos dois
que atuassem como mestres diante de aprendizes.
Neste ano, o que era um aprendizado coletivo, sem nenhuma
garantia de ir para as telas, caiu nas mãos de profissionais
da Cartoon Netwoork, uma das principais emissoras de desenho
animado do mundo. Gostaram e encomendaram quatro filmes curtos,
com versões em inglês e espanhol. "Só
conseguimos avançar quatro segundos por dia, isso quando
vamos bem", conta Daniel, que, como Rafael, está
usando a madrugada para finalizar o projeto.
Diante desse contrato surgiram, além das questões
da finalização, mais dois problemas futuros.
O primeiro deles, fácil de resolver, é a dificuldade
de os jovens da periferia assistirem ao filme, pois são
poucos os que têm acesso à TV por assinatura.
"Podemos mostrar o trabalho em telões ambulantes",
sugere Rafael.
O segundo dos problemas é bem mais complexo, porque
tem a ver com as mais profundas carências brasileiras.
Se vierem novos contratos desse tipo - a emissora sinalizou
que um eventual sucesso dos DJs animados significaria mais
encomendas-, será necessário arregimentar técnicos.
" Não há mão-de-obra disponível
no mercado", lamenta Rafael.
Daí que, desse gargalo, pode surgir mais uma experiência,
dessa vez educativa. Com as técnicas que desenvolveram,
eles gostariam de criar uma escola para a formação
de jovens, especialmente da periferia, em animação.
Para saber mais sobre o projeto.
Coluna
originalmente publicada na Folha de S.Paulo,
editoria Cotidiano.
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