Estamos acostumados a imaginar
que trabalho infantil ou escravo, duas das mais perversas
formas de exploração do ser humano, limitam-se
às fazendas do Nordeste ou da Amazônia. E, então,
nós "civilizados" e urbanos ficamos comovidos
com tanta barbárie, praticada bem longe.
Uma campanha lançada em São Paulo, a cidade
mais global e tecnologia avançada do país, ajuda
a desmistificar essa pretensa superioridade. Com o slogan
"não dê esmola, dê futuro", poder
público e entidades comunitárias querem evitar
que crianças continuem a ser exploradas nos semáforos
pelos adultos. São, na prática, escravas; tudo
o que ganham vai para os adultos.
Dizem que é difícil mudar essa realidade, que
essa campanha é inútil. Ou seja, meninos escravos,
em pleno terceiro milênio, espalhados aos olhos de todos,
na maior cidade brasileira, fariam parte indissolúvel
da paisagem. Até, quem sabe, pode ser.
Mas aí teremos de decretar nossa incompetência
coletiva, a começar da elite e dos governantes, para
enfrentar as formas mais perversas de exploração
do ser humano.
Coluna originalmente publicada na
Folha Online, na editoria Pensata.
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