Leio na coluna
da Mônica Bergamo que deve chegar a R$ 800 milhões
o tamanho da renúncia fiscal do vale-cultura --é
o modelo do ticket refeição, fornecido pelas
empresas, mas agora usado para que os empregados tenham mais
acesso a cinema, teatro, shows, exposições,
concertos. Quem pode, afinal, ser contra essa ideia tão
simpática e civilizada?
Venho participando de uma experiência que me faz suspeitar
que esse vale-cultura pode ser mais um daqueles desperdícios
brasileiros, movidos à boa intenção.
Um grupo de jornalistas recém-formados, outros ainda
na faculdade, decidiu montar um guia cultural e educativo
(www.catracalivre.com.br)
com as atividades gratuitas ou a preços populares da
cidade de São Paulo. Eles passam o dia garimpando essas
atividades não só nas áreas centrais,
mas nas periferias --ou até lugares não convencionais
como um bar que promove sarau ou um cinema numa laje ou num
beco. São tantas a opções que, muitas
dias, é como se a cidade tivesse uma espécie
de Virada Cultural.
Por causa disso, comecei a prestar a atenção
ao fato que eventos de ótima qualidade em museus, teatros,
salas de concertos, não atraem muita gente --e muitas
vezes apenas pela falta de informação. Escolas
e faculdades ao lado de museus ou centros culturais, por falta
de informação, não estimulam seus alunos
a ir aos eventos, apesar de gratuitos.
Meu receio, portanto, é que, com esses R$ 800 milhões
se estimule, com dinheiro público, acesso à
cultura exclusivamente comercial.
Se é para gastar esse dinheiro, seria melhor usado
se facilitasse o transporte e monitoria para as pessoas visitarem
o que já existe e é pouco usado. Sei de muitos
professores frustrados porque não têm como levar
seus alunos a uma exposição.
Coluna originalmente publicada na
Folha Online, editoria Pensata.
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