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REFLEXÃO


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folha de s.paulo
14/08/2006
A grande notícia das eleições

Arrisco dizer que 2006 entra para a história como o ano em que a educação subiu ao topo da agenda do país

Pela primeira vez, a educação se transformou num dos principais assuntos dos candidatos a presidente e a governador -essa é, de longe, a mais interessante novidade destas eleições.

Isso significa que, mais cedo ou mais tarde, os governantes serão avaliados pelo desempenho dos estudantes, sobretudo quando os indicadores forem popularizados assim como os de inflação e desemprego.

Arrisco dizer que 2006 entra para a história como o ano em que a educação subiu ao topo da agenda do país. Esse é um caminho sem volta, por absoluta falta de alternativa.

Os candidatos não estão refletindo, em suas propostas e promessas, só as óbvias relações entre conhecimento e geração de riqueza, uma das chaves para entender o progresso de nações como a China. Estão refletindo informações mais simples, contidas nas pesquisas de opinião: o eleitor mais pobre está descobrindo que conhecimento significa dinheiro no bolso, condição indispensável para conseguir os melhores salários.

A cobrança em cima dos governantes se torna possível porque, nos últimos anos, uma geração de acadêmicos -o maior expoente deles é Maria Helena Guimarães, que estruturou o departamento de dados do MEC- desenvolveu métodos de avaliação. O exame do ensino superior, divulgado na semana passada, é mais um desses diagnósticos a mostrar nossa tragédia. Já conseguimos saber o desempenho de cada unidade do ensino fundamental.

Estamos produzindo um grupo de economistas, quase todos aprimorados em universidades dos EUA, capazes de pôr em números o que significa cada centavo gasto em capital humano. Vamos aprendendo a desmontar equívocos. Na semana passada, o economista Naercio Menezes, em seminário no Ibmec, em São Paulo, informou que a escola representa só 20% da nota do aluno, o resto vem da base familiar e da vivência comunitária. Ou seja, trabalhar a família e a comunidade é tão importante quanto trabalhar o aluno.

O que há de mais expressivo da elite empresarial brasileira se prepara para lançar, em 7 de setembro, coincidindo com a comemoração da Independência, uma mobilização pela melhoria da educação. Colocou-se como meta 2022, quando se festejará o bicentenário da Independência. Alguns dos melhores especialistas em avaliações foram chamados pelos organizadores do movimento para montar uma rede de indicadores de desempenho educacional. A partir disso, pretende-se disseminar boas práticas e, por conseqüência, mostrar os incompetentes. Versões desse tipo de mobilização, envolvendo empresários, governo, fundação e acadêmicos, já ocorrem na Bahia, no Rio e em Minas.

Empresários paulistas apadrinham escolas estaduais e, a partir daí, começam a sistematizar modelos de gestão para serem compartilhados. O critério essencial, para eles, é o acompanhamento das notas dos alunos e a descoberta dos mecanismos para superar os obstáculos.

Há uma profusão de seminários, trazendo experiências nacionais e internacionais, quase sempre envolvendo a elite política, econômica e empresarial. Foi o que ocorreu, na segunda, no Ibmec, onde estavam Alexandre Scheinkman e Ala Krueger (Universidade de Princenton), e na quarta, em Belo Horizonte, em que se divulgaram casos de escolas em tempo integral. Nesta semana, educadores do país todo vêm a São Paulo para acompanhar relatos sobre políticas públicas inovadoras em educação, em que se tecem parcerias com a comunidade -a iniciativa é do Cenpec, que desde 1995 pesquisa a engenharia de parcerias educativas e a formação de gestores. Já é quase consenso que a educação não é responsabilidade única dos governos nem dos educadores.

Está também se tornando consenso que os alunos devem permanecer mais tempo estudando. Belo Horizonte lançou, na quarta, um projeto de escola em tempo integral. Nos próximos dias, a Prefeitura de São Paulo vai anunciar o aumento do número de aulas -no mínimo cinco horas- e a transformação de todos os clubes públicos em espaços educativos para que o aluno possa estudar de manhã até o final do dia. Estão em funcionamento 500 escolas estaduais em regime integral.

Para sair do lamaçal da ignorância em que estamos metidos, num país em que a maioria dos adultos não entende o que lê, vamos precisar de muito mais que isso -e por muito tempo. Mas não tenho dúvida de que, neste ano, estamos iniciando uma virada histórica.

P.S. - Todas as escolas deveriam pôr na entrada suas notas. Mais: os pais deveriam aprender a entender o que significam esses dados. Se os pais não ajudarem a fazer pressão, os investimentos terão pouco efeito.


Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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