REFLEXÃO


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folha de s.paulo
16/01/2008

Escola de grife

Alexandre Herchcovitch ficou convencido de que a melhor escola é aquela que nunca separa fazer e saber

Alexandre Herchcovitch tinha 12 anos de idade e nem imaginava que algum dia seria estilista -muito menos com fama internacional- quando começou a trabalhar em seu primeiro ateliê de moda. Era o quarto de seus pais. O menino adorava observar a mãe, Regina, vestir-se. "Eu ficava dando opiniões." A mãe, então, ensinou-o a costurar e, logo, estaria usando as roupas feitas pelo filho. "Minha mãe era simultaneamente professora e modelo."

Surgia naquele quarto de uma família de classe média baixa o primeiro traço de um sonho ainda não realizado do estilista: criar uma escola experimental de moda, conectada ao que existe de mais contemporâneo nas tendências mundiais. "Estou me preparando para fazer desse sonho realidade."

Preparar-se significa arrumar tempo para se dedicar mais ao ensino e, assim, ajudar a formar profissionais da moda.

Para medir a escassez de tempo de Herchcovitch, basta ver as suas atividades na São Paulo Fashion Week, que começa hoje, na qual estará à frente de quatro apresentações de diferentes marcas. Seu nome está associado a lojas no Brasil e no exterior, tem 138 produtos licenciados, que incluem telefone celular, sandália e xícaras. Suas criações estão anualmente na semana da moda de Nova York, onde têm recebido elogios da crítica. Por fim, ele comanda uma fábrica no bairro dos Campos Elíseos (na região central da capital paulistana).

Conseguiu tempo, porém, para fazer uma experiência, a convite do Senac, em parceria com um programa da França: manter atualizados os professores do curso de moda. "Meu papel seria fazer uma costura entre o mercado e a sala de aula."
Ele percebeu que vários professores conhecem profundamente a teoria, mas, trancados na sala de aula, distanciam-se do mercado. "Resolvi fazer então encontros dos docentes com quem está com a mão na massa."

Criou-se um problema para a escola. Os alunos passaram a pressionar para ter encontros com o estilista. Herchcovitch começou então a acompanhar duas turmas, sempre fazendo a tal costura entre o mercado e a sala de aula. "Eu já tinha visto como os estagiários que trabalharam para mim tinham pouca noção da realidade."
Muitos alunos, segundo ele, ainda acreditam no "glamour" da moda. "Tento colocar os pés deles no chão", diz.

Aqueles encontros com os jovens ensinaram-lhe uma lição. "Estar em ambientes de aprendizagem me dá energia e me faz querer inovar ainda mais." E ficou convencido de que a melhor escola é aquela que nunca separa fazer e saber.

Mais ou menos como o quarto em que tinha Regina como mãe, modelo e professora. Imagina que sua escola, em essência, seria um grande ateliê, para simular todas as etapas da criação -o que vai de ligar para o fornecedor até desenvolver um produto.

Coluna originalmente publicada na Folha de S. Paulo, editoria Cotidiano.

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