REFLEXÃO


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urbanidade
16/05/2007
Arte limpa

A lei contra a poluição visual deu a Marcelo Mello a vontade de usar a cidade como uma galeria ao ar livre


A lei contra a poluição visual significou desemprego nas empresas de mídia exterior, material reciclável aos carroceiros e gastos com novas fachadas para empresários. Para Marcelo Mello, significou arte. "Quando vi todas aquelas estruturas de ferro vazias, depois de arrancados os cartazes, percebi que estava diante de uma oportunidade profissional", conta Mello. Imaginou que aqueles esqueletos, espalhados pela cidade, seriam esculturas em potencial.

Nascido em Porto Alegre, Marcelo Mello, 40, criou em São Paulo, há nove anos, um ateliê no qual transforma em esculturas barras de ferro descartadas pela indústria da construção civil. "Para mim, reciclagem sempre se traduziu em arte." Seu projeto é fazer dessas carcaças, símbolos da sujeira urbana, um projeto público de embelezamento.

É a sua primeira experiência de arte pública. No início, esculpir era uma espécie de terapia ocupacional. Dos cinco aos 12 anos, Mello sofria de insuficiência renal, o que o impedia de brincar, de ter amigos e até de freqüentar a escola com assiduidade. "Não podia nem ao menos jogar futebol", diz ele. Nas raras vezes em que o levavam à praia -"alguns médicos diziam que tomar sol não era bom"-, ele se divertia sozinho olhando o mar e fazendo castelos e bonecos na areia.

Transformou seu quarto em uma espécie de ateliê, onde montava esculturas com os mais diferentes materiais. "As peças eram meu maior prazer e um jeito de compensar as frustrações", conta. Prazer e frustrações o conduziram profissionalmente: Mello resolveu estudar artes plásticas e, formado, veio morar em São Paulo. "Não poderia imaginar que iria viver de arte." Além de dar aulas, fechava-se em seu ateliê. A lei contra a poluição visual deu-lhe a vontade de usar a cidade como uma galeria ao ar livre.

Coletou sobras de outdoors e fez uma escultura para vender uma idéia -empresários lhe dariam o ferro das armações e o ajudariam a produzir uma escultura. A obra tanto poderia ir para dentro das empresas como, preferencialmente, para uma praça ou parque. "Podemos espalhar esculturas pela periferia", sonha. O prefeito Gilberto Kassab, autor da lei Cidade Limpa, viu a obra feita com ferros de outdoor e se propôs a fazer uma parceria, instalando as esculturas em locais públicos.

Mello já decidiu que, enquanto não conseguir os padrinhos para as esculturas, a peça experimental ficará em uma praça pública próxima de seu ateliê, no bairro de Pinheiros (zona oeste da capital). Simbolicamente, segundo ele, a arte pode ter em relação a São Paulo -"uma cidade doente"- o efeito restaurador que teve em sua vida. "No lugar da poluição que suja e enfeia, a arte que limpa e embeleza."

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Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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