A lei
contra a poluição visual deu a Marcelo Mello
a vontade de usar a cidade como uma galeria ao ar livre
A lei contra a poluição visual significou desemprego
nas empresas de mídia exterior, material reciclável
aos carroceiros e gastos com novas fachadas para empresários.
Para Marcelo Mello, significou arte. "Quando vi todas
aquelas estruturas de ferro vazias, depois de arrancados os
cartazes, percebi que estava diante de uma oportunidade profissional",
conta Mello. Imaginou que aqueles esqueletos, espalhados pela
cidade, seriam esculturas em potencial.
Nascido em Porto Alegre, Marcelo Mello, 40, criou em São
Paulo, há nove anos, um ateliê no qual transforma
em esculturas barras de ferro descartadas pela indústria
da construção civil. "Para mim, reciclagem
sempre se traduziu em arte." Seu projeto é fazer
dessas carcaças, símbolos da sujeira urbana,
um projeto público de embelezamento.
É a sua primeira experiência de arte pública.
No início, esculpir era uma espécie de terapia
ocupacional. Dos cinco aos 12 anos, Mello sofria de insuficiência
renal, o que o impedia de brincar, de ter amigos e até
de freqüentar a escola com assiduidade. "Não
podia nem ao menos jogar futebol", diz ele. Nas raras
vezes em que o levavam à praia -"alguns médicos
diziam que tomar sol não era bom"-, ele se divertia
sozinho olhando o mar e fazendo castelos e bonecos na areia.
Transformou seu quarto em uma espécie de ateliê,
onde montava esculturas com os mais diferentes materiais.
"As peças eram meu maior prazer e um jeito de
compensar as frustrações", conta. Prazer
e frustrações o conduziram profissionalmente:
Mello resolveu estudar artes plásticas e, formado,
veio morar em São Paulo. "Não poderia imaginar
que iria viver de arte." Além de dar aulas, fechava-se
em seu ateliê. A lei contra a poluição
visual deu-lhe a vontade de usar a cidade como uma galeria
ao ar livre.
Coletou sobras de outdoors e fez uma escultura para vender
uma idéia -empresários lhe dariam o ferro das
armações e o ajudariam a produzir uma escultura.
A obra tanto poderia ir para dentro das empresas como, preferencialmente,
para uma praça ou parque. "Podemos espalhar esculturas
pela periferia", sonha. O prefeito Gilberto Kassab, autor
da lei Cidade Limpa, viu a obra feita com ferros de outdoor
e se propôs a fazer uma parceria, instalando as esculturas
em locais públicos.
Mello já decidiu que, enquanto não conseguir
os padrinhos para as esculturas, a peça experimental
ficará em uma praça pública próxima
de seu ateliê, no bairro de Pinheiros (zona oeste da
capital). Simbolicamente, segundo ele, a arte pode ter em
relação a São Paulo -"uma cidade
doente"- o efeito restaurador que teve em sua vida. "No
lugar da poluição que suja e enfeia, a arte
que limpa e embeleza."
Veja as fotos:
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Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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