Só porque passou, na segunda-feira
passada, na frente de são-paulinos, quando ia pegar seu ingresso,
um torcedor da Ponte Preta foi perseguido, massacrado e estouraram-lhe,
com chutes, a cabeça. Morreu. No dia anterior, um palmeirense
levou um tiro de um corinthiano e também morreu.
O futebol passou a atrair gangues que usam as torcidas organizadas
como fachada e pretexto para a selvageria --isso, graças,
em parte, à sensação de impunidade. É uma das evidências da
epidemia da violência que se propagou pelo país, a tal ponto
que muita gente deixou de ir ao campo.
O que está, de verdade, em discussão nesse referendo sobre
o desarmamento é menos a arma --afinal, pode-se matar com
chutes ou com um revólver-- mas até que ponto a sociedade
conseguirá se organizar para prevenir e punir a barbárie.
No essencial, os partidários do "sim" e do "não" vão sair
ganhando independentemente do resultado: o referendo vai estimular
ajudar as pessoas cobrarem mais do poder público para que
assegure a paz.
Se, no passado, os temas que imperaram nos debates nacionais
foram, entre outros, inflação e desemprego, no futuro será
cada vez mais a violência.
Coluna originalmente publicada na
Folha Online, na editoria Pensata.
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