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REFLEXÃO


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colunas
21/06/2005
Carta aos Alunos

Nessa última semana, ocorreu um incidente envolvendo o jornal “A Gazieta”, publicado pelo grupo “escória”, que consistiu em uma ofensa gratuita e altamente Racista aos alunos desta Faculdade. A ofensa, a qual foi dado o título de “tese da escória”, versava do seguinte modo:
“Tese 8: A escravidão como salvação dos negros africanos.

Se não fossem escravizados, não seriam trazidos ao continente americano. Por pior que estejam aqui atualmente, estão melhores do que estariam na África dos dias de hoje.”
Desde então, viu-se ao longo da semana um intenso debate sobre o despautério. A indignação foi geral, assim como os pedidos de explicação e retratação pública dos responsáveis pelo insulto.

Apesar de terem sido inúmeros os argumentos de quem se indignou, como aluno e como ser humano, e, principalmente, os argumentos de quem, dada a sua origem étnica, se sentiu diretamente ultrajado pela afirmação, o grupo “escória” omitiu-se quanto à retratação. O próprio presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto limitou-se a tratar a questão (por e-mail) com evasivas, tentando, no cume do absurdo, justificar a frase por meio de ironias e novas “piadinhas”. O presidente do CA, Fernando Borges Filho, vulgo “Purunga”, chegou mesmo a perguntar se nós, alunos, seríamos “ANALFABETOS” e, com a destreza argumentativa que lhe é peculiar, asseverava inflamado: “Essa frase não é racista - não é racista!”.

Não é novidade alguma a veiculação de intolerância e preconceito por meio do jornal da escória da São Francisco. O jornal ostenta, costumeiramente, um tom explícito de homofobia e machismo, dissimulado pela máscara covarde da pretensa anedota. Escondidos, qual ratos, atrás desta máscara anônima, os membros da escória da São Francisco entendem-se no direito de destilarem todo o seu preconceito, arcaísmo, conservadorismo e burrice, que se dá por diversas formas, passando pelas mais sérias injúrias e achincalhamento pessoal até desembocar em “teorias” da mais pura intolerância, como esta contra qual nos insurgimos.

A infeliz “teoria” desrespeita não apenas os negros e afro-descendentes, mas toda a sociedade brasileira visto que, dado o processo histórico, o Brasil é um país intensamente miscigenado. Levando-se em conta que todos os alunos desta Faculdade, para aqui estarem matriculados, passaram pelo mesmo processo de seleção, cremos serem dispensáveis delongas acerca do referido processo histórico e elucidações sobre o quão triste foi o período da escravidão e a inesgotável luta dos nossos ascendentes negros pela liberdade e, posteriormente, pela dignidade e igualdade. É também dispensável qualquer ênfase ao fato de que esta luta perdura até os dias de hoje e que a grande massa descendente de escravos encontra-se ainda marginalizada, compondo o coro dos desgraçados, nas favelas, sem trabalho, sem educação, sem condições mínimas de saúde e, muitas das vezes, na mais pura indigência.

Ouvir que a escravidão foi benéfica aos negros é o mesmo que ouvir as risadas da “orquestra irônica e estridente” de que fala Castro Alves, em seu Navio Negreiro. Sabendo que a população africana está, atualmente, nas condições em que está devido aos séculos e séculos de exploração branca, dizer que a escravidão salvou os negros é, além de um descaramento sem medida, uma das muitas e vis maneiras que o Racismo encontra para mostrar os seus dentes, sendo que, desta vez, os autores da “teoria” sequer fizeram uso das “sutilezas” do Racismo velado, isto porque, como dissemos, estão protegidos atrás da máscara própria dos covardes – a piada.

É justamente o tom de “brincadeira” que divide opiniões, fazendo com que alguns, os mais desprevenidos, achem inofensiva a afirmação e mantenham-se indiferentes ao perigoso revólver da intolerância. A estas pessoas alertamos: CUIDADO. O próximo tiro pode ser contra você.

Há ainda outra tese esdrúxula, na mesma edição do aludido jornal, em que a escória da SanFran diz que eram BONS aqueles tempos em que “a AIDS se restringia à África e a alguns ânus homossexuais”, o que apenas nos faz reiterar todo o sobredito acerca do extremismo homofóbico, intolerante e alienado de suas “teorias”, que ela, a escória, chama de “irrepreensível ideologia”.

O presidente do Centro Acadêmico XI de Agosto, aludindo a um certo “sarcasmo libertador”, diz: Não vou perder meu tempo explicando o que uma estrita interpretação de texto pode fazer. Tentem se lembrar da Fuvest e de como era difícil no começo aquelas provas de literatura e interpretação, que sempre envolviam um CONTEXTO, uma LINGUAGEM e por vezes um HUMOR SARCÁSTICO. Que eu me lembre, as passagens sarcásticas quase sempre coincidiam com as mais LIBERTADORAS. Quem tem a capacidade de se libertar dos estigmas e da superficialidade aparente dos símbolos são os poucos privilegiados, que são realmente livres, que riem de tudo como bebês (...).

Ocorre que a maior parte dos negros brasileiros não pode rir de tudo como bebês, muito menos se “libertar dos estigmas e da superficialidade aparente dos símbolos”, pois não tem o privilégio, ao contrário de muitos membros da escória, de não se preocuparem com dificuldades financeiras e sociais de suas famílias, além de ter que enfrentar todos os dias o Racismo disfarçado, ou mesmo descarado, como o que aqui se demonstrou. E quanto à interpretação, cada indivíduo recebe um texto de uma maneira e, ainda que o teor Racista do texto residisse tão-somente em sua literalidade, tanto pior, pois ninguém é obrigado a ter o “humor sarcástico” e a inteligência soberana que têm os membros da escória.

EXIGIMOS, portanto, RETRATAÇÃO PÚBLICA e IMEDIATA, por todos os meios, da escória, como gestão, e do Centro Acadêmico XI de Agosto, como instituição representativa discente, assumindo, os dois, que cometeram uma AFRONTA RACISTA. Aceitaremos a retratação sincera com muito respeito e, principalmente, satisfação em saber que há esperança de que violações como esta não mais se repitam contra minorias, em nenhum lugar do Brasil, e, principalmente, dentro da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.

Júlio César Pereira (4NI)
Boris Calanzas (4DP)


O Largo está doente!

A velha Casa onde outrora caminharam vultos que construíram a Justiça deste país no decurso de suas vidas assiste hoje ao fomento da discórdia. O corpo estudantil está em sério estado patológico. Usando metáforas clínicas eu diria que há uma cepa de fungos alojada na Rua Riachuelo 194. E o produto desta é uma infecção que cresce e polui as centenárias Arcadas com toda espécie de asco e imundícies.

Certamente todos já devem ter lido as sujas folhas que circularam por esta honrada Academia, sob o título de “Jornal da Escória”. Infelizmente também as li, e confesso, gostaria de não ter feito isso. Não tivesse lido não estaria agora enojado com alguns colegas que acreditam ser a ESCRAVIDÃO a SALVAÇÃO dos NEGROS AFRICANOS. Sim, há entre nós "miseráveis de espírito" capazes de acreditar que a maior vergonha desta nação é algo a ser exaltado! Há dentre esta faculdade ainda aqueles que no torpor de sua ignorância defendem que o homossexualismo é uma doença e que a AIDS é a cura para tal. Pergunto: o que difere estes franciscanos das famigeradas maltas de skinheads que assassinam, violentam, e destroem a dignidade de tantos indefesos? Não se encontram os autores do periódico também em grupo? Não determinam também estes alunos o que deve (segundo as crenças pessoais dos mesmos) e o que não deve haver na sociedade? Excetuando-se os cortes de cabelo, os coturnos e os suspensórios como poderíamos distinguir entre os citados uspianos e as facções “White Power” tão noticiadas ultimamente?

Se for esta a realidade de nossa tradicional Casa, não há mais o que ser feito. É hora de dinamitar estas paredes, aterrar o velho Porão, jogar uma pá de cal sobre a Pedra Fundamental e construirmos um circo onde se encontra a centenária instituição voltada a educar e construir a ELITE do Brasil.
Chega.

É hora de extirpar a doença que está se alojando neste corpo acadêmico.
Um grupelho de meia dúzia de boçais não pode macular tamanha instituição. É inconcebível que uma vaga na melhor universidade do Brasil seja ocupada por pessoas de tamanho vazio moral. Esta é uma Universidade pública, e deve, portanto satisfações à sociedade! Que se expliquem agora perante esta os ilustres acadêmicos defensores da escravidão! Que se torne público que na USP se formam defensores da mais vexante condição social já concebida... Que aqui se formam doutores defensores da causa homofóbica... Que aqui se formam parasitas sociais com o dinheiro público!
Os autores da “Gazieta” merecem punição, não o privilégio de estudar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco.

Pessoas assim não podem e nem merecem ser operadores do direito.
Por fim quero que o senhor (a) leitor pense e responda: qual a empresa que contratará um indivíduo desses? E ainda: será que estas “infelizes declarações” prejudicam só esses alunos, ou a faculdade como um todo ?
Racismo é crime e exige punição.

Odair Eduardo Ivasco
1O NP (178NP)

   
 
 
 

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