A paixão
pela fotografia começou a ir para dentro da escola.
A Pedroso de Moraes incluiu a fotografia no currículo
A atriz e escritora Bruna Lombardi assina o texto de apresentação
da exposição de fotos de Rosa de Luca, mostrando
ângulos originais da cidade de São Paulo -os
dez painéis serão exibidos, neste mês,
na única galeria fotográfica a céu aberto
da cidade, localizada na avenida Pedroso de Moraes, quase
esquina com a Rebouças.
As exposições ali se incorporaram há
muito tempo na paisagem, por onde já passaram alguns
dos melhores fotógrafos brasileiros -a Nasa, por exemplo,
cedeu imagens da Lua. Mas o ângulo mais interessante
é invisível aos olhos -e está atrás
dos gigantescos painéis, substituídos a cada
dois meses.
A história começa com um menino que estudou,
na década de 1960, na escola pública (Pedroso
de Moraes) que fica atrás daqueles painéis.
"Eu, minhas irmãs e muitos primos estudamos ali.
Tinha uma ótima qualidade", conta Carlo Cirenza.
Adulto, Carlo viu sua antiga escola por um outro ângulo.
"Uma decepção", resume. E, nessa visão,
nasceu aquela galeria.
Por coincidência, Carlo montou seu estúdio de
revelação e ampliação de fotos
num prédio exatamente em frente à escola Pedroso
de Moraes. Curioso, cruzou o portão e foi rever a sua
sala de aula.
Mas quase nada batia com suas recordações. Janelas
e portas depredadas, paredes e muros sujos, o piso descolado.
"Quando estudávamos lá, era comum os pais
dos alunos fazerem mutirões para cuidar da escola.
Pelo menos uma vez por ano, faziam uma pintura coletiva."
Eram os tempos em que a classe média ainda frequentava
o ensino público.
Dessa vez, foi ele quem tentou manter aquele espaço.
Além das pequenas reformas, propôs que se criasse
a galeria e chamou fotógrafos para participarem da
experiência -eles cederam seus trabalhos. Até
porque é visibilidade garantida. Pelo número
de carros que passam pela rua a cada minuto, é, de
longe, a galeria de fotos mais visitada do país. O
efeito maior é à noite, por causa dos holofotes.
A paixão pela fotografia que se via do lado de fora
da escola começou a ir para dentro. A direção
da Pedroso de Moraes resolveu incluir a fotografia em seu
currículo -ali, só estudam crianças até
seis anos. Elas aprenderam a fotografar apenas com uma lata,
na qual se faz um furo (pinhole).
Mas o grande projeto de Carlos -ainda no papel- é que
os fotógrafos que participam das exposições
possam fazer oficinas com as crianças, ensinando-as
a desenvolver o olhar. Em tese, não é tão
difícil assim -possivelmente a maioria dos fotógrafos
da cidade vive ou trabalha num raio de um quilômetro
daquela escolinha. "As imagens são a edição
da vida do ser humano."
Para Carlo, aquele espaço virou a imagem em que preferiu
fazer sua edição.
PS - Para quem não puder ver a nova exposição
de Rosa de Luca, montei uma galeria neste
link. É um dos ângulos mais originais que
já vi sobre a cidade de São Paulo.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.
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