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REFLEXÃO


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urbanidade
22/11/2006
A revolução na vizinhança da USP

A instalação de um parque tecnológico no Ceagesp atrairia empresas e empregos e mudaria a paisagem do local


Quando era menino, João Steiner transformou seu quarto, um amontoado caótico de livros e aparelhos, num laboratório onde inventou seu primeiro telescópio. Era apenas o começo de sua paixão pela observação do universo. Formou-se em física na Universidade de São Paulo e fez um pós-doutorado em astrofísica em Harvard. "Sempre me seduzi por mistérios como os buracos negros."

Anos depois, ele seria um dos cientistas brasileiros a participar da criação de um dos mais sofisticados telescópios já desenvolvidos. Está envolvido, neste momento, num projeto cujo resultado poderá ser visto a olho nu -e, se der certo, significará uma das maiores inovações da história da cidade de São Paulo, com repercussão nacional.

Diretor do Instituto de Estudos Avançados, da USP, João Steiner foi convidado a desenvolver os parques tecnológicos no Estado de São Paulo, cada qual respeitando a vocação regional. Esses empreendimentos aproximam geograficamente universidade, centros de pesquisa e empresas -o mais famoso deles é o que gerou o chamado Vale do Silício, na Califórnia, que manteve os Estados Unidos na liderança das tecnologias de informação.

Como o parque tecnológico deve ficar nas imediações de uma universidade, João Steiner está defendendo que ele seja implantado na Ceagesp, uma área de 1.300 m2, o tamanho do parque Ibirapuera. Seriam desenvolvidas especialmente pesquisas associadas aos serviços. Isso significa uma imensa gama de atividades como saúde, engenharia, finanças, moda, até telecomunicação, design, passando por culinária. "Essa é a vocação paulistana."

Tão grande -ou até maior- que o eventual impacto das descobertas tecnológicas na economia é a remodelação urbana. Com suas frutas, flores e legumes, trazendo os poluidores caminhões, a Ceagesp significou uma deterioração de toda aquela região da cidade, próxima da USP, nos dois lados do rio Tietê -há por ali uma série de galpões abandonados e áreas desocupadas. "O parque tecnológico, atraindo empresas sofisticadas e empregos que exigem alta escolaridade, mudaria a paisagem urbana e humana do local."

Não é uma operação simples. Já está assinada a parceria entre o governo estadual e a prefeitura. José Serra garante que a inovação tecnológica -e, portanto, os parques- será uma prioridade em sua gestão, mas o terreno da Ceagesp pertence ao BNDES. A idéia, segundo Steiner, é levar a comercialização das frutas e verduras para uma área próxima ao Rodoanel, longe dos congestionamentos.

Já o BNDES, na visão dele, teria interesse na inovação tecnológica para a modernização econômica e aceitaria entrar de parceira. "É bom para todos", acredita Steiner. Faz sentido.

Não é preciso, porém, nenhum telescópio para ver o risco. Muitas vezes, a administração pública, especialmente quando envolve diferentes níveis de governo, tem mais buracos negros do que o universo, onde desaparecem as melhores idéias.

Parque Tecnológico será prioridade em governo tucano

Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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