REFLEXÃO


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pensata
25/09/2007

Como emprestar dinheiro ao diabo

"Quem dá aos pobres empresta a Deus", diz o ditado. Em certos casos, empresta mesmo ao Diabo: é o que se vê na cidade de São Paulo, onde há dois anos existe uma campanha estimulando as pessoas a não dar esmolas às crianças na rua. Esse dinheiro tem, de fato, efeitos diabólicos: 1) vicia a criança, dificultando que saia da rua; 2) alimenta quadrilhas de adultos; 3) sustenta a exploração infantil, que se assemelha ao trabalho escravo.

Desde que se iniciou a campanha, cujo slogan é "Dê mais que esmola. Dê Futuro", o número de meninos e meninas de rua que vivem ou trabalham nas ruas da cidade caiu em 54%, segundo levantamento que acaba de ser divulgado pela Fipe, uma fundação ligada à USP. É claro que, além de uma mudança na cabeça, ainda que pequena, de quem está acostumado a dar esmola para crianças, achando que faz o bem, há programas mais focados nas famílias e maior distribuição de renda aos mais pobres.

Por conta desses programas combinados com menos esmola, há mais crianças em atividades complementares à escola como contrapartida por terem saído da rua, sem contar o apoio às suas famílias --isso sim pode, quem sabe, tirá-las do vício de mendigar, no qual vivem os mais malignos riscos.

Não se ajudam os pobres com esmolas (nem as oficiais), mas com políticas públicas que estimulem o aprendizado e a geração de renda.

Coluna originalmente publicada na Folha Online, editoria Pensata.

   
 
 
 

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