"Quem
dá aos pobres empresta a Deus", diz o ditado.
Em certos casos, empresta mesmo ao Diabo: é o que se
vê na cidade de São Paulo, onde há dois
anos existe uma campanha estimulando as pessoas a não
dar esmolas às crianças na rua. Esse dinheiro
tem, de fato, efeitos diabólicos: 1) vicia a criança,
dificultando que saia da rua; 2) alimenta quadrilhas de adultos;
3) sustenta a exploração infantil, que se assemelha
ao trabalho escravo.
Desde que se iniciou a campanha, cujo slogan é "Dê
mais que esmola. Dê Futuro", o número de
meninos e meninas de rua que vivem ou trabalham nas ruas da
cidade caiu em 54%, segundo levantamento que acaba de ser
divulgado pela Fipe, uma fundação ligada à
USP. É claro que, além de uma mudança
na cabeça, ainda que pequena, de quem está acostumado
a dar esmola para crianças, achando que faz o bem,
há programas mais focados nas famílias e maior
distribuição de renda aos mais pobres.
Por conta desses programas combinados com menos esmola, há
mais crianças em atividades complementares à
escola como contrapartida por terem saído da rua, sem
contar o apoio às suas famílias --isso sim pode,
quem sabe, tirá-las do vício de mendigar, no
qual vivem os mais malignos riscos.
Não se ajudam os pobres com esmolas (nem as oficiais),
mas com políticas públicas que estimulem o aprendizado
e a geração de renda.
Coluna originalmente
publicada na Folha Online, editoria Pensata.
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