HOME | NOTÍCIAS  | SÓ SÃO PAULO | COMUNIDADE | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS


REFLEXÃO


Envie seu comentário

 

urbanidade
25/10/2006
Madrugada exótica

Pessoas saírem dos Jardins para ver o sol nascer no centro faz parte das mudanças da paisagem humana da região

Cacá Ribeiro está conseguindo atrair jovens acostumados às sofisticadas casas noturnas da Vila Olímpia e do Itaim para ver o sol nascer no centro da cidade. É uma rota bem distante para muitos daqueles baladeiros que, por terem nascido nos anos 80, quando aquela área já estava degradada, nem ao menos sabiam chegar direito à avenida São Luiz, com seus amplos e elegantes prédios. "Eles ficam deslumbrados, como se tivessem tomando contato com uma nova fronteira", afirma Cacá.

Com 44 anos, paulistano, Cacá fez várias experiências profissionais. Foi bailarino de dança contemporânea, ator, produtor teatral, estudante de direito e de literatura inglesa na PUC. Para sobreviver, começou a organizar festas especialmente para o universo da moda, sempre à procura de visuais alternativos. "Para muita gente, a região central tem um ar um tanto exótico."

Mas, para ele, o centro nada tinha de estranho. Nunca saíram de seus trajetos, muitas vezes feitos a pé, o sanduíche de pernil do Estadão, o pastel de bacalhau do Mercado Municipal, o pato com molho de amoras do Le Casserole -e a paisagem paulistana do alto do edifício Itália e as lojas da Galeria do Rock. Sabia que causariam impacto as festas que organizasse em lugares como o abandonado Cine Marrocos, a vazia Galeria Prestes Maia, o salão com imenso pé-direito em cima do restaurante Guanabara, dando vista para as fontes de água do vale do Anhangabaú. "Era um jeito de sair da mesmice."

Sempre, porém, eram ações episódicas, como se fossem safáris urbanos -tudo com proteção policial por todos os lados para não assustar os convidados. Até que lhe veio a proposta de entrar como sócio para abrir uma casa noturna. "Não queria mais um daqueles clubes das regiões mais ricas de São Paulo." Aceitou desde que pudesse abrir o negócio no centro. Sabia que estava desocupado o andar, na esquina da São Luiz com a Consolação, onde funcionava o disputado restaurante Paddock, fechado com a degradação da região, que levou muitos de seus clientes aos Jardins.

Em junho passado, nascia o bar-clube Royal, sob a suspeita de que a clientela mais exigente não desceria até lá. Não é o que, pelo menos até agora, está ocorrendo, a julgar pela lotação da casa. Foi a mesma suspeita, equivocada, quando abriram o Vegas, casa noturna implantada no meio da zona de prostituição da rua Augusta. Ou o clube Glória, na rua 13 de Maio, criado numa antiga igreja.

Pessoas saírem dos Jardins para ver o dia nascer no centro faz parte das mudanças da paisagem humana da região, com a abertura de espaços como o centro cultural Banco do Brasil, a Sala São Paulo e o Museu da Língua Portuguesa, além da reforma da Pinacoteca e da Estação Pinacoteca. Nas proximidades do Royal, apareceram mais dois novos teatros, um deles no Hotel Jaraguá e, outro, no edifício Itália, dedicado à dança.

Por causa do movimento do Royal, Cacá Ribeiro está ajudando voluntariamente a prefeitura a analisar a viabilidade e, quem sabe, apontar empresários, para recuperar um marco da boemia, agora abandonado: o bar Riviera.

Iniciativas que ajudam na recuperação do centro de São Paulo.


Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   
 
 
 

COLUNAS ANTERIORES
24/10/2006
As bobagens contra os paulistas
23/10/2006
Tudo azul
18/10/2006 A revolução dos bichos
16/10/2006
A vacina antiviolência
16/10/2006
Uma maravilhosa lição para os candidatos
16/10/2006
Colômbia dá exemplo para reduzir violência
16/10/2006
Prefeito "louco" mobilizou a sociedade
16/10/2006
Bogotá combinou repressão com urbanismo e educação
16/10/2006
Hoje, Sanchez mostra a jovens o que não fazer
16/10/2006
Medellín passou de capital da violência a laboratório da paz