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amigo da natureza
11/02/2005
Comerciante planta mudas de árvores em serra e quer cirar brigada ecológica

RIO DE JANEIRO (RJ) - Aos 62 anos, o comerciante João Braga tem fôlego de rapaz. Todos os domingos ele sobe a serra da Pedra Branca, na zona oeste do Rio, carregando perto de 25 quilos na mochila. A cerca de 300 metros de altura, prossegue em seu trabalho de reflorestamento. João já plantou mais de 1.200 mudas nos últimos dois anos, e agora quer criar uma brigada ecológica na região.

São ipês, uva japonesa, acácias rosa, ingás e jasmins manga. Mudas que ele compra, consegue através da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), do Instituto Estadual de Florestas ou com amigos. "As árvores frutíferas são mais sensíveis e precisam de sombra por isso não costumo plantá-las", explica.

Para Braga, morador de Realengo (zona oeste), maior do que o esforço físico é o que faz para conscientizar a população local da importância de preservar a região. "Isso é o mais difícil. Todo mundo acha linda a natureza no programa Globo Repórter e a palavra ecologia virou moda. Mas assumir um papel ativo, e não apenas o de espectador do trabalho alheio, isso ninguém faz", reclama.

Vale a pena viver
A idéia do reflorestamento surgiu quando Braga percebeu a degradação de uma região que fez parte de sua infância. "Sempre estive envolvido com o plantio. Meu pai tinha uma vacaria e eu costumava levar o gado para o morro, que naquela época era mata fechada. Eu tinha até algumas árvores preferidas, onde sempre me acostava para descansar", conta.

Adulto, seu contato com a natureza se restringiu aos momentos de lazer. "Comecei a mergulhar e viajei muito. Realizei até o sonho de ir a Fernando de Noronha, onde adotei uma tartaruga do Projeto Tamar, de proteção à espécie", conta.

Seu outro hobby é voar de ultraleve. "É justamente quando percebemos a natureza e nos damos conta de que fazemos parte dela que tenho a certeza de que vale a pena viver", diz. Depois de tantas viagens, ao voltar ao cenário de sua infância, Braga encontrou uma imagem desoladora. A invasão do gado, as queimadas, o desmatamento e o despejo de lixo mudaram inteiramente o lugar que ele conhecia.

"O pior está na mentalidade de muitos que acham que a preservação ambiental não é problema seu. Desta forma todos destroem e deixam destruir", fala.

Quando viu sua árvore preferida, uma mangueira centenária, coberta de cipó e quase morrendo, Braga percebeu que não podia ficar de braços cruzados. "Tudo estava diferente", lembra. Ele se deu conta de que, pertinho de sua casa, um lugar marcante em sua vida estava sendo destruído.

Antes que acabassem com tudo, ele passou do pensamento à ação. E depois de um ano e meio, viu o esforço parcialmente recompensado, com a recuperação da mangueira de sua infância.

Ação conjunta
Para tentar aumentar o número de mudas sobreviventes, que até agora não passa de cerca de 300, Braga chamou um amigo, o artista plástico e também morador de Realengo Ângelo José Ignácio, de 46 anos. Ângelo, por sua vez, chamou um terceiro companheiro, para juntos, acompanharem a subida da serra.

"Sozinho, Braga planta menos de dez mudas num dia, enquanto nós três plantamos 50. A produtividade aumenta muito quando tem mais gente. Enquanto um tira o capim seco que destrói as plantas nas queimadas, o outro cava o buraco em locais próximos à passagem de água e o outro planta. É essencial pensarmos numa ação maior", afirma Ângelo.

Essa ação maior é o projeto Brigada Ecológica João Braga - nome ainda em discussão porque a modéstia de João não o deixa à vontade com a homenagem – que recentemente foi encaminhado aos órgãos competentes.

A idéia é mobilizar a secretaria estadual de Educação e o Exército numa ação ecológica conjunta."Queremos entrar nas escolas para incentivar os jovens em questões ecológicas, colocando-os para trabalhar no tempo livre", diz o artista plástico.

Do Exército, eles querem as ferramentas para o plantio, uniforme e segurança de alguns soldados, "que formariam um pelotão ecológico", explica Ângelo. Até agora, só conseguiram resposta do Exército, que cedeu suas instalações na área para estocagem de mudas. Braga também já pediu autorização para o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para seu trabalho de reflorestamento.

"Ainda não consegui. Mas tenho certeza de que a situação anterior não era melhor do que a de hoje e por isso não vou ficar travado pela burocracia nem usá-la como desculpa para ficar vendo a destruição", afirma Braga.

Plantar árvores para quê?
Seu trabalho de formiguinha intriga muita gente. Dono de uma vidraçaria, membro do Lions Clube, da Maçonaria e da Câmara Comunitária de Realengo, e da Associação de Meio Ambiente de Bangu (Zona Oeste), Braga sempre arranja tempo e disposição para dedicar a seu esporte preferido: cultivar o verde.

"Alguns moradores daqui já vieram me perguntar para que eu plantava tantas árvores. Respondi que era para eles, seus filhos, netos e todo planeta", diz. É bem verdade que ele não guarda ilusões de salvar o mundo. "Tenho consciência de que sozinho não salvo nada, mas posso ajudar. Faço a minha parte. E prefiro perder meu tempo nesta luta do que em papo furado em botequim", explica.

O exemplo de Braga influenciou seu xará, o capixaba João Serafim, de 66 anos, que o conhece desde a juventude e admira o que ele faz. Criado na roça, Serafim faz bicos de capinagem em sítios da região e sua casa é um ponto de parada no trajeto de Braga morro acima.

"Acho muito bom todo esse trabalho. Procuro ajudar, fazendo o que aprendi com ele. Não corto árvore para pegar lenha, procuro as secas e tento preservar o máximo. Quando vejo alguém jogando lixo, eu reclamo. Se a gente não for cuidar do lugar onde vive, quem fará? Doido legal igual ao Braga não tem muitos", elogia Serafim.

O que atrapalha é o gado
Na casa de Serafim, Braga descansa, bebe água e joga conversa fora. Ali, ele também aproveita para guardar mudas. "É um momento agradável de rever amigos. Mas quanto à participação na preservação, diferente do que disse Serafim, acho que isso deve ser visto como obrigação de todos e não como mérito", acrescenta.

Ele já recebeu ameaças de pessoas que usavam o local como esconderijo e tinham envolvimento com criadores de gado. "Me disseram que eu estava me metendo numa área que devia continuar quieta e que o gado não deixaria de circular por ali. Mas como tenho tímpano furado, deixei o desaforo entrar por uma orelha e sair pela outra. Hoje eles ficam na deles e eu na minha", conta, rindo.

O que continua atrapalhando ainda é o gado. "Que come muitas mudas. Para evitar isso, tenho plantado ipê rosa - que nem as formigas cortadeiras e nem o gado gostam de comer - como barreira de proteção para outras mudas. E aproveito o que os bois deixam como adubo", acrescenta.

Tudo tem sido conquistado com muito esforço. O que Braga sabe sobre plantas aprendeu na prática: "Cresci vendo minha família lidar com a terra e com os animais e hoje ainda faço a manutenção do jardim da Igreja Nossa Senhora da Conceição, aqui em Realengo, num trabalho voluntário".

O amigo biólogo Antônio Barbas também dá dicas. "Sempre trocamos idéias. Foi ele, por exemplo, quem me falou da importância de se plantar leguminosas, para reter nitrogênio no solo deixando-o mais rico para o desenvolvimento das mudas", conta.

Nesse meio tempo, obras do governo do Estado sinalizam que o projeto de criação de um parque florestal naquela área, com banquinhos, caminhos e quadras, e espaço para atividades de lazer, começa a sair do papel.

"Esperamos que invistam também em atividades de educação ambiental e no reflorestamento da serra como um todo e não apenas para embelezar a entrada", diz Ângelo. Uma possível parceria nessa área poderia viabilizar a idéia de Braga de criar também ali um berçário de mudas.

"Assim não precisaríamos de doações e ainda se evitaria todo o transtorno com o transporte", diz Braga. Enquanto sonha com o Portal Norte inteiramente plantado e suas idéias continuam no papel, ele prossegue seu trabalho, com ou sem ajuda: "Só me arrependo de não ter começado antes".

As informações são do site Setor3.

 
 
 

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