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pensamento positivo
11/04/2005
Projeto promove humanização hospitalar por meio de jogo israelense

O grupo de voluntários do projeto Pensamento Positivo se reúne em frente ao Hospital Santa Cecília, no Centro de São Paulo, assim como todas as semanas. Depois de divididos os trios, eles partem para o trabalho. Um grupo, formado pela voluntária Selma Romeu, junto com as jovens estudantes Daiana Moura e Cristina Nardi, do Colégio Boni Consilli, tem a tarefa de levar um pouco de alegria e diversão para os pacientes do terceiro andar. Já os voluntários Sima Pajecki e Guilherme Grlifenhagtn, junto com a jovem Juliana da Silva, partem para o quinto andar. Num rápido bate-papo, as enfermeiras indicam os nomes dos pacientes que podem receber visitas e que, portanto, poderiam participar da atividade.

Sima entra no primeiro quarto, apresenta o grupo e o projeto, mas a paciente não está disposta a participar. Nada de desânimo. Eles, com toda a boa-vontade, chegam agora ao quarto do paciente Elias, que, na semana passada já havia topado participar da brincadeira. A ferramenta é simples e cabe dentro do bolso da voluntária: o jogo israelense Rummikub, que é fácil de aprender, e, ao mesmo tempo, por meio da análise combinatória de peças e números, os participantes treinam o raciocínio estratégico enquanto se divertem. É considerado um jogo que acalma e relaxa a tensão. A voluntária pergunta se Elias está disposto a jogar e a resposta não demora: "Claro". Sima ajuda Elias, enquanto jogam contra Juliana e Guilherme. Durante 20 minutos, Elias nem lembra das dores que sente. Nem mesmo o telefonema pode atrapalhar a partida. "Se for para mim, diga para ligar daqui a pouco", avisa.

Muito concentrado ele se entusiasma com cada peça boa comprada que serviria para uma ótima jogada. "Vou comprar uma poderosa agora", adverte. No final, Elias, assim como na semana passada, vence a partida. "Pode espalhar para todo mundo que eu sou o campeão dos campeões. Eu ganho mesmo, não dou moleza para ninguém", se diverte, ressaltando que até amenizou a dor enquanto jogava. "É um jogo que traz saúde mental para as pessoas. Até esqueço os problemas. É muito gratificante isso que vocês estão fazendo. Doar o seu tempo para as pessoas é lindo", fala para os voluntários. E já cobra deles a próxima edição do jornalzinho da entidade, que ele gostaria de estar entre os personagens. "Quero ver a minha foto lá", se diverte.

O grupo de voluntários se despede e já vai em busca de um novo jogador. No quarto em frente, Claudine, 21 anos, apesar de não gostar muito de jogos, topa participar também. Como esta é a primeira vez que a jovem vê as regras do jogo, a voluntária ajuda mais de perto, mas ela participa. "Foi bom porque eu me distraí", conta a paciente. No andar de baixo, a historia não é diferente. No quarto da senhora Marli, o jogo está bem animado. Luciana, que é acompanhante e nora de Marli, se diverte mais que a sogra na partida. É ela quem dá as dicas à paciente. "Por mim, eu ficava a tarde toda aqui jogando", conta. A partida termina e Marli é a campeã. "Eu ganhei?", admira-se ela, mas afirma que foi uma experiência muito gostosa.

E assim os voluntários continuam suas visitas pelos quartos até às 16h da tarde. Em todos os locais que chegam, se apresentam e animam os pacientes a participar, sempre olho no olho. Caso não haja interesse, não insistem. Mas sempre tem alguém disposto a jogar. São atendidos cerca de 10 pacientes por dia. A cada novo paciente, uma história interessante para contar. "Uma senhora com quem jogamos na outra semana, quando foi a nossa primeira vez aqui no hospital, ficou super contente. Ela foi super simpática e contou que jogava outras coisas com os netos também. Ela dizia assim: 'agora vocês vão ver só!. Eu vou ganhar'. Foi muito gostoso", conta Juliana, 15 anos. A voluntária Sima lembra ainda de um senhor que, na semana passada, gritava tanto que tinha ganhado, porque estava muito contente, que era possível escutá-lo até do corredor.

A proposta do projeto é justamente proporcionar o bem-estar aos adultos hospitalizados e diminuir o stress da relação paciente-hospital, por meio do bom humor, lazer, diversão e muita brincadeira. Ou seja, colabora com a recuperação de pacientes e com a humanização no ambiente hospitalar. "Já ficou muito claro que quando você desvia a atenção e o pensamento do paciente para outras coisas, para a alegria, não pensa na doença. Ele esquece e simplesmente brinca. Assim, ele entra com um quadro e sai com outro", destaca a coordenadora do projeto e psicóloga, psicopedagoga e psicomotricista Eva Strum.

Eva decidiu criar o projeto depois de ter vivenciado de perto uma situação em que observa nos hospitais sempre. Depois de seu pai ter sofrido uma cirurgia cardíaca, ele ficou muito deprimido. Para ajudá-lo a combater o desânimo, a psicóloga decidiu levar jogos para o hospital e brincar com ele. E os resultados foram muito bons. "As enfermeiras entravam no quarto e achavam o máximo isso. Resolvi então levar a proposta também para outras pessoas", conta. Mas a tarefa não foi tão fácil como a psicóloga imaginava.

Ela demorou mais de quatro anos para conseguir que o primeiro hospital, o 9 de Julho, abrisse as portas ao projeto. Tanto pela burocracia interna ou falta de entendimento da proposta do Pensamento Positivo, os hospitais não deixavam os voluntários começarem a fazer o seu trabalho. Mas, aos poucos, quando o grupo passou a trazer resultados e o projeto se tornou referência na área e temas de reportagens da imprensa, a situação mudou. Hoje, o Pensamento Positivo está em 11 hospitais e conta com, aproximadamente, 60 voluntários atuantes, que visitam os locais sempre às quintas-feiras, em diferentes horários (veja a relação abaixo).

E o trabalho parece não trazer somente benefícios para os pacientes. Os voluntários participantes garantem que o retorno é muito gratificante. "Eu fico imaginando que talvez, se eu estivesse no lugar deles, no hospital, eu nos mandaria embora. Mas não. Eles são super receptivos mesmo passando por estas dificuldades", ressalta a voluntária Selma, que participa do grupo desde outubro de 2004, e tem gostado bastante. "Eu me realizo vendo eles contentes", comenta Guilherme, que é integrante do projeto há um ano, e coordena o grupo de 15 voluntários do Hospital Evaldo Foz.

Até aqueles que chegaram há pouco tempo, como as alunas do Colégio Boni Consilli, que participam da ação há apenas um mês, estão motivadas pela iniciativa. Daiana diz que quer ajudar as outras pessoas, vendo-as felizes. A professora responsável pelas alunas, Maria Palmira Giovannelle, acha que esta é uma oportunidade única para os jovens colocaram para fora o bem que sentem dentro de si. "Percebo que eles são sedentos disso e querem participar. Quando os jovens se sentem capazes e vêem resultados do que fazem aqui no hospital, saem revigorados. Até mesmo a postura é diferente", destaca.

A novidade para este ano no projeto é o Coral formado, com a participação de 15 voluntários, que irá começar a visitar os hospitais, quinzenalmente, a partir do dia 1º de maio. A idéia é, mais uma vez, levar um pouco de alegria, agora por meio da música, aos pacientes.

Barreiras a enfrentar
Mas, manter os voluntários e conquistar novas pessoas dispostas a doar o seu tempo ao projeto, tem sido um dos obstáculos a sempre enfrentados por Eva. Ela conta que há uma rotatividade grande e, infelizmente, muitas pessoas ligam, pedem informações, mas na hora de ir ao hospital acabam não aparecendo. "Acredito que houve sim, no Ano do Voluntariado, em 2000, uma grande mobilização, mas isso acabou. As empresas deveriam permitir mais que os seus funcionários fizessem esse tipo de ação. Eles mesmos sairiam ganhando", acredita a terapeuta.

Conquistar financiamento também não é tarefa fácil para o grupo, principalmente porque o foco do projeto são adultos e não crianças. "As pessoas acham que o adulto não precisa de nada. Eles não doam mesmo. Parei até de pedir. Cansei", desabafa a idealizadora do projeto. Atualmente, o Pensamento Positivo conta com o patrocínio da Porto Seguro Seguros, para a compra dos aventais e jogos; da Grow Jogos e Brinquedos, para a compra do papel para o jornal do grupo; e da Yes!Brasil Comunicação, com a impressão e elaboração do jornal.

Participe: Seja um voluntário
Para participar como voluntário, basta ter mais de 18 anos e entrar em contato com o projeto. Os novos integrantes participam de uma reunião, em que são apresentadas as propostas da iniciativa, e os voluntários aprendem a como jogar o Rummikub. Depois, eles participam de um mês de experiência nos hospitais, com a supervisão da terapeuta. A próxima já está marcada para o dia 16 de abril. Os interessados em participar devem ligar para a coordenadora pelo telefone (11) 3667-7685 ou encaminhar um e-mail evastrum@ig.com.br. Informações no site: www.pensamentopositivo.ubbi.com.br

Hospitais em que o "Pensamento Positivo" está presente:

Hospital Bandeirantes
- Rua Galvão Bueno, 257, Liberdade - das 13h30 às 15h30
Hospital Brigadeiro - Av. Brig Luís Antônio, 2651, Jardim Paulista - das 14h às 16h
Hospital Cruz Azul - Av. Lins de Vasconcelos, 356, Cambuci - das 19h às 21h
Hospital Evaldo Foz - Av. Vereador José Diniz, 3.505, Campo Belo - das 10h às 12h
Hospital Nossa Sra. de Lourdes - Rua das Perobas, 344, Jabaquara - das 9h30 às 11h30
Hospital Metropolitano - Rua Marcelina, 441, Vila Romana - das 19h às 21h
Hospital Sepaco - Rua Vergueiro, 4210, Vila Mariana - das 13h às 15h
Hospital Santa Mônica - Estrada Santa Mônica, 864, Itapecerica da Serra - das 9h às 11h
Hospital Vila Mariana - Rua Azevedo de Macedo, 113, Vila Mariana - das 14h às 16h
Hospital Santa Cecília
- Pça. Marechal Deodoro, 151, Santa Cecília - das 14h00 às 16h
Hospital Regional de Osasco
- Rua Ary Barroso, 355, Osasco - das 13h às 17h

DANIELE PRÓSPERO
do site setor3

 
 
 

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