HOME | NOTÍCIAS | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
 

entrevista
17/01/2005
Paulistano fala sobre viagem que fará em barco feito de garrafas PET

Eduardo de Carvalho, 31 anos, vai passar três meses longe da esposa e da filha, ministrando palestras ecológicas ao longo do rio São Francisco. A empreitada, um tanto incomum para este administrador de empresas paulistano, será realizada a bordo do único barco no mundo construído a partir de garrafas PET e aprovado por um órgão competente –o Ministério da Marinha brasileiro.

A construção do barco foi uma idéia que Eduardo desenvolveu em conjunto com o engenheiro naval Marcos de Parahyba Campos. A embarcação possui 22 pés (cerca de sete metros) de comprimento e toda a parte inferior é formada por 2.040 garrafas PET que garantem a flutuação. A principal força motriz é eólica, mas existem as possibilidades de se utilizar remos e motor. Além disso, ele conta com GPS, (Posicionamento Global por Satélite), 24 cartas topográficas, rádio VHF, luzes de sinalização, bússola, buzina, dois extintores de incêndio, vela de reserva e completo equipamento de sobrevivência, entre outros.

A viagem começará em maio deste ano, no porto fluvial de Pirapora, Minas Gerais, e terminará três meses depois em Juazeiro, Bahia. Serão seis mil quilômetros, sendo 1371 navegando ao longo do rio e o restante por estrada, cruzando cinco estados (Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe), parques nacionais e diversas áreas de potencial turístico. Durante o trajeto, Carvalho fará palestras nas comunidades locais, sobre educação ambiental, uso racional da água, a importância da reciclagem de lixo e até mostrando brinquedos que podem ser feitos com garrafas PET. Em entrevista ao Cidadania-e, ele conta como foi transformar o ideal ecológico em um projeto consistente e quais as expectativas com relação a essa viagem.

Cidadania-e: Como surgiu seu interesse pela ecologia?
Eduardo de Carvalho:
Sempre gostei de esportes outdoor. Desde os meus 15 anos, nado em rios, pratico rapel e tudo quanto é tipo de atividade em contato com a natureza. Procurei aliar essa satisfação pessoal com a vontade de colocar em prática um projeto mais engajado socialmente, que tratasse das questões da preservação de espécies ameaçadas de extinção e das paisagens nas quais eu cresci e que aprendi a respeitar.

Cidadania-e: Quanto tempo levou para elaborar a viagem?
Eduardo de Carvalho:
Foram dois anos de pesquisa. O primeiro passo foi buscar informações sobre o rio São Francisco no que se refere à fauna e à flora, aspectos culturais, folclóricos e econômicos, além da navegabilidade. Depois de verificar que é possível navegar naquele espaço e ter um diálogo com as populações que moram próximas, aí sim eu parti em busca de um engenheiro naval que pudesse desenvolver um barco com garrafa PET dentro do padrão de segurança que eu queria. Nessa busca, encontrei o Marcos de Paraíba Campos, que é formado pela USP, um profissional gabaritado, que desenvolveu o projeto do barco.

Cidadania-e: E como foi a reação do engenheiro ao seu primeiro contato?
Eduardo de Carvalho:
Inicialmente, foi um espanto, que até é esperado, mas ele, como eu, é um entusiasta dessas atividades incomuns. Daí começamos a desenvolver o projeto. Entre a primeira reunião e o barco pronto na água, levou quase um ano.

Cidadania-e: Por que garrafa PET?
Eduardo de Carvalho:
Estava praticando rapel em Brotas, São Paulo, quando vi que no lago que se formava abaixo da cachoeira existiam várias garrafas PET flutuando. Aí me ocorreu um pensamento contraditório: por um lado, achei ruim elas estarem ali, uma vez que estão poluindo aquele lugar bonito; por outro lado, achei interessante no aspecto de elas flutuarem muito bem. Mesmo aquelas que estavam abertas ou inundadas de água não afundavam. Então eu pensei: “Está aí um material que foi feito especialmente para flutuar”.

Cidadania-e: Que tipo de apoio financeiro o senhor obteve para essa empreitada?
Eduardo de Carvalho:
A princípio, todo o custo desse projeto, desde a pesquisa até a construção do barco, saiu do meu bolso. A única parceria que estabeleci até agora foi a do site Webventure, que vai colocar as informações do dia-a-dia dessa expedição na seção de expedições. Por isso, neste ano de 2005, comecei a procurar desesperadamente por outras empresas parceiras que queiram colaborar com o projeto. As pessoas que estiverem interessadas poderão entrar em contato pelo e-mail projetomegapet@projetomegapet.com.br.

Cidadania-e: Quanto já foi investido?
Eduardo de Carvalho:
Esse dado eu ainda não posso revelar. Mas posso adiantar que espero contar com o apoio de empresas que comercializem produtos com algum vínculo com o projeto – desde protetor solar, produtos alimentícios e equipamentos, até fabricantes de garrafa PET. Acredito que o projeto tem um apelo que está em sintonia com um universo grande de ideais e valores ecológicos positivos.

Cidadania-e: Quantas pessoas vão viajar no barco de garrafa PET?
Eduardo de Carvalho:
O barco está aprovado pela Marinha Brasileira para suportar até dez pessoas, mas para essa viagem eu estipulei no máximo duas, por ser mais confortável, seguro e principalmente por apresentar um custo menor. O Ricardo Castilho vai me acompanhar a maior parte do tempo nessa viagem, só que em outro barco.

Cidadania-e: Durante o trajeto dessa viagem, existem trechos poluídos?
Eduardo de Carvalho:
Diversos. E é bom conceituar: um rio poluído pode parecer bonito, com cheiro relativamente agradável, e na prática estar contaminado, com água imprópria para o consumo ou uso doméstico. São diversos os trechos em que o rio está nesse estado – e eu estou preparado para não nadar nessas ocasiões.

Cidadania-e: Como o senhor se preparou para ministrar aulas de educação ambiental?
Eduardo de Carvalho:
Com relação às palestras, entrei em contato com a Abipet – Associação Brasileira da Indústria do PET, e também com o Compromisso Empresarial para a Reciclagemem (Cempre). Com relação à logística das palestras, o meu contato foi com as secretarias municipais de educação e cultura para agendar as palestras. Nós vamos passar por mais de 50 municípios. Não vamos fazer paradas em todos, mas o critério que estamos adotando é o das pausas que respeitem a logística de abastecimento da embarcação. Além das palestras, também estaremos desenvolvendo oficinas nas quais estaremos ensinando crianças a desenvolver brinquedos com garrafas PET. Essa medida, além de incentivar a reciclagem do material, pode ser um fator de renda familiar, porque os brinquedos produzidos poderão ser comercializados como um artesanato local.

Cidadania-e: Quais as suas expectativas?
Eduardo de Carvalho:
Levar a mensagem ecológica para o maior número de pessoas possível. O projeto já vem alcançando uma divulgação interessante, e vem chamando a atenção para esse conteúdo. Quando se fala de lixo e poluição, as pessoas pensam na poluição industrial, que é um grande problema, mas que é tão grave quanto o problema do lixo doméstico. Também quero desmistificar a idéia de que o principal vilão da poluição de PET do Brasil é o fabricante de garrafa. O usuário que faz o consumo do PET e depois o joga no meio ambiente também tem parcela de responsabilidade. Então, a idéia é passar para as pessoas que por meio de pequenos gestos é possível minimizar esse problema.


AMANDA VIEIRA
da Fundação Banco do Brasil

 
 
 

NOTÍCIAS ANTERIOreS
17 /01/2005
Trabalho é fruto de pesquisa
21/12/2004 Projeto de Ostreicultura fará primeira coleta em fevereiro
21/12/2004
ONG incentiva a ação de dentistas voluntários
21/12/2004 Analfabetismo é erradicado em Itarema
20/12/2004 Dentista conta o que encontrou pelas rodovias do Brasil
20/12/2004 Aposentados e pensionistas poderão fazer faculdade com mensalidade simbólica
17/12/2004 Tânia Fisher fala sobre o poder das organizações locais
16/12/2004 Prêmio dará até US$ 100 mil para ONGs atentas à construção sustentável
16/12/2004 Distribuição de presentes e música alegram crianças hospitalizadas
15/12/2004 Escola vira galeria modernista