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Criatividade
22/11/2004

Professora ensina amor pela leitura vestindo fantasias

RUSSAS (CE) - Débora Santiago nem pensava em ser professora, mas foi a oportunidade que a vida lhe deu. E que oportunidade! “Eu descobri que aquilo que eu estava procurando, que eu estava tentando encontrar, estava ali, na sala de aula".

Ela descobriu também como é difícil aprender quando se vive na miséria. "Porque quando a gente vem para a aula, vem com fome", afirma Edineide Pereira, 9 anos.

Edineide não conseguia prestar atenção às aulas de barriga vazia. E não é era a única. Mas a professora ensinou que a solidariedade é capaz de matar a fome. "Um dá um quilo de arroz, outro dá outra coisa, até formar uma cesta e a gente leva para aquela criança", diz.

A boa vontade alimentou o futuro de Edilene. "Se a gente comer, dá vontade de brincar, estudar, escrever."

Dá até vontade de ficar mais bonita. "Eu vinha com a roupa rasgada e tinha vergonha dos meus coleguinhas”, conta Marilei dos Santos, 9 anos. Não tem mais, com ajuda da professora.

Bem vestidos e bem alimentados, os alunos aprendiam a ler com mais facilidade, mas ainda não se interessavam pela leitura. Portanto, não era o bastante para Débora. Por isso, ela separou algumas peças de roupa e, com elas, fez uma fantasia para despertar a fantasia das crianças.

Nos últimos meses, Débora foi o caipira Pedro Malazarte, depois a Menina dos Cachinhos de Ouro e, agora, Chapeuzinho Vermelho.

Não dá para tirar os olhos de uma professora vestida como os personagens dos livros que ela sempre deixa à vista – e se ouvir uma história é bom, ler é melhor ainda. "Os personagens, eu imagino que sou eu, fico imaginando as coisas", conta Tamires Oliveira, estudante.

Os alunos montaram o “Clubinho da Leitura”, aprendem a declamar poesias e estão ensaiando “As Borboletas”, de Vinícius de Moraes.
Talvez esses alunos nunca escrevam poemas. Mas, o amor pelos livros, eles não vão esquecer. “Só um que aprenda já é muito gratificante o trabalho, isso que estou fazendo”, resume Débora.

Uma vida que faz todo o sentido. É isso mesmo que vale à pena. Não importa o salário que se recebe em troca, como ensinou a gigante dona Luizinha.
Importa saber ouvir. Porque é só assim que se aprende e foi depois dessa lição que a professora Eliane começou a dar aulas de solidariedade.

Nunca falta espaço, dinheiro ou a oportunidade, quando existe alguém determinado a fazer.

Ângela, Raquel, Débora. Quantas outras mestras a gente poderia homenagear. Pessoas anônimas, sim, mas que não passam simplesmente pela vida. Elas fazem a maior diferença.


CÉSAR MENEZES
da Rede Globo

 
 
 

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