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mercado de trabalho
28/02/2005
Incubadora de Cooperativas transformam comunidades de baixa renda

Há dez anos, Leandro Farias foi um dos primeiros alunos da Escola de Informática e Cidadania (EIC) do morro dos Macacos, no bairro de Vila Isabel, Rio de Janeiro. Iniciativa do Comitê para Democratização da Informática (CDI), a escola ofereceu a ele e a outros jovens que já passaram por lá uma oportunidade para se aperfeiçoarem e para entrarem no mercado de trabalho por meio do mundo da tecnologia.

Com capacitações em softwares e hardwares, estímulo ao empreendedorismo e incentivo à conquista da autonomia, a EIC acolhe seus alunos e lhes dá ferramentas para enfrentarem as desigualdades sociais. Hoje, com 24 anos, Leandro é sócio-fundador e atual diretor-presidente da Dinamicoop – Cooperativa Prestadora de Serviços em Informática, Artes Gráficas e Consultoria, formada por moradores do morro dos Macacos. Criada em julho de 2003, a Dinamicoop, assim como ocorreu com seu diretor há uma década, também vem recebendo apoio para, daqui a algum tempo, trilhar sozinha seu caminho.

A entidade é, desde março de 2004, uma das 13 cooperativas atualmente abrigadas na Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A ITCP nasceu em 1995, durante as discussões sobre qual seria o papel das universidades no combate à pobreza. Por sugestão da Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia (Coppe) da UFRJ, decidiu-se adaptar o conceito de incubagem, normalmente aplicado a empresas recém-criadas, para trabalhar com cooperativas populares.

“A idéia não era somente oferecer um curso de cooperativismo, mas uma assistência continuada. Ao contrário de incubadoras tradicionais, nosso público é formado por pessoas excluídas. Precisamos mobilizar, organizar e qualificar os grupos com os quais trabalhamos”, ressalta Gonçalo Guimarães, coordenador e criador da ITCP. O primeiro desafio da incubadora foi revitalizar as comunidades em torno da Fundação Oswaldo Cruz, no bairro carioca de Manguinhos.

O sucesso da iniciativa levou as instituições criadoras da ITCP a disseminarem a metodologia para outras universidades do país. Em 1997, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a Fundação Banco do Brasil, o Banco do Brasil e a Coppe criaram o Programa Nacional de Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (Proninc). Após um período de inatividade, o Proninc foi retomado em 2003 e atualmente está presente em 33 universidades públicas e particulares do país. Segundo números da Fundação Banco do Brasil, estas incubadoras trabalham com 350 cooperativas formadas por cerca de oito mil pessoas. “O apoio do programa se dá pelo repasse de recursos às incubadoras”, explica Rodrigo da Fonseca, analista de projetos da Finep e responsável pelo Proninc. “Elas, por sua vez, mobilizam pessoas em comunidades de baixa renda para que formem cooperativas ou auxiliem grupos já estabelecidos.”

Cooperativas e incubadoras
“Sem dúvida usamos muito da experiência da ITCP em trabalhar com cooperativas populares. A ajuda em áreas como jurídica, contábil e administrativa são importantes”, declara Leandro Farias, da Dinamicoop, formada no momento por 48 sócios cooperativados. “Nossa missão é criar oportunidades de trabalho para a garotada da comunidade. Os atuais alunos da EIC têm potencial para serem futuros sócios. Temos que criar fontes de renda que sejam alternativas ao tráfico”, observa.

Criar laços de solidariedade entre seus integrantes e gerar trabalho e renda para a transformação da realidade. Estes são objetivos de qualquer cooperativa popular. Suas incubadoras devem “ajudá-las a realizar um negócio economicamente viável, do ponto de vista financeiro e do ponto de vista dos trabalhadores. Não se pode adotar qualquer tecnologia, deve-se observar a realidade da comunidade”, diz Rodrigo da Fonseca. “Houve um caso, em uma cooperativa de 40 catadores de lixo, no qual foi sugerida a compra de uma máquina para aumentar a produtividade. No entanto, para operar a máquina eram necessários apenas dois catadores”, conta.

“A cooperativa é a única forma de organização que reúne os conceitos de associação e empresa. É uma forma de buscar uma saída coletiva. Além disso, entendemos que a cooperativa é a forma com maior potencial para transformar uma comunidade”, afirma Gonçalo Guimarães, da ITCP.

Metodologia bem-sucedida
A Fundação Banco do Brasil tem planos para ampliar o Proninc. No recente Diálogo de Fundações, o programa foi uma das propostas apresentadas às fundações européias. “Vamos tentar mais parcerias para interiorizar o Proninc”, diz Jorge Streit, diretor da área de Geração de Trabalho e Renda da Fundação. “A maioria das incubadoras está em universidades federais, nos grandes centros. Queremos incubadoras em universidades estaduais, escolas técnicas e escolas agrícolas.” Outros projetos apoiados pela Fundação, como as minifábricas de castanha de caju e a cadeia produtiva dos recicláveis, são beneficiados pelo Proninc. Seus integrantes formaram cooperativas auxiliadas por incubadoras do programa. “Isso é bom, pois cria sinergia entre as ações, o que ajuda a torná-las viável”, comemora Streit.

A metodologia desenvolvida pela Coppe/UFRJ é única no mundo. “Integramos duas redes internacionais de incubadoras e não há nada parecido. Em breve, equipes do Uruguai e de Angola vêm para o Brasil para iniciar a implantação da metodologia em seus países”, revela Gonçalo Guimarães. “É algo que desperta muito interesse - interesse e reconhecimento”, enfatiza. Em 2000, o Banco Mundial (Bird) e a Fundação Getúlio Vargas elegeram a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares como uma das dez melhores experiências nacionais de combate à pobreza. Em 2004, a ITCP foi uma das 15 selecionadas, entre 200 incubadoras de diversos países em desenvolvimento, para receber recursos do programa InfoDev (Information for Development), do Bird. Entre todas as concorrentes, a ITCP era a única a não trabalhar com empresas.

IVAN KASAHARA
do site da Fundação Banco do Brasil

 
 
 

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