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Há dez anos, Leandro Farias
foi um dos primeiros alunos da Escola de Informática
e Cidadania (EIC) do morro dos Macacos, no bairro de Vila
Isabel, Rio de Janeiro. Iniciativa do Comitê para Democratização
da Informática (CDI), a escola ofereceu a ele e a outros
jovens que já passaram por lá uma oportunidade
para se aperfeiçoarem e para entrarem no mercado de
trabalho por meio do mundo da tecnologia.
Com capacitações em softwares e hardwares, estímulo
ao empreendedorismo e incentivo à conquista da autonomia,
a EIC acolhe seus alunos e lhes dá ferramentas para
enfrentarem as desigualdades sociais. Hoje, com 24 anos, Leandro
é sócio-fundador e atual diretor-presidente
da Dinamicoop – Cooperativa Prestadora de Serviços
em Informática, Artes Gráficas e Consultoria,
formada por moradores do morro dos Macacos. Criada em julho
de 2003, a Dinamicoop, assim como ocorreu com seu diretor
há uma década, também vem recebendo apoio
para, daqui a algum tempo, trilhar sozinha seu caminho.
A entidade é, desde março
de 2004, uma das 13 cooperativas atualmente abrigadas na Incubadora
Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A ITCP nasceu em 1995, durante
as discussões sobre qual seria o papel das universidades
no combate à pobreza. Por sugestão da Coordenação
dos Programas de Pós-graduação de Engenharia
(Coppe) da UFRJ, decidiu-se adaptar o conceito de incubagem,
normalmente aplicado a empresas recém-criadas, para
trabalhar com cooperativas populares.
“A idéia não era
somente oferecer um curso de cooperativismo, mas uma assistência
continuada. Ao contrário de incubadoras tradicionais,
nosso público é formado por pessoas excluídas.
Precisamos mobilizar, organizar e qualificar os grupos com
os quais trabalhamos”, ressalta Gonçalo Guimarães,
coordenador e criador da ITCP. O primeiro desafio da incubadora
foi revitalizar as comunidades em torno da Fundação
Oswaldo Cruz, no bairro carioca de Manguinhos.
O sucesso da iniciativa levou as instituições
criadoras da ITCP a disseminarem a metodologia para outras
universidades do país. Em 1997, a Financiadora de Estudos
e Projetos (Finep), a Fundação Banco do Brasil,
o Banco do Brasil e a Coppe criaram o Programa Nacional de
Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (Proninc).
Após um período de inatividade, o Proninc foi
retomado em 2003 e atualmente está presente em 33 universidades
públicas e particulares do país. Segundo números
da Fundação Banco do Brasil, estas incubadoras
trabalham com 350 cooperativas formadas por cerca de oito
mil pessoas. “O apoio do programa se dá pelo
repasse de recursos às incubadoras”, explica
Rodrigo da Fonseca, analista de projetos da Finep e responsável
pelo Proninc. “Elas, por sua vez, mobilizam pessoas
em comunidades de baixa renda para que formem cooperativas
ou auxiliem grupos já estabelecidos.”
Cooperativas e incubadoras
“Sem dúvida usamos muito da experiência
da ITCP em trabalhar com cooperativas populares. A ajuda em
áreas como jurídica, contábil e administrativa
são importantes”, declara Leandro Farias, da
Dinamicoop, formada no momento por 48 sócios cooperativados.
“Nossa missão é criar oportunidades de
trabalho para a garotada da comunidade. Os atuais alunos da
EIC têm potencial para serem futuros sócios.
Temos que criar fontes de renda que sejam alternativas ao
tráfico”, observa.
Criar laços de solidariedade
entre seus integrantes e gerar trabalho e renda para a transformação
da realidade. Estes são objetivos de qualquer cooperativa
popular. Suas incubadoras devem “ajudá-las a
realizar um negócio economicamente viável, do
ponto de vista financeiro e do ponto de vista dos trabalhadores.
Não se pode adotar qualquer tecnologia, deve-se observar
a realidade da comunidade”, diz Rodrigo da Fonseca.
“Houve um caso, em uma cooperativa de 40 catadores de
lixo, no qual foi sugerida a compra de uma máquina
para aumentar a produtividade. No entanto, para operar a máquina
eram necessários apenas dois catadores”, conta.
“A cooperativa é a única
forma de organização que reúne os conceitos
de associação e empresa. É uma forma
de buscar uma saída coletiva. Além disso, entendemos
que a cooperativa é a forma com maior potencial para
transformar uma comunidade”, afirma Gonçalo Guimarães,
da ITCP.
Metodologia bem-sucedida
A Fundação Banco do Brasil tem planos para ampliar
o Proninc. No recente Diálogo de Fundações,
o programa foi uma das propostas apresentadas às fundações
européias. “Vamos tentar mais parcerias para
interiorizar o Proninc”, diz Jorge Streit, diretor da
área de Geração de Trabalho e Renda da
Fundação. “A maioria das incubadoras está
em universidades federais, nos grandes centros. Queremos incubadoras
em universidades estaduais, escolas técnicas e escolas
agrícolas.” Outros projetos apoiados pela Fundação,
como as minifábricas de castanha de caju e a cadeia
produtiva dos recicláveis, são beneficiados
pelo Proninc. Seus integrantes formaram cooperativas auxiliadas
por incubadoras do programa. “Isso é bom, pois
cria sinergia entre as ações, o que ajuda a
torná-las viável”, comemora Streit.
A metodologia desenvolvida pela
Coppe/UFRJ é única no mundo. “Integramos
duas redes internacionais de incubadoras e não há
nada parecido. Em breve, equipes do Uruguai e de Angola vêm
para o Brasil para iniciar a implantação da
metodologia em seus países”, revela Gonçalo
Guimarães. “É algo que desperta muito
interesse - interesse e reconhecimento”, enfatiza. Em
2000, o Banco Mundial (Bird) e a Fundação Getúlio
Vargas elegeram a Incubadora Tecnológica de Cooperativas
Populares como uma das dez melhores experiências nacionais
de combate à pobreza. Em 2004, a ITCP foi uma das 15
selecionadas, entre 200 incubadoras de diversos países
em desenvolvimento, para receber recursos do programa InfoDev
(Information for Development), do Bird. Entre todas as concorrentes,
a ITCP era a única a não trabalhar com empresas.
IVAN KASAHARA
do site da Fundação Banco do Brasil
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