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comemoração
29/04/2005
Quimioteca tem participação ativa de voluntários

Camila Bellini, 11 anos, gosta muito de poesia. Na companhia dos livros, e, principalmente dos jovens voluntários contadores de história do Projeto Palavras Voadoras, da Fundação Orsa, ela pode usar a sua imaginação e esquecer, por uns momentos, as dificuldades de enfrentar a quimioterapia. "Prefiro quando eles me contam a história porque, às vezes, eu não entendo muita coisa sozinha. Sem contar que eu leio muito devagar. É mais gostoso com eles aqui. Se não tivesse essas atividades, seria muito chato", conta a adolescente, que convive com a doença desde 2002.

Mas ali, no espaço da Quimioteca, instalada no hospital do GRAACC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer), ela encontra um grupo disposto a ajudá-la no que for preciso. O espaço, de 300 m2 no segundo andar do hospital, completa neste mês de abril um ano de atendimentos dedicados ao resgate da auto-estima à garantia do direito da criança e do adolescente com câncer a um tratamento adequado. Nesse primeiro ano, 2.767 crianças e adolescentes foram atendidos na Quimioteca por uma equipe de 14 enfermeiras, entre outros profissionais como psicólogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e endocrinologistas que acompanham os tratamentos.

O espaço foi concebido com a proposta de tornar a quimioterapia o menos traumática possível. Repleta de cores, brinquedos e livros, a Quimioteca pouco lembra um ambiente hospitalar. A idéia do projeto surgiu após a constatação que havia uma quebra no processo de tratamento quando as crianças paravam de brincar na brinquedoteca, enquanto aguardavam serem chamadas, e iam para a quimioterapia. "Muitos acabavam chorando ao ir ao tratamento porque era um ambiente hospitalar normal. Além disso, o tratamento é muito desagradável e doloroso para elas. Por isso, resolvemos reformar todo o local da quimioterapia e criar um espaço novo, incorporando a questão do brincar, favorecendo o riso e o bem-estar", comenta Ione Queiroz, coordenadora da Quimioteca.

Foram investidos pela Fundação Orsa mais de R$ 400 mil na Quimioteca, que hoje disponibiliza 31 postos - sendo poltrona ou cama para o paciente e cadeira para o acompanhante - garantindo atendimento individualizado, duas salas de coleta de sangue e sala especial para pacientes transplantados. No espaço, não há apenas o olhar médico sobre a doença, mas o lúdico permeia todo o tratamento. Hoje, na Quimioteca é possível encontrar um amplo material pedagógico ideal para cada criança e adolescente, de acordo com a fase de desenvolvimento em que se encontra.

Maristela do Carmo Freire, ludotecária da Quimioteca, explica que para os bebês são entregues brinquedos que trabalham a questão motora e sensitiva. Já para os de dois a seis anos, a idéia é estimular o lado da fantasia e da afeição, e, de sete anos em diante, jogos de estratégia. Ou seja, no espaço, é possível encontrar desde bonecas, carrinhos, jogos e até vídeos e walkman. O objetivo, garante Maristela, é entreter e fazer com que o tempo em que os pacientes fiquem no tratamento seja menos doloroso e passe de maneira mais tranqüila. "Há diversos estudos que já comprovam que o brinquedo é importante para o desenvolvimento das crianças porque é um meio de expressão", comenta. Prova disso são os kits médicos, que fazem o maior sucesso com as crianças. "O interessante é que elas podem vivenciar o papel do outro, no caso o do médico. Isso faz com que elas lidem melhor com a realidade".

Geuza Lima de Carvalho, mãe de Nicolas, 5 anos, que faz o tratamento no GRAAC desde 2003, conta que com este trabalho o filho se distrai, já que não tem o costume de dormir durante o tratamento, e não fica tão inquieto na poltrona como antes. "Tudo vem até ele, e isso é muito bom. Até eu me surpreendi com os livros que tem aqui. Vou aproveitar e contar historias para ele em casa também", explica, enquanto Nicolas acaba de se divertir com o livro "Parece, mas não é", em que a criança tem de descobrir do que é feito realmente cada objeto do livro. Mesmo parecendo um pouco desatento enquanto o jovem voluntário Thyago Bastos de Oliveira, 18 anos, mostra o livro-brinquedo, ele sabe muito bem dizer o que mais gostou. "É aquele carro ali", aponta rindo, enquanto se lambuza com o pirulito entregue pelos voluntários do local.

Assim como Thyago, outros quatro jovens, de 18 a 24 anos, em situação de risco social, visitam a Quimitoeca todas as terças e quartas-feiras, das 14h às 15h30, para contar histórias às crianças e aos adolescentes que fazem o tratamento no local. Os jovens participaram de um curso formação de 20 horas, em que foram abordados, entre outros assuntos, a origem e funções das histórias, seleção de acervo, como ler livros que abordam temas difíceis, como a morte, as reações dos leitores durante o processo de leitura, entre outros assuntos. São mais de 200 livros infanto-juvenis dos mais variados gêneros, desde poesia, suspense, aventura, terror e humor à disposição para as crianças e adolescentes.

Segundo Ilan Ibrenman, coordenador do Palavras Voadoras, a aproximação dos pacientes com as histórias tira o foco da dor e do medo e leva os leitores para um mundo de imaginação onde ele pode se sentir melhor e sorrir. "Na hora do tratamento, a criança e o adolescente têm o seu desejo diminuído, não pode optar muito porque ela está ali para se tratar. No entanto, no momento da leitura, ela pode desejar. Ela pode optar o que quer ouvir de história, como ouvir e imaginar", comenta. Ilan destaca ainda que o trabalho tem um caráter educativo, tanto para os voluntários - muitos já foram encaminhados para faculdades, depois de participarem do projeto - quanto para os pacientes, pois os aproxima da leitura, aumentando o repertório verbal e desenvolvimento cognitivo. Prova disso são os pequenos pacientes que já querem ler sozinhos, sem a ajuda dos contadores, e ainda despertaram o interesse pela leitura em casa.

O jovem Ulisses Eduardo Bastos, 23 anos, conta que os pacientes já reconhecem os voluntários do Palavras Voadoras e pedem sempre para que eles contem uma nova história. Ele lembra que, principalmente as crianças, se divertem durante a leitura, interagem e, muitas vezes, pedem para ler mais de um livro. "Se deixar, elas ficam horas e horas ouvindo", conta o voluntário, lembrando também os momentos difíceis enfrentados neste um ano de atividade. "A gente tem que lidar com a morte o tempo todo. Às vezes, ficamos baqueados quando alguma criança que contamos história não está mais na semana seguinte porque faleceu. Mas também ficamos forte. Damos muito mais valor às coisas que temos".

Por isso, não são somente os pacientes que se beneficiam com o projeto. Thyago, que já participava de um grupo de contadores de história antes de atuar no hospital, lembra que no início o grupo estava receoso, já que o ambiente hospitalar sempre é visto por um lado somente negativo. No entanto, hoje, conta que aprendeu muito com o trabalho e se recorda de momentos marcantes. Ele lembra de uma garota, de 12 anos, para qual leu em uma de suas idas à Quimioteca, que era deficiente visual. "Ela passou a tocar o meu rosto para ver seu eu fazia parte da história. Ela dizia como eu era pelo tom da minha voz. A garotinha entrou de corpo e alma na história. Eu fiquei muito emocionado com a força de vontade que ela tinha", conta. O jovem destaca que fica muito contente quando a criança começa a sorrir por causa de uma história e o reflexo é sentido também na nova postura da mãe, que também se sente melhor e mais disposta.

E dar apoio aos familiares que acompanham os pacientes durante o tratamento de quimioterapia também é um dos compromissos dos 61 voluntários que atuam nesta área dentro do hospital, todos os dias, até mesmo aos fins de semana, em três turnos. Os voluntários trabalham bem integrados com a equipe de enfermagem, seguindo as normas, a ética e a seriedade necessárias para ajudar os pacientes. Eles fazem de tudo um pouco, desde receber o paciente no local, além da higienização dos travesseiros, até servir o lanche ou acompanhar o pequeno paciente, enquanto o familiar precisa se ausentar por alguns momentos. Essa é uma prática que existe no GRAAC há mais de 14 anos, quando a entidade não era ainda hospital.

Jurema Cyrino Ernesto, mãe da paciente Camila, conta que esse apoio das voluntárias é fundamental para ela, principalmente nos momentos em que precisa de uma palavra de consolo. Ela destaca ainda a importância das atividades desenvolvidas na Quimioteca para o tratamento da filha. "A Camila sente muito o tratamento porque a gente entra aqui e não tem hora para sair. Ela queria estar em casa, com os irmãos, brincando. Mas, na Quimioteca, ela tem esse apoio que precisa. Às vezes até mais do que em casa, porque sempre tem alguém disposto a brincar com ela. É muito bom", comenta.

A voluntária Odete Mazzoni Persinotti, 60 anos, que coordena o grupo de voluntários, e está no GRAAC há mais de 10 anos, garante que é recompensadora a dedicação aos pacientes e seus familiares, principalmente pela força e garra que eles demonstram em momentos difíceis como este. Ela está na Quimioteca quase todos os dias e nunca tem hora para sair, pois se envolve tanto com o trabalho que não vê a hora passar. "Isso já faz parte da minha vida e não consigo me imaginar longe do voluntariado. Aprendi lições de vida aqui que eu não teria aprendido em lugar nenhum. Eu admiro muito a coragem destes pais", comenta Odete, lembrando que ser voluntário não é doar apenas aquele tempo que sobra, mas sim, doar aquele tempo que não tem. "É amor ao próximo mesmo".

Agora, de acordo com a coordenadora da Quimioteca, a Fundação Orsa e o GRAACC estão se dedicando a construir indicadores e metodologia para mensuração dos resultados conquistados neste primeiro ano de trabalho. Em 2005, a Fundação tem ainda a proposta de replicar a Quimioteca em outros lugares do país, mas, para isso, busca novos parceiros. Alguns profissionais de outros países e estados brasileiros já passam pelo GRAACC para acumular conhecimento e adaptar a experiência da Quimioteca nos hospitais que tratam pacientes com câncer. Exemplo é a Drª. Rita de Cássia Matos Carneiro, profissional do corpo médico do Hospital Ofir Loyola, de Belém, no Pará, que há três anos faz especialização em oncohematologia pediátrica no GRAACC e vai levar o conceito da Quimioteca para Belém.


Serviço:

Quimioteca no GRAACC (Grupo de Apoio ao Adolescente e à Criança com Câncer)
Endereço: Rua Botucatu, nº 743, Vila Mariana, São Paulo
Telefone: (11) 5080-8400
Site: www.graacc.org.br
E-mail: graacc@graacc.org.br

DANIELE PRÓSPERO
do site setor3

 
 
 

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