HOME | NOTÍCIAS | COLUNAS | SÓ SÃO PAULO | CIDADÃO JORNALISTA | QUEM SOMOS
 
união
29/04/2005
Uso da terra promove resgate da dignidade

A luta pela demarcação da terra das tribos indígenas não consiste apenas na manutenção de sua cultura e modo de vida. É também uma luta pela sobrevivência. O uso adequado da terra e o manejo sustentável das florestas são alternativas viáveis para geração de renda e, principalmente, subsistência das tribos indígenas. Conciliar os novos tempos com as tradições seculares dos índios é o desafio das instituições federais responsáveis pelas políticas indígenas e também das organizações não-governamentais que atuam junto às tribos.

Almir Surui, cacique e coordenador da Cunpir (Coordenação da União das Nações e Povos Indígenas de Rondônia, norte do Mato Grosso e sul do Amazonas), aponta que é possível conciliar tradição indígena e tecnologia no uso sustentável da terra. “Os povos indígenas trabalham com variadas culturas, mas não há tecnologia para produzir muito. Acreditamos que com novas práticas será possível melhorar a qualidade e quantidade dos produtos. Hoje, a maioria da população indígena trabalha apenas com a produção de farinha“, explica.

Como integrante do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), um fórum de discussões e propostas sobre questões indígenas, ele acredita poder fortalecer as políticas públicas indígenas. Surui considera que muitos dos problemas que atingem os índios são resultados da demora na demarcação das reservas. “O caso de desnutrição, no Mato Grosso, é conseqüência de índios sem terra, com pouca terra para produzir, o que não garante a subsistência.” Desde o início do ano, no Mato Grosso, já ocorreram 21 mortes por doenças decorrentes da desnutrição entre crianças das aldeias indígenas.

Hoje, os índios representam apenas 0,2% da população brasileira, mas à época das Grandes Navegações, nos idos de 1500, a “História” era outra. Embora não se saiba exatamente quantas tribos indígenas existiam no Brasil, há estimativas de que a população indígena varia em torno de um a dez milhões de indivíduos.

De acordo com dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), no Brasil vivem cerca de 430 mil índios. As informações referem-se aos indígenas que vivem em aldeias, calcula-se que, além destes, existam entre 100 e 190 mil vivendo fora das terras indígenas, em centros urbanos.

Eles estão distribuídos entre 215 sociedades indígenas, utilizando em torno de 180 línguas diferentes. Há também indícios da existência de cerca de 53 grupos ainda não-contatados. Segundo a Funai, mais da metade da população indígena está localizada nas regiões Norte e Centro-Oeste.

A presença de índios na Amazônia é expressiva, cerca de 10% das etnias e da população indígena atual do país estão naquela região. É lá que funciona o Programa Rio Negro, da organização não-governamental Instituto Socioambiental (ISA), que tem como objetivo formular e implantar um programa regional de desenvolvimento sustentável indígena na bacia do Rio Negro, no noroeste da Amazônia brasileira.

Em 1990, o ISA estabeleceu parcerias com organizações locais e comunidades indígenas, especialmente com a Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) para desenvolver ações na região. Uma delas é o Programa Rio Negro que tem duas frentes de atuação: o manejo sustentável de recursos naturais compreendendo os rios Tiquié, Uaupés e Içana, e a piscicultura.

Os projetos têm objetivos comuns: multiplicar modelos sustentáveis de aproveitamento de recursos agroflorestais e aquáticos, aliando conhecimentos tradicionais e conhecimentos técnicos adaptados. O manejo agroflorestal está focado nas plantações experimentais de arumã (da qual se extrai fibra para produção de objetos de uso doméstico), no plantio de mudas e na construção de viveiros que irão alimentar os peixes.

A segunda frente, de piscicultura, conta com três estações onde acontece a reprodução de peixes de espécies nativas e a distribuição de alevinos para uma rede de viveiros familiares. “Ao contrário do que se pode imaginar, nem todos os rios da bacia amazônica são ricos em peixes. É o caso do noroeste amazônico, do qual faz parte a bacia do Alto Rio Negro onde a diversidade é alta, mas a quantidade de peixes é limitada“, esclarece Beto Ricardo, antropólogo e coordenador do Programa Rio Negro, do ISA.

Ricardo conta que depois da implantação do projeto, algumas mudanças ocorreram na região. “Houve um aumento do protagonismo dos povos indígenas em defesa dos seus direitos coletivos e das áreas protegidas.” Mas os benefícios não param por aí. Os resultados do programa, a geração de renda para as comunidades através da produção da cestaria, a educação escolar indígena, a saúde, a proteção e sustentabilidade das terras indígenas demarcadas (são cinco ao todo na região) e a afirmação cultural e segurança alimentar das comunidades indígenas foram grandes.

“O mais importante no programa”, aponta Ricardo, “é que há a preocupação em não impor uma cultura diferente aos índios, mas criar processos de conhecimento de mão-dupla. “Em todas as etapas que desenvolvemos em parceria com os índios estão contempladas atividades de intercâmbio cultural e de informação. Mas ainda há muito por fazer”, conclui.

Tecnologia inovadora em terras indígenas
Willy Pessoa, responsável pelo vetor de Coordenação e Inter-Relacionamento e um dos fundadores da Agência Mandalla de Desenvolvimento Holístico Sistêmico Ambiental, tem uma opinião parecida com a de Beto Ricardo: “ainda é preciso fazer muito para preservar e fortalecer o modo de vida indígena. Não são ações isoladas que vão mudar. É preciso muita vontade em fazer do social uma alavanca de inclusão, o que envolve uma questão de sensibilidade”, destaca.

Pessoa foi um dos responsáveis pela implantação do projeto Mandalla, na Aldeia São Pedro, da tribo xavante, no Mato Grosso. O Mandalla consiste num sistema de agricultura sustentável familiar para pequenas propriedades que, com o uso de canteiros circulares com um tanque de água ao centro, proporciona o cultivo de hortaliças, leguminosas e frutas. “O projeto pode ser implantado em regiões polares e até mesmo nos desertos. O que se busca é o aproveitamento das oportunidades produtivas já existentes, porque está tudo ali, é só querer e saber ver, pelo exercício da criatividade “, destaca Pessoa.

Cada unidade da Mandalla contém nove círculos concêntricos, que tem no centro um pequeno espelho-d’água, de onde sai o sistema de irrigação. Cabras, galinhas e uma diversidade de plantas formam parte do sistema, no qual as necessidades de uma são supridas pelo produto de outras. A metodologia faz parte do Banco de Tecnologias Sociais da Fundação Banco do Brasil.

A primeira fase do projeto na Aldeia Xavante já foi concluída com a instalação da mandala. A equipe de Pessoa fez algumas visitas à tribo para acompanhar o desenvolvimento da técnica. “Vamos continuar voltando, a metodologia diz respeito há muito mais”, ressalta, lembrando que os ganhos com a mandala vão além da segurança alimentar, pois entre os círculos verdes há o verdadeiro resgate da dignidade.

THAIS SENA SCHETTINO
do site da Fundação Banco do Brasil

 
 
 

NOTÍCIAS ANTERIOreS
25/04/2005 Mulheres lutam pela inclusão social
22/04/2005 Voluntários recuperam escola durante o feriado
20/04/2005 Unipalmares oferece projetos sociais baseados no respeito à diversidade
18/04/2005 Empresa contribui para o desenvolvimento socioeconômico das comunidades
15/04/2005 Empresa dedica sua responsabilidade social a projetos de saúde
15/04/2005 ONG Escola de Gente e MEC lançam programa sobre a sociedade inclusiva
13/04/2005 Projeto ensina jovens de comunidades ribeirinhas a serem repórteres rurais
12/04/2005 Jovens unem forças contra a violência doméstica
11/04/2005 Projeto Amigo Animal visita abrigo
11/04/2005 Projeto promove humanização hospitalar por meio de jogo israelense