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O Brasil é uma imensa "Casa dos Artistas"

Destinada a orientar os candidatos sobre as preferências dos brasileiros, uma pesquisa de opinião pediu aos eleitores que expusessem seus sentimentos positivos e negativos sobre idéias, instituições e pessoas. Entraram na lista de avaliação Guga, PT, PSDB, Fernando Henrique Cardoso, Jader Barbalho, FMI, seleção brasileira de futebol, socialismo, privatização e Pedro Malan. O resultado foi devastador.

Os entrevistados manifestaram seus sentimentos, atribuindo a cada item notas de zero a dez, balizas do máximo da rejeição e do máximo da simpatia. Uma nota cinco, portanto, indica uma posição neutra - nem favorável nem desfavorável. Apenas o tenista Guga conseguiu estar acima do nível regular - atingiu a marca de 73% de sentimentos positivos.

Nenhum dos demais, do PT a Fernando Henrique, passando pelo PSDB e por Pedro Malan, chegou sequer aos 40% de positivo. Logo depois de Guga, vêm o PT (37%), a seleção brasileira de futebol (22%) e Fernando Henrique (19%). O PSDB obteve 10%, a privatização, 9% e, na lanterna, ficou Jader Barbalho, com 3%. Nivelam-se, assim, por serem vistos mais do lado negativo que do positivo.

É claro que a desinformação geral e a baixa escolaridade exercem influência sobre a distância entre o mundo oficial e o do cidadão comum. Mas as preferências captadas pelo Instituto Vox Populi revelam que os eleitores, independentemente de ideologias e de partidos, associam a coisa pública - e nela incluída, por motivos óbvios, a seleção brasileira - a sentimentos negativos.

Assim se entende, entre outras razões, por que todas as pesquisas indicam baixo interesse pela sucessão presidencial. Não se conhecem sequer os nomes dos presidenciáveis, quanto mais o perfil dos candidatos.

De acordo com o Datafolha, José Serra é, entre os ministros, o mais conhecido pelos brasileiros. Mas, segundo o Instituto Vox Populi, poucos sabem que o ministro é candidato e, menos ainda, conhecem sua história: a maioria imagina que Serra seja formado em medicina.

A disputa judicial sobre o direito de exibição do programa "Casa dos Artistas", ocorrida na semana passada entre o SBT e a Rede Globo, reforça a sensação de que o interesse público está cada vez mais voltado ao privado.

É provável que, nos últimos dias, nenhum fato tenha chamado mais a atenção do brasileiro médio do que o impedimento da apresentação do programa "Casa dos Artistas", criado por Silvio Santos para ultrapassar o ibope da Rede Globo, com seu "No Limite".

No domingo, a Rede Globo sentiu mais um golpe na audiência. Com sua notória genialidade para conseguir pontos no ibope, Silvio Santos enfiou numa mesma casa um punhado de artistas, obrigados a viverem juntos por 45 dias diante de câmeras. O programa "No limite" investe na exposição da vida de anônimos - em nítida desvantagem.

Um juiz resolveu acolher ação da Rede Globo que acusou a "Casa dos Artistas" de plágio; o SBT promete reagir, até porque já viu que pode tirar muito dinheiro das indiscrições flagradas naquela casa.

Ambas as atrações fisgam a audiência, de um lado, porque o ser humano sente um ancestral prazer na invasão da privacidade alheia e, de outro, no caso brasileiro, porque o interesse por personagens públicos é reduzido, o que reforça a bisbilhotice em torno dos seres, digamos, privados.

Basta ver nas bancas a profusão de revistas do estilo de "Caras" ou "Quem", dedicadas, essencialmente, às separações, encontros, desencontros e comemorações de "famosos".

Vivemos em uma época de exacerbação da futilidade e do narcisismo. Dissipam-se os valores coletivos, sobressai um pragmatismo individualista. A política passa a ser vista como algo distante, mesquinho e corrupto, sem conexão com o cotidiano. O sucesso é um valor encarnado por personagens que mostram resultados. É o caso de Guga, por exemplo.

No Brasil, tantos escândalos consecutivos por tanto tempo cercaram a vida pública de uma auréola de lama. A cobertura política da imprensa transformou-se, em larga medida, na reprodução de declarações oficiais, na investigação de denúncias e na focalização do "show". Os marqueteiros fazem dos candidatos produtos pasteurizados, papagueando promessas e ilusões. Nesse ambiente putrefato, ganham menos destaque as ações administrativas bem-sucedidas - e há muitas delas, que têm revelado talentosos administradores públicos, em particular nos municípios.

O sucesso, enfim, não é coletivo, mas individual. É como se fôssemos uma grande "Casa dos Artistas".

PS - Há efeitos colaterais positivos. Cada vez mais pessoas se interessam pelos assuntos de suas cidades, trazendo a política para o cotidiano. E o mais importante, como mostrou uma pesquisa do Datafolha na semana passada, é que muita gente se sente atraída pelo chamado terceiro setor e procura desenvolver trabalhos comunitários. Como desconfiam da intermediação, os brasileiros, para verem o resultado de seu esforço, preferem ajudar diretamente escolas, creches, orfanatos, centros de saúde, asilos, hospitais. Aí está a face mais contemporânea e saudável da política brasileira. E o discurso dos candidatos, de todos eles, não sai da mesmice.

 
 
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