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Boni
ganha um "Show do Milhão" por mês
Na semana
em que o país discutiu a flexibilização
dos contratos de trabalho, aprovada na Câmara, um acerto
entre patrão e empregado, ainda misterioso, chamou
a atenção de todos: um salário estimado
em, no mínimo, R$ 1 milhão por mês, em
troca de opiniões. Ninguém, em todo o país,
recebe tanto para oferecer consultoria. É como se essa
pessoa, todos os meses, obtivesse o prêmio máximo
do "Show do Milhão", do SBT.
Depois
de meses de negociação e suspense, José
Bonifácio de Oliveira, o Boni, renovou na semana passada
contrato com a TV Globo e deixou de lado propostas igualmente
tentadoras oferecidas por outras emissoras. Daqui a dois anos,
segundo o acordo, ele estará livre, sem o risco de
enfrentamento judicial, para trabalhar onde bem entender e,
quem sabe, voltar a ser o principal executivo - ou mesmo o
proprietário -de uma grande empresa de expressão
nacional.
Numa conversa
com amigos, ele deixou escapar, em tom de brincadeira, que
se tinha transformado num consultor quase nunca consultado.
Incomoda-o a discrepância entre o que faz e o que pode
fazer - sensação permanente de qualquer indivíduo
criativo.
Existe
um fato histórico. A monumental cifra salarial mostra
que Boni é o trabalhador de terceira idade com o maior
salário do Brasil. Quando - e se - mudar de empresa,
assumindo novos projetos, ele já estará próximo
dos 70 anos. É significativo num país em que,
depois dos 40 anos, executivos começam a ser descartados,
tachados de improdutivos, incapazes de se reciclarem.
A vitalidade
premiada de Boni presta-se para desmontar a "bomba dos
velhos" armada no Brasil. "É uma bomba social
ainda fora da agenda das preocupações brasileiras",
afirma o presidente do IBGE, Sérgio Bessermann.
O IBGE
divulgou na semana passada uma boa notícia. A esperança
de vida do brasileiro subiu, na década de 90, para
quase 69 anos de idade; a das mulheres, para 72 anos. Mas
essa é também uma má notícia.
O país
ainda não sabe lidar com a "bomba dos adolescentes",
que não conseguem ingressar no mercado de trabalho,
protagonizam as notícias da violência e transformam
a cidade num campo de batalha, mas já são exigidas
respostas para os problemas da crescente onda de idosos -
em sua maioria, desempregados ou subempregados, com aposentadorias
miseráveis, sem atendimento de saúde e possibilidades
de lazer.
Gente
desperdiçada - talvez, sobretudo, pelo preconceito.
O próprio indivíduo introjeta a idéia
de que, depois de uma certa idade, é imprestável,
nutre o "sonho da aposentadoria" e prepara-se para,
resignado, morrer.
Empresa
especializada em recursos humanos, a Catho analisou a idade
de 7.002 executivos de 31 empresas. Com mais de 50 anos, há
apenas 15% dos gerentes, 6,4% dos cargos de supervisão
e 3,8% dos profissionais especializados.
Em outro
levantamento, foram ouvidos 503 altos executivos de 503 diferentes
empresas. Na visão deles, depois dos 42 anos, se o
funcionário não consegue um cargo de diretoria,
entra na zona da incompetência.
Com 30
anos de idade, o empregado é, ainda na percepção
dos entrevistados, mais aberto a absorver novas tecnologias.
Até os 36 anos, ainda está disposto a trabalhar
duro.
Resultado,
de acordo com a Catho: 55% dos executivos acima de 40 anos
de idade afrouxam os laços de fidelidade com suas empresas,
já não querem trabalhar em tempo integral e
desenvolvem seus próprios negócios. Uma boa
parte deles se dá mal, indicam os dados, e tenta sobreviver,
a exemplo de Boni, vendendo opiniões.
A divulgação
da esperança de vida do brasileiro reforça a
idéia óbvia de que ter 50 anos, hoje, é
relativo. Os arquivos do IBGE mostram que, no meio do século
passado, a expectativa de vida ficava pouco acima dos 40 anos
de idade.
A Manager, especializada em colocação de profissionais,
detecta, a partir da tabulação de seus arquivos,
que, lentamente, empresas começam a se dar conta de
que mudou o conceito de velhice -graças aos novos tratamentos,
à disseminação de noções
de prevenção de doenças e aos remédios.
Segundo
Maria Aparecida Lopes, uma das coordenadoras da Manager, muitas
empresas estão valorizando a combinação
de experiência com segurança na tomada de decisões,
algo que exige maturidade. Para as vagas em empresas oferecidas
por meio da Manager, já não se exige, como antes,
o limite de idade. "Está crescendo a demanda por
maturidade", afirma Maria Aparecida Lopes.
Quase
ninguém vai conseguir ser Boni na vida. Mas qualquer
um pode usar seu exemplo para saber que juventude é
sempre ter projetos - isso significa que só morremos
quando perdemos a curiosidade.
PS - A
Catho realizou uma série de pesquisas que mostram a
percepção das empresas sobre a idade, associada
à suposta competência dos trabalhadores, particularmente
dos executivos. Estão na página do Aprendiz:
www.aprendiz.org.br
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