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Perigo no ar

Consumidores comemoraram semana passada a guerra das tarifas aéreas, detonada com entrada de novas empresas de aviação.

Anunciaram-se reduções de até 60% no preço das passagens, prometendo desencadear promoções em cadeia, graças ao chamado "aeropovo" - uma boa notícia para começar o ano.

Nem tudo, porém, é céu de brigadeiro. O Sindicato dos Trabalhadores de Proteção do Vôo começou este ano a preparar campanha alertando a população para os riscos de acidentes, devido ao estresse dos responsáveis pelo controle das aeronaves.

"Estamos no limite", afirma o presidente do sindicato, Jorge Botelho, reclamando da combinação de baixos salários e excesso de desgaste humano.

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Documentos sobre esses riscos foram encaminhados ao Ministério da Aeronáutica, com estudos preparados na Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade de São Paulo.

A pesquisadora Rita de Cássia Seixas concluiu recentemente tese de mestrado na Faculdade de Saúde Pública da USP, depois de acompanhar a rotina dos controladores de vôo dos aeroportos de São Paulo. É uma rotina que, em maior ou menor grau, repete-se em todo o país.

Segundo ela, 90% dos entrevistados informaram fazer "bicos" para completar os salários, criando uma sobrecarga de atividades especialmente comprometedora para quem se vê obrigado a manter atenção total nos radares . Uma distração pode ser literalmente fatal.

Entre os filiados do sindicato, um deles é motorista de táxi. Até pouco tempo, havia motorista de ônibus. "Sei de um controlador que, às vezes, passava a noite acordado e de manhã ia para o aeroporto", informa Jorge Botelho.

O controlador de vôo, analisa o estudo da USP, carrega uma dose natural de estresse, por saber que vidas dependem dele. São submetidos a turnos alternados e a ruídos constantes. Os bicos provocam desgaste físico e distanciamento da família.

Esse acúmulo de tensões, detectou Rita de Cássia entre seus entrevistados, gera alterações no sono e distúrbios psicológicos.

" De acordo com a Organização da Aviação Civil Internacional, nenhum controlador pode ficar com mais de seis aeronaves na tela do radar. Mas há horários em que muitos controlam até 15 aviões", conta Rita.

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Os controladores de vôo contam com o apoio do Sindicato dos Aeronautas. Até por uma questão de sobrevivência; afinal, quem está no ar são os pilotos e tripulantes.

"É preocupante. Sabemos há muito da sobrecarga de quem acompanha o radar", diz Graziella Baggio, presidente do Sindicato dos Aeronautas, convencida de que a opinião pública é ignorante sobre os bastidores dos aeroportos.

Pegue-se o exemplo do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, que assemelha-se, em muitos dias, a uma rodoviária, tamanho o tumulto de passageiros. No ano passado, transitaram em suas pistas, em média, 28 mil pessoas diariamente, conduzidas por 600 aeronaves.

Segundo Graziella, o intenso fluxo faz com que a distância entre os aviões siga o limite "mínimo de segurança". É um fluxo que só tende a se avolumar com as novas empresas de aviação e com o crescimento econômico. Batem recordes os investimentos estrangeiros, o que significa mais executivos no ar.

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Sexta-feira em Congonhas é um dia especialmente caótico. Com frequência cada vez maior, pilotos esperam até 40 minutos a ordem de pouso, presos ao congestionamento aéreo.

"A aviação é, obviamente, uma atividade de alto risco. E quaisquer novos fatores que aumentem o risco deveriam ser dissipados imediatamente", defende o comandante da Varig, Carlos Camacho, agente de segurança de vôo do Sindicato dos Aeronautas.

" O congestionamento aéreo já é um ingrediente a mais no estresse do piloto e, por tabela, para quem está de olho no radar", sustenta Camacho.

Nada disso desfaz a certeza de que o avião é o mais seguro dos transportes e, até aqui, os controladores de vôo não provocaram acidentes - mas também não desfaz a suspeita de que o brasileiro só coloca tranca depois de ter a porta arrombada.

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PS. - Entre os controladores de vôo há uma tensão extra, criada pela divisão entre civis e militares. A média salarial é de R$ 1,3 mil. Mas os militares ganham mais porque sua categoria, beneficiada pela pressão política das Forças Armadas, conseguiu aumentos. Os civis se sentem injustiçados - e os militares continuam achando que, mesmo com os aumentos, ganham pouco. No topo da carreira e com 20 anos de serviço, um militar controlador de vôo ganha R$ 2,7 mil, apesar de ser uma mão-de-obra altamente qualificada.

 
 
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