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A
porção mulher da CUT
Psicóloga,
jovem e bonita.
Até pouco tempo quem reunisse esses ingredientes conseguiria
imaginar-se muitas coisas na vida -- menos presidente da sisuda
e radical Central Única dos Trabalhadores, a CUT.
Mais difícil ainda se pregasse o que Mônica Valente prega:
a luta sindical mais ampla do que a defesa do emprego e do
salário.
E, por consequência, o sindicato defenderia não apenas o trabalhador
de carteira assinada, a base dos sindicatos, mas todos os
cidadãos.
Um dirigente sindical, segundo ela, deveria guiar-se pela
busca de qualidade de vida, mesclando campanhas salariais
a uma nova agenda.
Ou seja, prioridade para educação e saúde, com enfoque especial
nas mulheres, crianças e negros.
O sindicato teria de olhar tanto para o que acontece dentro
das empresas como escolas e hospitais públicos.
Diretora do Departamento de Estudos Sócio-Econômicos e Políticos
( Desep) da CUT, Mônica Valente não só acredita estar em condições
de substituir Vicente Paulo da Silva. Mas com chance de vitória,
embora, por enquanto, longe do favoritismo no pleito, previsto
para o próximo semestre.
*
Independente
do resultado, a própria candidatura de uma psicóloga preocupada
com educação e saúde tanto quanto emprego e salário já serve
como potente sinal das mudanças do trabalho no Brasil.
"Sei que o fato de ser mulher dificulta porque, como reflexo
da sociedade, a CUT é machista, mas o sindicalismo está ameaçado
e ele está à espera de uma nova agenda", afirma Mônica Valente,
ligada ao grupo de Vicentinho e Lula.
A ameaça estava nítida na última comemoração do Dia do Trabalho
-- a CUT foi próxima do fiasco; a Força Sindical só reuniu
tanta gente porque fez um show que ofereceu prêmio num feriado.
Convocadas por operários, essas festas tendem a esvaziar,
obrigadas a produzir cada vez mais entretenimento, o tal "showmício",
mais para show do que comício.
Afinal, o que uma psicóloga candidata à CUT tem a ver com
isso?
*
Dia a
dia a indústria vai perdendo importância na região metropolitana
de São Paulo, seja porque migra para o interior ou para outros
Estados, seja porque, devido às novas tecnologias, corta empregos.
Em compensação, aumenta a importância do setor de serviços.
Basta lembrar que a rede MacDonald's é o maior empregador
brasileiro, superando a Volkswagen.
A mexida vem acompanhada de novos requisitos ao trabalhador,
obrigado a ter maior escolaridade -- o que produziu o magnífico
e exemplar gesto de Vicentinho fazendo vestibular com adolescentes.
A mulher ganha mais espaço no mercado. Prepara-se para ir
bem mais longe porque, na média, tem mais escolaridade do
que o homem.
De cada 100 pessoas que se formam nas faculdades, 60% são
mulheres.
Mais: de cada 10 novos empregos gerados na região metropolitana
de São Paulo, 7 são para mulheres.
*
Na esteira
da transformação, sai abalado o operário e, no geral, o trabalhador
de carteira assinada, a ilusão da garantia social.
O trabalhador informal se expande ano a ano, tirando a base
dos sindicatos -- e esvaziando os comícios.
É uma mexida enorme, produzindo viradas na estrutura de poder:
siglas como Fiesp e CUT perdem prestígio, regiões de São Paulo,
onde prosperaram as fábricas, são abandonadas, mulheres assumem
mais poder e a informalidade do trabalho se torna regra.
Os discursos dos sindicalistas e dos políticos (assim como
a pauta da imprensa) ainda está presa a um mundo que se enfraquece
ou desaparece.
O abismo entre o discurso do poder e a vida cotidiana dos
mortais alarga-se a passos largos.
No geral, as pessoas acham que a política é o espaço institucional
da bandalheira; as pessoas voltam-se a seus interesses imediatos,
que é ter boa escola, emprego e saúde.
Os representantes da população, que já não representavam muito,
estão gradualmente menos representativos.
*
Daí passa
a ter espaço a idéia de que um sindicato deve misturar educação
ao salário, emprego à saúde -- e uma mulher com diploma de
terceiro grau, sem qualquer intimidade com fábrica, possa
apresentar essa agenda para dirigir uma central sindical.
*
A própria
comemoração ontem do 13º de maio mostra que o trabalho resume
as mais variadas discriminações e carências -- desde a falta
de qualidade nas escolas, tempo para a mãe e pai estar mais
próximo dos filhos, trabalho infantil até discriminações como
os menores salários das mulheres e negros.
Bom exemplo da discriminação está numa pesquisa divulgada
semana passada sobre racismo no Brasil.
Indagados sobre se ficariam incomodados caso fossem chefiados
por um negro, 50% dos entrevistados disseram, sem titubear,
que ficariam.
Faça o download da plataforma completa de Mônica
Valente, clicando aqui.
Leia o dossiê sobre
a situação da mulher negra trabalhadora.
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