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Mário
Covas é benigno
Há um aspecto benigno
na malignidade do câncer de Mário Covas _ a doença, segundo
informam ontem os médicos, atingiu a meninge, membrana que reveste o cérebro.
O drama do governador é
a principal dor coletiva e solidária do país, produzindo ao mesmo
tempo sensação de pena e admiração, sintetizada na
figura do herói frágil.
Aquela dor ambulante, cercada
de holofotes, faz lembrar a todos a fragilidade inexorável de cada um,
gerando a óbvia solidariedade de quem se vê também vulnerável.
A grandiosidade pedagógica
do tumor de Covas _ e daí seu aspecto benigno_ está na mistura entre
as esferas pública e privada. Ele não se trancou, deprimido, nos
aposentos: decidiu compartilhar a dor, a insegurança e a proximidade com
a morte, sem deixar de envolver com a administração.
Viver, para ele, é
ser um homem público, preocupar-se com a coletividade. Não é
arrependimento de que se sente na fronteira da vida, uma espécie de marketing
diante de Deus. Quem o conhece sabe que ele é assim mesmo: um homem público.
É um significativo
exemplo no país, onde os cidadãos se acostumaram a dizer, num equívoco
de generalização, que todos os políticos são iguais
_ e desprezíveis. Esse desprezo se transfere, por tabela, para a democracia,
operada pelos intermediários do poder, ou seja, os políticos.
Covas não faz um
governo populista, demagógico ou mercadológico. Herdou cofres arrombados,
cortou gastos, apertou os cintos. Apenas nesse segundo mandato sobraram mais verbas
para investimento; o prêmio da administração rigorosa já
fora dado pela reeleição. Pode-se não gostar do seu temperamento,
de sua teimosia, de sua explosões. Pode-se não gostar desta ou daquela
decisão, desta ou daquela prioridade administrativa. Ninguém pode
dizer, porém, é que é um malandro, um indivíduo sem
história e sem consistência.
A benignidade do tumor de
Covas está em ajudar as pessoas a valorizar a vida pública, aprendendo
a separar os sérios dos pilantras.
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