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Cala
a boca
Inspirada em seus estudos de psicologia, Marta Suplicy contou
ter calculado meticulosamente quando mandou Paulo Maluf, durante
debate na TV, calar a boca.
Queria fragilizá-lo em público e desmontar a arrogância de
um personagem no palco eleitoral.
Orgulhosa do efeito da frase, ela, no dia seguinte, arrancando
palmas, repetiu numa manifestação: "Cala boca, Maluf".
Pegou bem, sustentam os marqueteiros: sinal de autoridade,
força e coragem de uma mulher, vítima de um jogo sujo, com
insinuações sobre vida íntima. Lavou a alma, dizem.
Suponha-se, porém, que Maluf fosse o autor da ordem e tivesse,
no mesmo tom, berrado: "Cala boca, Marta".
Certamente, por se tratar de um homem _ e ainda mais por ser
Maluf_, veriam como sinal de grosseria, desrespeito, comportamento
impróprio de um candidato a cargo tão alto como a Prefeitura
de São Paulo.
Ele intensificou, na semana passada, a opção pela baixaria,
esforço desesperado do tudo ou nada. Ganhou o "cala boca"
e, sem querer, fez Marta parecer alguém que perde o controle,
o que reforça a imagem de que não estaria apta para administrar.
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A uma
semana da decisão final, a campanha vai revelando mais as
fragilidades do que eventuais virtudes dos candidatos. O "cala
boca" é um vigoroso símbolo dessas fragilidades dos dois.
Por trás da irritação de Marta está a série de provocações
eleitorais: insinuações de infidelidade conjugal, exploração
de sua atividade de sexóloga, apresentada como "pornografia",
condenação em estilo inquisitório por ter experimentado maconha.
Maluf acusou-a de tolerância com o crime, devido ao projeto
de lei que propõe a redução da pena a presos dispostos a estudar.
Ao transformar esses tópicos em denúncia, Paulo Maluf revela
uma visão estreita, incapaz de perceber os novos limites da
cidadania. O que já uma limitação para alguém governar São
Paulo, rica em sua diversidade humana.
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Calculada
ou não, o "cala boca" de Marta foi um detalhe que apenas reforçou
seu ponto mais frágil: a falta de experiência administrativa
pública ou privada. Se se vencer, vai ter treinar e jogar
ao mesmo tempo.
Já ouvi vários empresários, avessos a Maluf, desdenharem o
problema da falta de experiência _ uma indiferença que não
têm quando contratam seus executivos.
Montada na falta de intimidade com os labirintos da administração
pública, ela vai ter de governar uma cidade falida, apoiada
num partido que abriga gente ideologicamente alucinada.
Enquanto caça recursos, renegociando dívidas, terá de executar
reformas urgentes, a serem executadas logo do início do mandato.
No exato mês da posse, as enchentes já começam a encher as
manchetes.
Há uma expectativa de que ela gere empregos. Uma melhoria
que pouco está em suas mãos. Tradução: risco de decepção.
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Está
aí, teoricamente, o ponto forte de Maluf. É dono, de fato,
de um currículo raro; governador, duas vezes prefeito, deputado
federal, dirigente de instituição financeira pública, empresário.
Mais uma vez, teoricamente, poucos estariam, do ponto de vista
técnico, tão habilitados para dirigir São Paulo, metida nessa
crise aguda de governabilidade.
O problema é que esse crise foi provocada, em boa parte, por
ele próprio. É representante de uma estrutura de poder municipal
_ a entrega de administrações regionais aos vereadores_ que
nutre a bandalheira.
Para se manter no poder, elegeu Celso Pitta, implodiu os cofres
e, agora, ninguém sabe exatamente como pagar a conta.
A experiência não o impediu de prometer algo que sabe ser
impossível: reduzir significativamente os índices de violência
da cidade.
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A eleição à Prefeitura de São Paulo vai muito bem. Trouxe
temas relevantes à discussão, apareceram possíveis saídas,
a disputa acirrada, desde o primeiro turno, produziu emoção
e mais interesse na temática urbana.
Sinto mais efervescência nessa disputa se comparada com a
eleição de presidente e governador. Bom sinal de politização.
Não me cabe dizer, aqui, quem é o melhor candidato, apenas
tentar mostrar virtudes e fragilidades.
O que dá para dizer, porém, é que Paulo Maluf e Marta Suplicy,
tão diferentes em propostas administrativas, visão de mundo,
personalidade, têm algo em comum: não conseguiram amenizar,
por razões distintas, as desconfianças de que não estão preparados
para as demandas de uma cidade falida.
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PS - O candidato ideal seria Martuf. Alguém que tivesse os
propósitos sociais de Marta, com sua visão de parceria com
a sociedade civil, e a experiência administrativa de Paulo
Maluf.
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