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Candidatos
virtuais e políticos reais
A prefeita
Marta Suplicy determinou a seus assessores que seduzissem
o ex-governador Orestes Quércia para que ele viesse
a apoiá-la. Para tanto, acenou com a entrega a ele
do comando da Empresa Municipal de Urbanismo (Emurb), um dos
centros vitais de planejamento da cidade de São Paulo.
Unir-se
a Orestes Quércia, acusado há anos pelo PT de
enriquecimento suspeito, e, ainda por cima, colocar na mesa
de negociação uma entidade encarregada de obras,
há anos também suspeita de flexibilidade no
uso dos recursos públicos, é apenas mais um
exemplo do pragmatismo explícito que varre a política
brasileira.
Sem grandes
constrangimentos, a assessoria da prefeita informou oficialmente,
na semana passada, que, em nome da governabilidade, será
aberto espaço nas administrações regionais
para assegurar o apoio dos partidos. Mas as administrações
regionais viraram escândalo nacional justamente porque,
entre outros motivos, se prestaram ao loteamento. Quando a
fisiologia é praticada pelo PT, recebe o nome de "política
de governabilidade" e, numa versão mais sofisticada,
"flutuação tática".
Não
é de hoje que a palavra dos políticos não
é exatamente reverenciada. Pesquisa Datafolha mediu
a credibilidade das instituições. Partidos políticos
apareceram em último lugar, com nenhuma pontuação.
Ou seja, zero. Acima deles, o Congresso Nacional, com 1%.
Ilusões,
jogos de cena, mentiras, tramóias e falta de princípios
não são novidade na imagem dos políticos.
O que está acontecendo agora é uma mudança
de grau -e para pior, oscilando entre a tragédia e
a comédia.
Ciro Gomes
disse as piores coisas sobre o PFL, apontado como um foco
de atraso e de promiscuidade. Chegou a afirmar que o principal
líder do PFL -Antonio Carlos Magalhães- era
mais sujo do que pau de galinheiro.
Bastou
surgir a chance concreta de uma aliança com o PFL para
que Ciro Gomes se interessasse pela parceria com ACM. E, ainda
mais estranho, com o aval de Leonel Brizola, para quem o ex-senador
baiano era -como vivia repetindo- o que existia de pior na
política brasileira, conivente com bandalheiras.
Passamos
todos esses anos ouvindo Brizola falar nos malefícios
do neoliberalismo. Sua fúria vai a tal ponto que não
aceita que Antônio Brito saia candidato com o apoio
da coligação PDT-PTB-PPS porque, afinal, ele
fez parte de um governo "neoliberal". Mas não
se sente constrangido em batalhar pelo poder ao lado do PFL,
a radicalidade do tal neoliberalismo.
Anthony
Garotinho tem um discurso de oposição com visão
semelhante à de Brizola. Também tentou seduzir
o PFL e, ao mesmo tempo, lançou olhares enamorados
a Paulo Maluf.
O PT rasteja
para atrair personagens que, até pouco tempo atrás,
demonizava, como Luiz Antônio Medeiros. Adernou para
o PL, outro segmento que se encaixaria no rótulo de
neoliberal, e bajulou a Igreja Universal. Daí Lula
não se sentir incomodado em usar o genial Duda Mendonça,
que ajudou a eleger Paulo Maluf prefeito de São Paulo,
o qual, por sua vez, ajudou a eleger Pitta. E ambos comprometeram
as finanças públicas a tal ponto que deixaram
a cidade (e sua atual prefeita, do PT) à beira da ingovernabilidade.
Duda também colaborou para a derrota de Cristovam Buarque,
que foi o responsável pela disseminação
nacional da bolsa-escola, na disputa pelo governo do Distrito
Federal. E um dos primeiros atos do vencedor foi a eliminação
da bolsa-escola.
Nesse
clima de pragmatismo, seria natural que outro genial publicitário
tivesse ajudado Roseana Sarney, mas de olho na candidatura
José Serra. Só não se bandeou porque
Serra -também de olho em todos os acordos possíveis,
sem restrições- já tinha outra opção
de marqueteiro.
Tal epidemia
de pragmatismo é provocada, entre outros motivos, pelo
fato de o presidente Fernando Henrique Cardoso, ícone
da "política de governabilidade", ter-se
mantido no poder por oito anos, ter-se acertado com quem quis,
ter distribuído favores, ter loteado ministérios
-e, até agora, segundo as pesquisas, manter o prestígio
popular acima do razoável, com chance de fazer seu
sucessor. Ou seja, esse tipo de procedimento está "dando
certo".
Não
existem mais sonhos, as utopias desapareceram. A esquerda
se aproxima da direita com a mesma intensidade com que a direita
se aproxima da esquerda.
Como a
crença na palavra dos partidos políticos, segundo
a pesquisa Datafolha, está em zero, a credibilidade
deles, mesmo com todo esse surto, não vai ficar pior.
PS - Responsável
por trazer ao Brasil uma campanha contra o câncer de
mama, popularizando o alvo azul, o publicitário Ricardo
Bellino decidiu fazer uma brincadeira eleitoral. Criou um
candidato virtual, animado em computador. Batizou-o de "Feliciano
Brasileiro". Na busca de um programa para o candidato,
pediu idéias a pessoas, entre as quais este colunista,
interessadas na temática social. O desafio é
montar uma ofensiva para evitar que os jovens caiam na marginalidade
e gerem violência e, ao mesmo tempo, prepará-los
para que melhorem suas comunidades.
Numa espécie
de jogo de quebra-cabeça, deveriam ser especificadas
as fontes de recursos, os meios para executar o programa e
o reordenamento de políticas já existentes e
bem-sucedidas nos planos federal, estadual e municipal de
diferentes partidos, para que não sofressem descontinuidade.
O segredo estaria mais em juntar peças, economizando
tempo, dinheiro e energia, do que em criar algo totalmente
novo. O resultado da experiência está na página
do Aprendiz.
A diferença é que, nessa experiência,
qualquer um pode mandar pela internet uma idéia que,
se for adequada, entra no programa.
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