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É melhor vocês contarem a verdade

Depois de analisar relatórios preparados por técnicos em orçamento e economistas sobre as finanças de São Paulo, a cúpula do PT, a começar de Luiz Inácio Lula da Silva, especulou sobre os perigos da vitória de Marta Suplicy à prefeitura.

Um desempenho ruim de Marta, cercada de expectativas e promessas, vai abalar a imagem do partido, com risco de estragos na sucessão presidencial.

A chance de que, pelo menos nos primeiros dois anos, ela patine, deslize, tenha pouco a anunciar e muito a reclamar, jogando a culpa em seus antecessores, é mais do que provável.

O próximo prefeito vai receber, logo no primeiro dia de mandato, a conta de aproximadamente R$ 8 bilhões nas mais variadas formas de dívidas, todas a serem saldadas em um ano. Entram, aqui, desde as contas com o governo federal, passando pelos famosos precatórios (dívidas judiciais) até fornecedores e empreiteiros.

Para medir o tamanho dessas dívidas, basta saber que supera em quase R$ 1 bilhão tudo o que a prefeitura arrecada anualmente. Para completar, a cidade está impedida legalmente de se endividar.

É algo semelhante a alguém a ter um rendimento mensal de R$ 5 mil para pagar todos os seus compromissos como aluguel, mensalidade escolar dos filhos, comida, água, luz, etc.

Enforcado com um empréstimo, esse indivíduo teria de desembolsar R$ 6 mil mensais só para o banco. Nenhum banco, porém, está disposto a ajudá-lo. Nem os parentes ou amigos.

Suponha-se que o enforcado tenha prometido reformar a casa, comprar um carro novo para a mulher, subir o salário da empregada e mesada dos filhos.

***

As contas que recheiam os relatórios do PT fazem parte das análises frias, distantes da festividade de campanha eleitoral, feitas pelas assessorias de todos os candidatos.

Talvez Marta possa até ser mais cobrada, mas o constrangimento, a dificuldade financeira, é a herança imediata a ser recebida por qualquer candidato. A prioridade de Tuma, Erundina, Alckmin ou Maluf não vai ser tocar obras, investir, mas livrar-se da forca.

Nas suas conversas reservadas, eles dizem saber que, nos primeiros meses de mandato, vão ser obrigados a renegociar as dívidas em desgastantes reuniões, cortar despesas, anular ou suspender contratos.

A alternativa aparentemente simples, catastrófica a médio prazo, seria dar uma de Itamar Franco e decretar a moratória, o calote, sofrendo as consequências da ousadia.

Não tem milagre. Aquele sujeito que prometeu mais salário à empregada e melhor mesada aos filhos, caso não opte pela delinquência, vai ter cortar gastos e fazer bicos.

A frustração é mais do que previsível, já que a empregada talvez seja informada que perdeu o emprego e os filhos ficarão com a metade da mesada, convidados a trabalhar de dia e estudar à noite, fazendo o trajeto de ônibus.

Isso se não tiverem de deixar a escola privada.

***

Eleição e ilusão são, historicamente, companheiras. O eleitor aguarda do candidato uma palavra de esperança, a sensação de que vai conseguir melhorar sua vida. Já, agora, imediatamente.

É, enfim, a regra do jogo. Ganha, em geral, quem melhor manipular a ilusão de que as mudanças são rápidas, dependem só e tão-somente da vontade e bom-mocismo do governante.

Em menor ou maior grau, os candidatos, todos eles, embalaram o cidadão com a promessa de que, se eleitos, vão conseguir reduzir o crime na cidade.
Prometeram mais dinheiro para saúde, educação, lazer e obras para geração de empregos.

A verdade dos números, aceita por todos os candidatos, é de que a cidade chegou ao fundo do poço.

Na semana passada, a Fundap (Fundação do Desenvolvimento Administrativo do Estado de São Paulo) informou-os, em documento, que, para não entrar na delinquência do calote, eles teriam de cortar 40% das despesas de consumo e 50% dos investimentos.

Não se tem notícia de que a cidade tenha chegado, no passado, a tal ponto de endividamento e com tão pouca margem de manobra.

Somos a geração que pode dizer aos filhos ou netos que testemunhou a falência de uma cidade, demonstração inequívoca de descaso, incompetência e corrupção -- apesar de São Paulo ser a cidade mais imponente financeiramente da América Latina, um dos pólos da globalização.

É uma história de fracasso que afeta, em primeiro lugar os governantes, mas também os moradores, que se omitiram, não fiscalizaram, abandonaram a cidade.

***

Mais cedo ou mais tarde, o prefeito eleito vai ter que falar a verdade, mostrar a realidade dos números.

Se for mais cedo, menor a chance de eleição, vamos reconhecer. Mas menor a frustração.

***

PS: Para não desanimar o leitor desta coluna, preparei para esta edição um dossiê apenas como exemplos de soluções municipais dentro e fora do país, idéias baratas e que têm funcionado.

 

 
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