São Paulo
cria centenas de milhares de empregos
Pressionados pela competição, executivos de
empresas de telecomunicação instaladas no Brasil
reclamam da dificuldade de recrutar trabalhadores. Na disputa
pela mão-de-obra, que é escassa, os empregadores
são obrigados a melhorar as ofertas salariais e a pagar
taxas de intermediação para os caçadores
de talentos.
Beneficiados pela onda, engenheiros recém-formados
já conseguem obter rendimento mensal superior a R$
10 mil.
Empresas como a Motorola e a Lucent procuram faculdades de
engenharia, oferecendo-lhes apetitosos patrocínios
para cursos que formem especialistas em telecomunicações.
"Estamos suando para encontrar gente", comenta
Dante Iacovone, principal executivo da BCP, empresa de telefonia
celular. Ele não consegue preencher 12 vagas, de ótimos
salários, em posições estratégicas
na empresa.
Segundo Iacovone, apenas no Estado de São Paulo há
uma carência de 40 mil trabalhadores para o segmento
de telecomunicações. Procura-se desde o instalador
de uma linha de banda larga ou o operador de marketing até
quem maneje programas de computador.
A saborosa angústia desses executivos faz com que
o título desta coluna não seja uma manifestação
ridícula de otimismo, mas apenas um fato incontestável.
***
Estatísticas divulgadas na semana passada pela Fundação
Seade e pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística
e Estudos Socioeconômicos) informam que, no ano passado,
foram criados, somente na região metropolitana de São
Paulo, 280 mil novos postos -145 mil deles na capital.
Se mantido o passo do crescimento econômico, o mercado
de trabalho vai abrir pelo menos mais 300 mil novos empregos
este ano, pagando, em média, um salário próximo
de R$ 900,00.
As vagas oferecidas em telecomunicação reforçam
uma tendência: alimentam o segmento econômico
mais próspero e deixam para para trás -e bem
para trás- o da indústria e o do comércio.
Quem emprega cada vez mais é o setor de serviços,
que congrega do camelô ao consultor em mecatrônica.
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Dos 7,4 milhões de pessoas ocupadas na região
metropolitana de São Paulo, 4 milhões estão
na área de serviços, apenas 1,4 milhão
está na indústria e 1,1 milhão, no comércio.
Se a indústria gerou, no ano passado, mais 78 mil
novas vagas, invertendo uma tendência de redução,
os serviços lançaram mais 170 mil novas ocupações.
A modificação não chegou a alterar substancialmente
o nível de desemprego, que continua alto, gerando miséria
e desolação por todos os lados. O subemprego
é disseminado, e os salários são baixos.
A angústia dos executivos de telecomunicação,
no entanto, dá o sinal de uma brutal reviravolta no
mercado de trabalho e delimita a fronteira entre os incluídos
e os excluídos.
Pode-se medir o impacto puramente econômico. O estoque
previsto de novas vagas para este ano significa mais 300 mil
pessoas fazendo compras na região metropolitana. Uma
bolada de R$ 3,24 bilhões no ano, levando-se em conta
o salário médio previsto de R$ 900,00.
Num prazo de dois anos, do começo de 2000 até
o final deste ano, são quase 580 mil novos contracheques,
60% deles na cidade de São Paulo.
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A leitura dos dados divulgados pela Fundação
Seade e pelo Dieese oferece combustível para uma visão
otimista. Há tempos não se comemoravam indicadores
semelhantes, capazes de gerar um círculo virtuoso:
mais gente trabalhando, mais consumo, mais consumo, mais empregos.
O foguetório é amenizado com a análise
dos dados estatísticos e da pesquisa, que apontam para
perspectivas sociais terríveis: o mercado está
expulsando impiedosamente as pessoas de baixa escolaridade.
É o que explica, entre outras razões, por que
80% dos desempregados moram na periferia -e por que existe
pleno emprego entre os detentores de diploma universitário.
As novas demandas de uma sociedade tecnológica, voltada
ao serviço, geram mais e melhores oportunidades para
os incluídos, aqueles que cursam boas escolas.
Na cidade de São Paulo, por exemplo, 44% dos trabalhadores
concluíram o ensino médio ou superior. A Folha
publicou quinta-feira passada reportagem que mostrava que
empresas de motoboys, esses contínuos contemporâneos,
exigem diploma de segundo grau; alguns motoqueiros têm
diploma universitário.
As novas demandas jogam ainda mais para longe os excluídos.
Não há tempo nem dinheiro para reintegrar as
centenas de milhares de adolescentes sem qualificação,
formando a mais grave armadilha social.
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Essa armadilha é o que produz a convivência
tão próxima da sofisticação tecnológica,
para a qual falta gente, com a barbárie das prisões
superlotadas, nas quais há excesso de gente.
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PS- O pragmatismo das empresas de telecomunicação,
bancando a melhoria do ensino superior, deveria inspirar a
relação entre a universidade e o poder econômico.
Quanto mais as universidades se abrirem para esse tipo de
parceria e quanto mais as empresas ajudarem a formar profissionais,
mais rápido será o crescimento econômico
e melhor será o nível educacional.
Bom exemplo: em meio à carência acadêmica,
setores da USP (Faculdade de Economia e Administração,
por exemplo) estão rompendo a inércia e conseguindo
recursos para desenvolver pesquisas e treinamento para a iniciativa
privada.
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