Martuf
Enquanto
os candidatos Marta Suplicy e Paulo Maluf prometiam fervorosamente
que, apesar das óbvias limitações de
um prefeito, gerariam empregos, a cidade via evaporar um projeto
de investimento de R$ 3 bilhões.
Esses
recursos, bancados por um fundo baseado em Nova York, seriam
destinados à construção de um prédio
comercial e residencial de 510 metros e 108 andares, numa
zona deteriorada de São Paulo. A idéia era fazer
daquele espaço um novo polo desenvolvimento, abrigando
o edifício mais alto do mundo.
Qualquer
um dos eleitos hoje deve uma explicação à
opinião pública: ambos suspeitos de estarem
mais preocupados com suas campanhas do que com empregos tão
prometidos.
Em nota
oficial, lançada quarta-feira passada, o responsável
pelo projeto, o empresário Mário Garnero, afirmou
que os dólares sumiram depois dos sinais de desinteresse
e mesmo oposição de Paulo Maluf e Marta Suplicy.
Segundo
a nota, os investidores, desconfiados de que perderiam ainda
mais dinheiro, decidiram levar o empreendimento para Dallas,
nos Estados Unidos.
Numa cidade
tão carente de empregos e recursos tão escassos
para investir nas suas regiões decadentes, quase moribundas,
a suspensão de um plano desse porte é um escândalo.
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A curta
história desse empreendimento é a síntese
do caos político. Mário Garnero disse-me, pessoalmente,
que, quando lançaram o projeto, surgiu uma barreira
de pedidos de pagamentos clandestinos para a aprovação
na Câmara do projeto.
Em seguida,
veio a onda de investigações com as descobertas
da máfia das propinas e, enfim, a ingovernabilidade
do prefeito Celso Pitta, ameaçado de impeachment.
Não
é exatamente um ambiente acolhedor para quem deseja
investir. Ainda mais quando a cifra é de U$ 1,6 bilhão.
Só
pela lógica dos "caos político", síndrome
de terra de ninguém, se entende como uma cidade possa
abrir mão tão facilmente de uma chance dessa
magnitude de geração de empregos.
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Nada menos
que a administração do caos aguarda quem vencer
hoje nas urnas.
Em boa
parte graças à bateria de ataques pessoais de
Paulo Maluf, a campanha desandou, na reta final, quase exclusivamente
para a troca de ofensas.
Discussão
de planos desapareceram diante de acusações
sobre quem mentia mais sobre sua vida pública ou privada.
Cada um tentava gritar mais alto, acusando o adversário
de desonesto.
Em maior
ou menos grau, os dois candidatos venderam ilusões
sobre novos empregos, melhorar sensivelmente os níveis
e educação, saúde, lazer e segurança.
Desde
o início, eles sabiam que não tinham dinheiro
nem poder para transformar em realidade tais tarefas.
Chegamos
a tal ponto de emoção que, neste momento, apontar
fragilidades, destinada a alargar a capacidade crítica
do eleitor, significa tomar partido.
Senti, na própria pele, esse clima.
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Na coluna
passada, intitulada "Cala Boca", relatei o que considero
fragilidades óbvias dos dois candidatos, além
do fato de prometerem mais do que podem entregar.
Paulo
Maluf tem larga experiência administrativa, o que, em
tese, é bom. Claro que é bom: quem não
prefere profissionais mais experientes?
É
óbvio, porém, que experiência não
significa competência. Tanto que no seu experiente currículo,
ele pode incluir ter ajudado a afundar financeiramente São
Paulo.
E ter
comprometido os cofres públicos para eleger Celso Pitta.
Óbvio
também que a falta de experiência administrativa,
pública ou privada, é um ponto frágil
de Marta Suplicy.
Não
significa, vamos mais uma vez ao óbvio, que ela não
possa desempenhar uma boa gestão.
Temos,
objetivamente, o seguinte: um candidato com um resultado administrativo
a exibir, que faz com que ela seja apoiado ou detestado.
E uma
candidata, marcada por sensibilidade social, respeitada por
um comportamento ético, mas uma incógnita.
Escrevi,
então, que o ideal seria alguém com a vivência
administrativa de um Maluf, mas os propósitos de Marta
ou seja, o Martuf.
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Em minha
longa carreira, nunca recebi tantas correspondências
agressivas.
Criticaram-se
porque comparei indivíduos que não merecem ser
comparados, porque ousei colocar numa mesma palavra os dois
candidatos, e por aí.
No fundo,
reclamam que o jornalista não é chefe de torcida
ou cabo eleitoral, preferem o jogo simples de santificar ou
demonizar.
Como estamos
na guerra entre o "bem e o mal", não há
espaço para qualquer análise fria.
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A julgar
pelas pesquisas, a eleição já está
decidida.
A partir
de agora, diminui a emoção, cresce a razão.
E o que o cidadão vai querer saber é, por exemplo,
como uma cidade não vai perder mais investimentos que
geram empregos.
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PS: Separei
um lote de cartas
para que o leitor sinta o clima dessa disputa.
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