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A receita de Drauzio Varella

Apesar de ser cancerologista, o médico Drauzio Varella era um viciado por cigarros e sempre carregava um maço no bolso, quando ainda era permitido fumar dentro de hospitais. Sentia-se, porém, autorizado moralmente a recomendar a seus pacientes, vítimas de tumores, que não chegassem perto do fumo. A nicotina o ajudaria a redefinir sua vida profissional. Tanto viu, literalmente por dentro, os estragos do fumo que ele abandonou o vício. Ouvia frequentemente dos colegas a consternação diante dos males da nicotina. "Muitos diziam que seria ótimo se todos pudessem ver um pulmão enegrecido", recorda-se Varella.

Ao receber a proposta de uma emissora de rádio para fazer comentários sobre saúde, Varella não reagiu bem. Estava acostumado ao ambiente acadêmico, a linguagem da comunicação parecia-lhe vulgar e superficial. "Topei, mas me sentia constrangido", lembra. Muitos de seus colegas não gostaram. "Achavam que eu estava vulgarizando o conhecimento da medicina."

Do rádio, passou para os jornais e para a televisão, tornando-se o médico mais popular do país. Viu-se obrigado a encontrar uma linguagem que tornasse os conhecimentos sobre saúde acessíveis, sem cair no sensacionalismo simplório. "Meu consultório virou um auditório". Percebeu como a maioria das pessoas, mesmo as educadas, tinham poucas informações sobre saúde, mesmo as mais rudimentares. "Basta ver como as pessoas tratam ferimentos ou queimaduras".

Sem saber, ele se transformou num educador pela comunicação, o que exige a postura educacional e a habilidade de lidar com a mídia, administrando os tênues limites entre o simplório e a simplicidade. Já existe, no meio acadêmico, quem batize essa tendência de educomunicação. Sua experiência com a mídia fez com que Varella não mais distinguisse o ato de medicar do ato de comunicar, daí ter inventado, no Brasil, mais uma atividade da medicina, ao agregar, além do jornal, rádio e televisão.

Não deixou o consultório nem as pesquisas. Mas não consegue mais viver sem os meios de comunicação. "Se já é motivo de comemoração para um médico quando um de seus pacientes deixa de fumar, imagine quando, graças à mídia, podemos fazer centenas de milhares de pessoas abandonarem o vício".

 
 
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