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A
mulher trabalhadora é o negro de saias
No final
da década de 80, a mulher recebia 54% do salário homem.
Significa dizer que, no mercado de trabalho, duas mulheres
valiam pouco mais do que um homem.
Melhorou: hoje, são 65%. Ou seja, aproximadamente uma mulher
e meia equivalem a um homem.
Até mesmo nas profissões mais bem remuneradas, com exigência
de diploma de ensino superior, ambientes supostamente mais
arejados, a defasagem é expressiva. Mais precisamente, segundo
Dieese/Seade, 30%.
Nesse 1º de Maio do milênio, a ser comemorado amanhã, a situação
da mulher é um símbolo da discriminação no trabalho, refletindo
os valores e preconceitos de uma sociedade.
Se, no Brasil, o trabalhador, apesar de todos os avanços,
ganha, no geral, mal, está cercado pelo desemprego e subemprego,
desfruta de uma indigente rede de proteção social, os grupos
vulneráveis são ainda mais pisoteados.
Pela medida dos salários, a mulher, apesar de ter, hoje, escolaridade
mais elevada do que os homens, é ainda vista como um ser inferior.
Exatamente como os negros.
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O Brasil
gosta de se imaginar uma nação sem racismo. Não é o que mostram
os números do mercado de trabalho, a verdadeira prova de quem
é valorizado ou não numa sociedade, via salário ou nível de
emprego.
Com olho nas questões de gênero e raça, o Dieese analisou
os salários e nível de emprego das cinco regiões metropolitanas
do país, além do Distrito Federal ( São Paulo, Salvador, Recife,
Belo Horizonte e Porto Alegre).
A maior taxa de desemprego ocorreu em Salvador, apresentada
como a capital do orgulho negro: 45% maior do que a dos brancos.
São Paulo não fica muito longe: 41%. Melhor posição está Distrito
Federal: 17%. Tradução: é mais provável um negro do que um
branco ficar desempregado, mesmo que tenha o mesmo nível de
escolaridade.
*
Quando
se analisam os rendimentos, vemos como o negro se aproxima
da discriminação contra a mulher.
De acordo com o Dieese, o salário médio de um negro é, em
São Paulo, aproximadamente R$ 510. Os brancos ganham nada
menos do que o dobro.
Em essência, para o mercado de trabalho dois negros valem
um branco.
Na lógica da fragilidade, a hierarquia coloca no topo, pela
ordem, homem e mulher brancos e, depois, homem e mulher negros.
A mulher negra sofre, portanto, por ser mulher e por ser negra.
Uma mulher negra, em São Paulo, ganha por mês R$ 400.
Na fria tradução comercial, duas e meia mulheres negras equivalem
a um homem branco.
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Esses
números da discriminação ajudam a entender uma das mais devastadoras
chagas nacionais: a má distribuição de renda.
Estatísticas internacionais costumam colocar o Brasil como
um dos campeões em má distribuição de renda. Os economistas
debatem sobre as várias razões para a vitória brasileira nesse
campeonato como, por exemplo, a inflação que corroeu os salários,
a baixa escolaridade, o modelo de industrialização, a incompetência
dos investimentos sociais dos governos, o auxilio aos mais
ricos com dinheiro público, e assim por diante.
Em maior ou menor grau, todos esses fatores devem mesmo pesar.
Pouco se comenta, porém, sobre o fator preconceito como um
dos geradores do ciclo vicioso da miséria e, portanto, da
má distribuição de renda.
Obviedade: se somarmos mulheres e negros temos a imensa maioria
da população brasileira.
Logo, se eles são discriminados no salário e emprego, acabam
por afetar a distribuição de renda.
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Se pouco
conseguimos avançar em proteção social do trabalhador no Brasil,
conseguimos menos ainda nas categorias mais vulneráveis como
negros, mulheres e, especialmente, crianças.
Melhor prova dessa falta de proteção foi o censo escolar,
divulgado semana passada, pela Folha Online: apenas 2% (repetindo,
2%) das escolas públicas têm acesso à Internet.
É na escola pública onde se nutre a discriminação que vai
perdurar por toda a vida.
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PS
- Um dossiê sobre a situação do trabalhador no Brasil, com
as novas demandas profissionais, está disponível no Folha
OnLine, pelo seguinte endereço: www.aprendiz.com.br/
Associado ao Aprendiz e à Folha Online, lancei na semana passada
meu site pessoal, chamado de Coluna GD. Com uma redação própria,
o site analisa em tempo real notícias de educação, trabalho
e cidadania.
Não se pretende apenas noticiar, mas colocar a informação
em contexto para facilitar seu entendimento, servindo como
instrumento de pesquisa.
Em poucas palavras, é a pretensão de construir um misto de
sala de aula com redação.
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