Por
que os paulistanos devem comemorar
São
Paulo piorou até onde podia piorar, bateu no fundo
do poço, mas já estancou a deterioração
e tende a melhorar. É a melhor notícia a ser
comemorada hoje, último dia do ano, pelos paulistanos.
Marta
Suplicy toma posse, amanhã, como prefeita de uma cidade
politicamente falida mas com um notável vigor econômico
e social, combinando decadência pública com criatividade
individual.
A melhoria
da cidade está mais atrelada a esse vigor, distante
do poder oficial, do que ao desempenho da nova prefeita.
Marta
significa esperança de renovação política,
de democratização do espaço público,
de criatividade e de estímulo à vitalidade comunitária.
Mas está de braços amarrados pelos cordões
de um Orçamento em frangalhos.
Se bem-sucedida,
a nova gestão vai apenas acelerar o processo de recuperação
da cidade, afetada pelos surtos de recessão mesclados
com a mudança do perfil econômico, mais precisamente
a perda de importância da indústria.
O sinal
mais eloqüente desse movimento é a construção
de hotéis. Estima-se que, nos próximos três
anos, a cidade venha a absorver R$ 3 bilhões em investimentos
para a expansão da rede hoteleira, seguindo a trilha
dos negócios de uma cidade com vocação
de pólo internacional.
Desenha-se,
assim, um novo perfil: no lugar das indústrias, serviços.
Quem enxergar
São Paulo além dos clichês vai deparar-se
com a confluência de mudanças estruturais favoráveis.
***
Estima-se
que, em 2001, a economia vá crescer pelo menos 4%,
dando prosseguimento à retomada verificada este ano
- período em que a massa salarial voltou a crescer.
Primeiro, pelo aumento do número de empregos e, depois,
pela recuperação, embora tímida, da renda.
Tradução: mais consumo.
A evolução
ocorre mais intensamente no setor de serviços, exigindo
mão-de-obra qualificada e, portanto, demandando uma
rede de transmissão de conhecimento.
Cresce
aceleradamente a quantidade de matrículas no ensino
médio e no superior, reflexo do novo perfil econômico
da cidade; basta ver, nos jornais, a enorme procura por professores
de inglês.
As empresas
cada vez mais compensam as lacunas de seus funcionários
e investem em sua formação, transformando-se,
na prática, em escolas.
O aumento
populacional está próximo de zero, a migração
apresenta fluxo negativo (saem mais migrantes do que entram)
e a mortalidade infantil cai ano a ano.
Chegamos
aos 10 milhões e, segundo demógrafos, tendemos
a perder população em número absoluto,
graças ao fluxo migratório negativo e à
baixa taxa de fecundidade das mulheres, consequência
da melhora dos níveis educacionais.
***
Veja que
poderosa combinação: população
estável, mais velha, mais bem remunerada e com mais
escolaridade, vivendo numa cidade cosmopolita.
Inevitável
a pressão por mais qualidade de vida. Aliás,
uma das boas notícias para os paulistanos é
o início do funcionamento do rodoanel, cujo primeiro
trecho deve ser entregue no prazo de dez meses, tirando milhares
de caminhões da cidade.
Caso não
se percam em picuinhas partidárias e brigas pela sucessão,
a prefeitura e o governo estadual terão condições
de implantar programas que mudariam a paisagem da cidade.
Marta
Suplicy e Mário Covas defendem a valorização
do centro, transformado-o em pólo político e
cultural; já estão escolhidas as possíveis
novas sedes do Palácio do Governo.
Notáveis
exemplos são a reforma da estação Júlio
Prestes, transformada em sala de concertos, e a da Pinacoteca;
próximos passos são a reforma do antigo prédio
do Deops e a da estação da Luz, convertidos
em universidade de música e de artes plásticas.
Urbanistas
do PT desenvolvem há anos planos para usar a orla ferroviária,
antes cercada de fábricas agora desativadas, símbolos
da decadência.
Imagina-se
desenvolver nessa orla áreas habitacionais e transformar
os galpões em empresas de alta tecnologia, tudo servido
pela linha do trem, conectada ao metrô.
Tanto
no governo estadual como na futura gestão municipal,
transporte público é apresentado como prioridade.
Já aparecem vozes corajosas propondo o pedágio
urbano para tirar carros da rua e financiar o metrô.
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Desconfio
que, a essa altura, muitos leitores suspeitam que essa coluna
possa estar movida pelos hábitos etílicos de
final de ano: um otimismo, enfim, com falta de sobriedade.
O que
estamos vendo em São Paulo nada tem de inédito:
muitas cidades, entre elas o Rio de Janeiro, sofreram com
a mudança de sua vocação econômica
e, pouco a pouco, souberam se renovar. Chegou a nossa vez.
Claro, porém, que, até virarmos uma comunidade
civilizada, ainda teremos algumas gerações pela
frente.
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PS_Fundamental
agregar às novas tendências da cidade a importância
dos projetos sociais desenvolvidos pelas empresas. Um dos
fatos novos mais importantes do país, mais concentrado
em São Paulo, é a visão de que faz parte
do papel da empresa não só a geração
de lucros mas também a ação social.
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