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buscar táticas para bloquear ataques das ONGs
Na briga entre
ONGs e companhias, tamanho não conta. Tampouco conta estar
certo. As ONGs estão conduzindo suas ações
cada vez mais dentro do sistema legal americano que é sabidamente
favorável aos queixosos e oferece o potencial de indenizações
fabulosas. Por isso, ser dirigente de uma grande companhia atacada
por ativistas indignados não é nada engraçado
- embora seja, cada vez mais, um fato da vida.
Por exemplo,
a simples menção da Greenpeace para um dirigente típico
o deixará freqüentemente apoplético. Mas um número
crescente de executivos está concluindo que é melhor
conviver com os lobistas do que atacá-los. Basta observar
a rápida disseminação de políticas de
responsabilidade social corporativa tolerantes com ativistas ou
escutar Lorde (John) Browne descrevendo como sua empresa, a British
Petroleum (BP), é "verde" - embora ela continue
ganhando dinheiro com a venda de petróleo
Qual será,
pois, a melhor política para uma empresa atacada por essas
ONGs? A ONG deve ser atacada, ignorada ou aliciada? A resposta pode
variar, a depender do tipo de negócio em que a empresa está
metida - e da natureza da ONG. Muitos dirigentes enfrentam pressões
crescentes para conversar com seus críticos de ONGs - mesmo
que isso resulte em pouco mais que uma ação cosmética.
Muita gente imagina que empresas como Nike, Nestlé e Shell
pagaram caro ao serem visadas por campanhas barulhentas.
No entanto,
às vezes faz sentido cooperar com ONGs, argumenta Debora
Spar, da Harvard Business School, num estudo recente. Nos casos
em que a marca conta, pode ser melhor negociar do que combater.
Essa foi a resposta da Nike: sua marca é decisiva para o
valor de seus tênis.
Leia mais:
- Companhias aprendem a conviver com os crescentes
ataques das ONGs
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Companhias
aprendem a conviver com os crescentes ataques das ONGs
Ser dirigente de uma grande companhia atacada por ativistas indignados
não é nada engraçado - embora seja, cada vez
mais, um fato da vida. Por exemplo, a simples menção
da Greenpeace para um dirigente típico o deixará freqüentemente
apoplético. Mas um número crescente de executivos
está concluindo que é melhor conviver com os lobistas
do que atacá-los. Basta observar a rápida disseminação
de políticas de responsabilidade social corporativa tolerantes
com ativistas ou escutar Lorde (John) Browne descrevendo como sua
empresa, a British Petroleum (BP), é "verde" -
embora ela continue ganhando dinheiro com a venda de petróleo
Considerem-se,
também, as crescentes listas nas páginas de "Vitórias"
nos sites de organizações ativistas como a Rainforest
Action Network (RAN). Entre seus troféus está o Citigroup.
A RAN fez uma campanha para a gigante financeira adotar políticas
para reduzir a destruição de ambientes naturais e
as mudanças climáticas, conclamando consumidores a
destruírem seus Citicards e sobrecarregando a internet com
gozações maldosas a executivos nomeados. Em abril,
a RAN anunciou uma trégua, alegando que o Citi tinha concordado
com o que ela queria. Nada mau para um grupo com uma dezena de funcionários
e um orçamento de US$ 2 milhões.
Na briga entre
ONGs e companhias, tamanho não conta. Tampouco conta estar
certo. As ONGs estão conduzindo suas ações
cada vez mais dentro do sistema legal americano que é sabidamente
favorável aos queixosos e oferece o potencial de indenizações
fabulosas. (Pior, uma ação envolvendo a Nike que chegou
à Suprema Corte poderá desestimular empresas a se
envolverem em debates públicos com ativistas ao classificar
as alegações da empresa como "discurso comercial",
que não goza da proteção usual dos EUA à
liberdade de expressão.)
Qual será,
pois, a melhor política para uma empresa atacada por essas
ONGs? A ONG deve ser atacada, ignorada ou aliciada? A resposta pode
variar, a depender do tipo de negócio em que a empresa está
metida - e da natureza da ONG.
Muitos dirigentes
enfrentam pressões crescentes para conversar com seus críticos
de ONGs - mesmo que isso resulte em pouco mais que uma ação
cosmética. Muita gente imagina que empresas como Nike, Nestlé
e Shell pagaram caro ao serem visadas por campanhas barulhentas.
A lembrança
de uma campanha pode permanecer, mas as evidências de danos
são raras. Poucos clientes do Citigroup parecem ter destruído
seus cartões.
Essa falta de
impacto pode não ser totalmente surpreendente. A despeito
das manifestações de ONGs serem freqüentemente
noticiadas na mídia como se fossem a Palavra Sagrada, à
medida que foram ficando mais sofisticadas - quase empresariais
até - algumas ONGs passaram a escolher suas campanhas menos
pelo significado da causa do que por sua capacidade de atrair publicidade
e levantar doações de consumidores do mercado por
coisas que os desagradam.
No entanto,
às vezes faz sentido cooperar com ONGs, argumenta Debora
Spar, da Harvard Business School, num estudo recente.
Assim, pode
ser relativamente barato para uma empresa como a Nike, atacada por
ativistas por empregar crianças na fabricação
de tênis, acomodar-se às cobranças de ONGs,
recorrendo a outros fornecedores. Mas o custo para a ExxonMobil
reduzir sua produção de combustíveis que podem
contribuir para a mudança do clima, como a Greenpeace exige,
seria enorme: poderia defensavelmente causar o seu fechamento. Apesar
de ambientalistas terem invadido seus escritórios vestindo
fantasias de tigre (e apesar de rivais como a BP se entenderem com
ONGs), a Exxon se recusou a negociar a esse respeito.
Spar observa,
porém, que para algumas empresas compensa conversar com ativistas.
Por exemplo, a Exxon trabalhou com um grande número de ONGs
no Chade e Camarões para planejar o desenvolvimento da extração
de petróleo no Chade e o percurso de um oleoduto atravessando
os dois países. A DuPont vem cortejando ativistas locais,
durante anos, para persuadi-los a deixá-la extrair minério
para a produção de titânio num sítio
perto do Refúgio Nacional de Vida Selvagem de Okefenokee,
na Geórgia.
Nos casos em
que a marca conta, pode ser melhor negociar do que combater. Essa
foi a resposta da Nike: sua marca é decisiva para o valor
de seus tênis. A Burger King e a Wendy´s, duas cadeias
de fast-food, foram perseguidas pela Ethical Treatment of Animals
(PETA) pelo modo como os animais são criados e abatidos.
Ambas cederam rapidamente. Agora, a PETA quer mover uma ação
judicial para impedir a KFC de fazer declarações "falsas"
sobre o bem-estar dos frangos.
A Dow Chemical,
que vende para outras empresas e não para consumidores, enfrenta
problema diferente. A empresa está sendo perseguida pela
Greenpeace porque adquiriu a Union Carbide : os ativistas querem
que a Dow gaste muito dinheiro em Bhopal, palco de um terrível
desastre numa fábrica parcialmente pertencente à Union
Carbide. Por enquanto, o conselho da Dow manteve sua posição
argumentando que não adquiriu as obrigações
ambientais da Union Carbide.
Um ataque de
ONG pode causar danos no moral de empregados e no recrutamento.
Altos executivos do Citigroup odeiam ser atacados e importunados,
diz Matt Arnold, um veterano da Greenpeace com MBA em Harvard que
elaborou os detalhes da trégua. A BP nota que os profissionais
formados em universidades perguntam sobre a sua posição
sobre mudanças climáticas e direitos humanos.
O maior risco
do entendimento com ONGs talvez seja que a empresa pode, por isso
mesmo, se tornar um alvo maior. A maioria dos ambientalistas concorda
que o Citigroup trata as questões ambientais de maneira mais
inteligente que suas rivais. Ele foi visado pela mesma razão
que ONGs investem contra empresas como Nike, Home Depot, Shell e,
agora, Ford: são líderes em práticas corretas,
e se preocupam mais com sua reputação do que outras
do mesmo setor.
Isso incomoda
alguns ativistas. "Quando mais responsável se for, mais
vulnerável se fica aos ataques", diz Richard Sandbrook,
um "verde" britânico moderado que conduziu uma avaliação
do histórico ambiental do setor de mineração,
boicotada pela maioria das organizações "verdes"
que são contra a mineração. "Atacar as
que se destacam fortalece a posição dos desconfiados
nas companhias", diz Tom Burke, um ex-diretor da Friends of
the Earth que fornece consultoria sobre política ambiental
à empresa de mineração Rio Tinto.
Além
disso, quando algumas empresas fazem concessões, as ONGs
freqüentemente voltam querendo mais. A BP, que trabalhou muito
para construir um diálogo regular com uma dezena de ONGs
importantes, agora está discutindo a construção
de um oleoduto entre o Azerbaijão e a Turquia que grupos
ambientalistas e defensores de direitos humanos acham que alimentará
conflitos, corrupção e outros horrores. Andre Madec,
responsável pelas relações da Exxon com ONGs
locais no Chade, planejou uma iniciativa sobre transparência
com o governo para desencorajar a corrupção no uso
das receitas de petróleo. Ele ficou estarrecido quando grandes
ONGs locais atacaram publicamente seu esquema em vez de tentarem
ajudar a melhorá-lo, conseguindo com isso que outros governos
africanos se recusassem a considerar essa possibilidade.
Alguns ativistas
moderados acham que as campanhas estridentes podem se tornar menos
eficazes. John Elkington, dirigente da SustainAbility, empresa de
consultoria britânica, diz que grandes ONGs se recusam a reconhecer
a necessidade da responsabilização, como as companhias
faziam anteriormente. Ele acha que seu "mercado" está
ameaçado, por exemplo, por companhias que aprenderam a usar
a linguagem da responsabilidade social.
Evidentemente,
algumas companhias querem inverter o jogo. Em junho, o American
Enterprise Institute criou um site na internet - NGOWatch - com
a Federalist Society for Law and Public Policy Studies para "trazer
transparência e responsabilização ao fervilhante
mundo das ONGs".
(Valor Econômico
– 18/08/03)
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