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de qualidade de vida mostra abismo entre negros e brancos
Um abismo de
55 países separa o Brasil negro do branco: no ranking de
qualidade de vida medido pelo IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano), o negro brasileiro fica em 101º lugar, e o branco,
em 46º lugar. Os negros têm, assim, qualidade de vida
comparável à de países pobres como Vietnã
(101º lugar no ranking da ONU) e Argélia (100º
lugar), onde o desenvolvimento humano é considerado de médio
para baixo. Já os brancos, em geral, têm qualidade
de vida similar a países de alto desenvolvimento.
Esse é
o resultado de uma pesquisa feita pelo economista Marcelo Paixão,
professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Com
a mesma metodologia usada pelo Pnud (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento) para elaborar o IDH - que considera
indicadores de educação, expectativa de vida e rendimento
per capita -, Paixão calculou os índices para as populações
de negros e brancos no Brasil, referentes ao ano de 1999.
Paixão
fez o mesmo estudo para os anos de 1997 e 1998. No período,
a educação foi ao mesmo tempo o fator de maior diferença
entre negros e brancos, e o principal motivo da redução
da distância da qualidade de vida entre eles. Na expectativa
de vida, o negro também perde: vive, em média, 65,12
anos, enquanto o branco vive 71,23 anos. A expectativa de vida média
é de 68 anos no Brasil.
Leia
mais:
Brasil
negro é 101º em qualidade de vida
"Nunca vejo aeromoça negra"
"Minha profissão é de brancos"
Economista defende cotas para negros
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Brasil
negro é 101º em qualidade de vida
Um abismo de
55 países separa o Brasil negro do branco: no ranking de
qualidade de vida medido pelo IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano), o negro brasileiro fica em 101º lugar, e o branco,
em 46º lugar.
Com isso os
negros têm qualidade de vida comparável à de
países pobres como Vietnã (101º lugar no ranking
da ONU) e Argélia (100º lugar), onde o desenvolvimento
humano é considerado de médio para baixo. Já
os brancos têm qualidade de vida similar à de países
como a Croácia (46º lugar) e os Emirados Árabes
(45º lugar), de alto desenvolvimento.
Esse é
o resultado de uma pesquisa feita pelo economista Marcelo Paixão,
professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Com
a mesma metodologia usada pelo Pnud (Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento) para elaborar o IDH -que considera
indicadores de educação, expectativa de vida e rendimento
per capita-, Paixão calculou os índices para as populações
de negros e brancos no Brasil, referentes ao ano de 1999.
Em vez de negros,
porém, o pesquisador usa a terminologia afro-descendentes,
somando aqueles que o IBGE classifica como pretos e pardos. Segundo
o instituto, em 1999 a população brasileira era formada
por 54% de brancos, 5,4% de pretos e 39,9% de pardos.
No ranking de
1999 da ONU, com 162 países, o Brasil está em 69º
lugar (médio desenvolvimento humano), entre a Arábia
Saudita e as Filipinas. Nos primeiros lugares estão Noruega,
Austrália e Canadá. No último, Serra Leoa.
Paixão
fez o mesmo estudo para os anos de 1997 e 1998. No período,
a educação foi ao mesmo tempo o fator de maior diferença
entre negros e brancos e o principal motivo da redução
da distância da qualidade de vida entre eles.
Em 1997, havia
uma distância de 60 países entre negros e brancos.
Enquanto os negros ocupavam o 105º posto, os brancos vêm
se mantendo no 46º há três anos.
Em 1999, 91,7% dos brancos com mais de 15 anos eram alfabetizados,
enquanto, entre negros, essa taxa era de 80,2%. Em 1997, a taxa
era de 78% entre negros e 91% entre brancos.
"Houve
uma melhora, mas o período de apenas três anos é
insuficiente para avaliar se isso foi pontual ou se constitui uma
tendência", afirma o economista.
Na análise dos indicadores salariais, a pesquisa mostra que
a renda média familiar per capita dos brancos (2,99 salários
mínimos) é mais do que o dobro da dos negros (1,28
salário).
Na expectativa
de vida, o negro também perde: vive, em média, 65,12
anos, enquanto o branco vive 71,23 anos. No Brasil, a expectativa
de vida média é de 68 anos.
No estudo, o
economista usa dados das Pnads (Pesquisas Nacionais por Amostra
de Domicílios) realizadas pelo IBGE de 1997 a 1999 e dos
relatórios de desenvolvimento humano da ONU.
(Folha de
S. Paulo)
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"Nunca
vejo aeromoça negra"
Alex Barbosa
de Azevedo Terra, 19, escolheu uma profissão que tem sido
o caminho da ascensão social para muitos negros: jogador
de futebol. De uma família pobre de São João
de Meriti, da Baixada Fluminense, ele treina no Fluminense desde
os 12 anos. Em dezembro, marcou contra o Corinthians o primeiro
gol como profissional e teve seu nome gritado pela torcida.
Alex ainda ganha
um salário bem distante da realidade milionária dos
ídolos do futebol -cerca de R$ 1.000. Para treinar, pega
três ônibus. Por enquanto conseguiu comprar um celular
e usa o salário para ajudar a família.
Alex disse que
acompanha "por alto" as reivindicações dos
negros por melhores condições de vida. Mas percebe
o racismo no mercado de trabalho: "Nunca vejo aeromoça
negra. Deve ser porque só acham bonita a branca, quando a
negra também tem beleza".
Ele diz que
nunca se sentiu discriminado pelos outros atletas e que considera
"carinhosos" apelidos como "escurinho". "No
futebol a gente disputa de igual para igual. Basta ver que Pelé
é negro."
Fora do futebol,
o racismo é mais forte: Alex diz que, num shopping ou restaurante,
nunca recebe a mesma atenção dada a outros clientes.
"Muitos acham que todo negro é ladrãozinho, marginal.
Às vezes, a discriminação está menos
nas palavras e mais no jeito de olhar."
(Folha de
S.Paulo)
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"Minha
profissão é de brancos"
O engenheiro
civil Haroldo Antônio da Silva, 41, conta que, nos locais
onde trabalha, os fornecedores que chegam começam a negociar
com seu encarregado de obras, que é branco, achando que ele
é o engenheiro. "As pessoas nunca acham que um negro
pode ser engenheiro. Sei que minha profissão pertence aos
brancos."
No trânsito,
ele também sente preconceito. "Sempre sou parado mais
vezes em revistas policiais. Eles perguntam se sou o dono do carro
[um Astra 2000" e me olham com desconfiança quando respondo
que sim", disse.
Silva nasceu
em Queimados, na Baixada Fluminense, numa família pobre.
"Comíamos angu com sal. Aos domingos, havia pé
de galinha, e era uma festa".
Começou
a trabalhar aos 13 anos, carregando areia em caminhões. Fez
o ensino fundamental na escola pública e obteve bolsa para
o ensino médio numa escola privada. No vestibular, passou
para uma universidade privada.
Aos 20 anos,
começou a militar e integra hoje a coordenação
nacional do Movimento Negro Unificado, um dos grupos mais importantes
do país.
"Agora,
o presidente Fernando Henrique Cardoso pretende garantir cotas para
negros no funcionalismo público. Isso não é
uma dádiva, é uma conquista vinda da nossa luta",
afirmou.
(Folha de
S.Paulo)
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Economista
defende cotas para negros
Defensor de
políticas de inclusão para a população
negra, o economista Marcelo Paixão, 35, deixa claro que essas
medidas não são voltadas apenas para um pequeno grupo
de pessoas.
"Tenho
medo de usar essa expressão, políticas específicas,
porque parece que a gente está querendo política para
1% da população. É política para 45%
da população", afirma Paixão, professor
da UFRJ. Em entrevista à Folha, o economista falou de desigualdade,
de racismo e de cotas:
Melhoras nos indicadores de educação reduziram
a distância entre negros e brancos. As políticas universalistas
aplicadas pelo governo na educação, então,
estão gerando resultado?
Marcelo Paixão - Está ocorrendo uma expansão
do sistema de matrículas e uma redução do analfabetismo.
Mas não estou concluindo que a qualidade do ensino está
melhorando. Não dá para dizer que essa universalização
tem se traduzido em melhora do ensino.
A taxa de alfabetização
entre negros e brancos ainda é muito discrepante. Tem algum
fator que expulsou o negro da sala de aula e continua expulsando.
Além do mais, três anos é um período
muito pequeno, não revela tendência. A distância
[entre negros e brancos" anda é muito grande,e a evolução
foi muito pequena.
O sr. defende a aplicação de políticas específicas
para a população negra?
Paixão - O problema da educação é um
problema-chave, mas é só um dos problemas na situação
dos negros. Tem de ter uma política mais integrada, com acesso
aos serviços de uso coletivo.
A população
negra precisa ser alvo de políticas específicas. Tenho
medo de usar essa expressão, políticas específicas,
porque parece que a gente está querendo política para
1% da população. É política para 45%
da população.
Política
específica parece política para minoria, coisa dos
Estados Unidos. Precisamos de uma reinterpretação
do sentido das políticas universais, que, apesar de terem
esse nome, estão deixando de fora uma grande parte da população.
O que o sr. acha da proposta de cotas no ensino superior para
negros?
Paixão - Sou favorável. Não acho que deva ser
uma medida para sempre, mas acaba sendo uma forma de corrigir as
desigualdades. Muita gente acha que o problema reside na melhoria
do ensino básico.
Mas, se você
for educar melhor a criança negra de hoje para que ela possa
fazer o vestibular, você está postergando a solução
em dez, 11 anos. Os jovens atuais ficam à parte. As políticas
públicas têm de se voltar para as injustiças.
Mas os negros beneficiados por cotas não enfrentariam
ainda mais preconceito?
Paixão - Não é possível que você
jogue os negros nas universidades sem nenhum tipo de condição
ou estrutura, sem preparo dos professores, sem bolsa. Aí
a política vai dar errado por definição.
Mas, tendo acompanhamento
e preparo para tratar com uma sala de aula mais diversa, essa política
vai fazer bem ao Brasil.
Mesmo um negro de classe alta, que estudou em boas escolas particulares,
poderia se beneficiar dessa cota?
Paixão - Falo até pela minha própria experiência.
É um fato que os negros que estudam em colégios mais
sofisticados enfrentam lá o racismo mais forte, e inclusive
o rendimento deles é afetado. De modo que, se eles reivindicarem
esse direito, não vejo problema.
Se não
quiserem se habilitar para essa cota, é um direito deles.
O aluno vai decidir se quer ou não fazer jus a essa cota.
(Folha de
S. Paulo)
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