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Semana de 07.01.02 a 13.01.02

 

Índice de qualidade de vida mostra abismo entre negros e brancos

Um abismo de 55 países separa o Brasil negro do branco: no ranking de qualidade de vida medido pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o negro brasileiro fica em 101º lugar, e o branco, em 46º lugar. Os negros têm, assim, qualidade de vida comparável à de países pobres como Vietnã (101º lugar no ranking da ONU) e Argélia (100º lugar), onde o desenvolvimento humano é considerado de médio para baixo. Já os brancos, em geral, têm qualidade de vida similar a países de alto desenvolvimento.

Esse é o resultado de uma pesquisa feita pelo economista Marcelo Paixão, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Com a mesma metodologia usada pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) para elaborar o IDH - que considera indicadores de educação, expectativa de vida e rendimento per capita -, Paixão calculou os índices para as populações de negros e brancos no Brasil, referentes ao ano de 1999.

Paixão fez o mesmo estudo para os anos de 1997 e 1998. No período, a educação foi ao mesmo tempo o fator de maior diferença entre negros e brancos, e o principal motivo da redução da distância da qualidade de vida entre eles. Na expectativa de vida, o negro também perde: vive, em média, 65,12 anos, enquanto o branco vive 71,23 anos. A expectativa de vida média é de 68 anos no Brasil.

Leia mais:

Brasil negro é 101º em qualidade de vida

"Nunca vejo aeromoça negra"

"Minha profissão é de brancos"

Economista defende cotas para negros

 
 
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Brasil negro é 101º em qualidade de vida

Um abismo de 55 países separa o Brasil negro do branco: no ranking de qualidade de vida medido pelo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), o negro brasileiro fica em 101º lugar, e o branco, em 46º lugar.

Com isso os negros têm qualidade de vida comparável à de países pobres como Vietnã (101º lugar no ranking da ONU) e Argélia (100º lugar), onde o desenvolvimento humano é considerado de médio para baixo. Já os brancos têm qualidade de vida similar à de países como a Croácia (46º lugar) e os Emirados Árabes (45º lugar), de alto desenvolvimento.

Esse é o resultado de uma pesquisa feita pelo economista Marcelo Paixão, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Com a mesma metodologia usada pelo Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) para elaborar o IDH -que considera indicadores de educação, expectativa de vida e rendimento per capita-, Paixão calculou os índices para as populações de negros e brancos no Brasil, referentes ao ano de 1999.

Em vez de negros, porém, o pesquisador usa a terminologia afro-descendentes, somando aqueles que o IBGE classifica como pretos e pardos. Segundo o instituto, em 1999 a população brasileira era formada por 54% de brancos, 5,4% de pretos e 39,9% de pardos.

No ranking de 1999 da ONU, com 162 países, o Brasil está em 69º lugar (médio desenvolvimento humano), entre a Arábia Saudita e as Filipinas. Nos primeiros lugares estão Noruega, Austrália e Canadá. No último, Serra Leoa.

Paixão fez o mesmo estudo para os anos de 1997 e 1998. No período, a educação foi ao mesmo tempo o fator de maior diferença entre negros e brancos e o principal motivo da redução da distância da qualidade de vida entre eles.

Em 1997, havia uma distância de 60 países entre negros e brancos. Enquanto os negros ocupavam o 105º posto, os brancos vêm se mantendo no 46º há três anos.
Em 1999, 91,7% dos brancos com mais de 15 anos eram alfabetizados, enquanto, entre negros, essa taxa era de 80,2%. Em 1997, a taxa era de 78% entre negros e 91% entre brancos.

"Houve uma melhora, mas o período de apenas três anos é insuficiente para avaliar se isso foi pontual ou se constitui uma tendência", afirma o economista.
Na análise dos indicadores salariais, a pesquisa mostra que a renda média familiar per capita dos brancos (2,99 salários mínimos) é mais do que o dobro da dos negros (1,28 salário).

Na expectativa de vida, o negro também perde: vive, em média, 65,12 anos, enquanto o branco vive 71,23 anos. No Brasil, a expectativa de vida média é de 68 anos.

No estudo, o economista usa dados das Pnads (Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios) realizadas pelo IBGE de 1997 a 1999 e dos relatórios de desenvolvimento humano da ONU.

(Folha de S. Paulo)

 
 
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"Nunca vejo aeromoça negra"

Alex Barbosa de Azevedo Terra, 19, escolheu uma profissão que tem sido o caminho da ascensão social para muitos negros: jogador de futebol. De uma família pobre de São João de Meriti, da Baixada Fluminense, ele treina no Fluminense desde os 12 anos. Em dezembro, marcou contra o Corinthians o primeiro gol como profissional e teve seu nome gritado pela torcida.

Alex ainda ganha um salário bem distante da realidade milionária dos ídolos do futebol -cerca de R$ 1.000. Para treinar, pega três ônibus. Por enquanto conseguiu comprar um celular e usa o salário para ajudar a família.

Alex disse que acompanha "por alto" as reivindicações dos negros por melhores condições de vida. Mas percebe o racismo no mercado de trabalho: "Nunca vejo aeromoça negra. Deve ser porque só acham bonita a branca, quando a negra também tem beleza".

Ele diz que nunca se sentiu discriminado pelos outros atletas e que considera "carinhosos" apelidos como "escurinho". "No futebol a gente disputa de igual para igual. Basta ver que Pelé é negro."

Fora do futebol, o racismo é mais forte: Alex diz que, num shopping ou restaurante, nunca recebe a mesma atenção dada a outros clientes. "Muitos acham que todo negro é ladrãozinho, marginal. Às vezes, a discriminação está menos nas palavras e mais no jeito de olhar."

(Folha de S.Paulo)

 
 
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"Minha profissão é de brancos"

O engenheiro civil Haroldo Antônio da Silva, 41, conta que, nos locais onde trabalha, os fornecedores que chegam começam a negociar com seu encarregado de obras, que é branco, achando que ele é o engenheiro. "As pessoas nunca acham que um negro pode ser engenheiro. Sei que minha profissão pertence aos brancos."

No trânsito, ele também sente preconceito. "Sempre sou parado mais vezes em revistas policiais. Eles perguntam se sou o dono do carro [um Astra 2000" e me olham com desconfiança quando respondo que sim", disse.

Silva nasceu em Queimados, na Baixada Fluminense, numa família pobre. "Comíamos angu com sal. Aos domingos, havia pé de galinha, e era uma festa".

Começou a trabalhar aos 13 anos, carregando areia em caminhões. Fez o ensino fundamental na escola pública e obteve bolsa para o ensino médio numa escola privada. No vestibular, passou para uma universidade privada.

Aos 20 anos, começou a militar e integra hoje a coordenação nacional do Movimento Negro Unificado, um dos grupos mais importantes do país.

"Agora, o presidente Fernando Henrique Cardoso pretende garantir cotas para negros no funcionalismo público. Isso não é uma dádiva, é uma conquista vinda da nossa luta", afirmou.

(Folha de S.Paulo)

 
 
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Economista defende cotas para negros

Defensor de políticas de inclusão para a população negra, o economista Marcelo Paixão, 35, deixa claro que essas medidas não são voltadas apenas para um pequeno grupo de pessoas.

"Tenho medo de usar essa expressão, políticas específicas, porque parece que a gente está querendo política para 1% da população. É política para 45% da população", afirma Paixão, professor da UFRJ. Em entrevista à Folha, o economista falou de desigualdade, de racismo e de cotas:


Melhoras nos indicadores de educação reduziram a distância entre negros e brancos. As políticas universalistas aplicadas pelo governo na educação, então, estão gerando resultado?
Marcelo Paixão - Está ocorrendo uma expansão do sistema de matrículas e uma redução do analfabetismo. Mas não estou concluindo que a qualidade do ensino está melhorando. Não dá para dizer que essa universalização tem se traduzido em melhora do ensino.

A taxa de alfabetização entre negros e brancos ainda é muito discrepante. Tem algum fator que expulsou o negro da sala de aula e continua expulsando. Além do mais, três anos é um período muito pequeno, não revela tendência. A distância [entre negros e brancos" anda é muito grande,e a evolução foi muito pequena.


O sr. defende a aplicação de políticas específicas para a população negra?

Paixão - O problema da educação é um problema-chave, mas é só um dos problemas na situação dos negros. Tem de ter uma política mais integrada, com acesso aos serviços de uso coletivo.

A população negra precisa ser alvo de políticas específicas. Tenho medo de usar essa expressão, políticas específicas, porque parece que a gente está querendo política para 1% da população. É política para 45% da população.

Política específica parece política para minoria, coisa dos Estados Unidos. Precisamos de uma reinterpretação do sentido das políticas universais, que, apesar de terem esse nome, estão deixando de fora uma grande parte da população.


O que o sr. acha da proposta de cotas no ensino superior para negros?
Paixão - Sou favorável. Não acho que deva ser uma medida para sempre, mas acaba sendo uma forma de corrigir as desigualdades. Muita gente acha que o problema reside na melhoria do ensino básico.

Mas, se você for educar melhor a criança negra de hoje para que ela possa fazer o vestibular, você está postergando a solução em dez, 11 anos. Os jovens atuais ficam à parte. As políticas públicas têm de se voltar para as injustiças.


Mas os negros beneficiados por cotas não enfrentariam ainda mais preconceito?
Paixão - Não é possível que você jogue os negros nas universidades sem nenhum tipo de condição ou estrutura, sem preparo dos professores, sem bolsa. Aí a política vai dar errado por definição.

Mas, tendo acompanhamento e preparo para tratar com uma sala de aula mais diversa, essa política vai fazer bem ao Brasil.


Mesmo um negro de classe alta, que estudou em boas escolas particulares, poderia se beneficiar dessa cota?
Paixão - Falo até pela minha própria experiência. É um fato que os negros que estudam em colégios mais sofisticados enfrentam lá o racismo mais forte, e inclusive o rendimento deles é afetado. De modo que, se eles reivindicarem esse direito, não vejo problema.

Se não quiserem se habilitar para essa cota, é um direito deles. O aluno vai decidir se quer ou não fazer jus a essa cota.

(Folha de S. Paulo)

 
 
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