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08/11/2007

Entre os desempregados, só 18% estão qualificados

Indústrias químicas e petroquímicas são as que têm maior carência de mão-de-obra qualificada ou com experiência profissional no Brasil, segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O estudo revelou que, nesse segmento, 25.353 vagas não serão ocupadas neste ano por esse motivo. O resultado é a diferença entre as estimativas de oferta de mão-de-obra preparada e geração de empregos formais em 2007.

A pesquisa Demanda e Perfil dos Trabalhadores Formais em 2007 considerou informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Nesse trabalho, a indústria é o setor com maior déficit de trabalhadores qualificados ou com experiência profissional. A estimativa de oferta de mão-de-obra é de 329.035 pessoas, mas a expectativa de geração de empregos formais é de 445.628 vagas. Portanto, as empresas industriais ficarão com 116.593 vagas ociosas.

Apesar desses números, o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, comentou que não há necessidade de importação de mão-de-obra. "Falta gente preparada, mas o cenário é de excesso de mão-de-obra", disse. Nesse cenário, defendeu a necessidade de planejar um modelo de desenvolvimento econômico que equilibre a oferta de trabalhadores e a geração de empregos. Disse que um perfil exportador de commodities não vai dar empregos à classe média.

Pochmann sugeriu a criação de um sistema nacional integrado com foco na formação profissional e na intermediação de empregos, combinando oferta e demanda. O exemplo citado foi o da requalificação dos trabalhadores da indústria naval no Japão dos anos 70. Eles foram preparados para a produção de eletroeletrônicos.

Ele também afirmou que as empresas privadas não investem em qualificação porque não há confiança mútua entre empregadores e empregados. Esse problema é revelado pela alta rotatividade (42%) do mercado de trabalho, taxa duas vezes maior que a da economia americana.

No setor industrial, depois das empresas químicas e petroquímicas, a maior carência está no segmento de produtos de transporte, com previsão de 23.495 vagas sem preenchimento neste ano. Outros setores industriais com projeção de déficit em 2007 são: produtos mecânicos (21.444), extração mineral (20.846), produtos minerais metálicos (15.756), serviços urbanitários (14.135), produtos eletroeletrônicos/comunicação/medicina (11.879), têxtil/vestuário/calçados (10.286), produtos de borracha/plástico (8.931) e alimentos/bebidas/fumo (4.639).

No comércio, o quadro também é de falta de profissionais qualificados. A previsão do Ipea é de 6.750 postos vagos este ano. Três setores - construção civil, agropecuária/extrativismo e serviços - têm situação oposta à da indústria e do comércio. Nesses casos, há mais profissionais qualificados que vagas disponíveis.

Na construção, apesar da recente recuperação da atividade, 76.161 trabalhadores têm qualificação ou experiência, mas ainda não há demanda para eles em 2007. Na agropecuária, o contingente é pouco menor (75.864) e nos serviços esse grupo deve ser de 55.340 pessoas.

De acordo com o estudo do Ipea, este ano haverá 9,13 milhões de pessoas procurando emprego, mas, nesse grupo, apenas 18,3% (1,67 milhão) têm qualificação ou experiência profissional. O perfil da demanda de emprego formal nos setores com carência de mão-de-obra tem, para 2007, as seguintes projeções de médias ponderadas: 33,8 anos de idade, 9,3 anos de escolaridade e R$ 942,8 de remuneração.

Segundo o Ipea, há maior demanda por profissionais homens (63%), não negros (58%), com idade entre 31 e 37 anos, que tenham escolaridade entre 8,2 e 13,1 anos, nas áreas industriais (34%), ou de atendimento público (27%), com remuneração entre R$ 640 (indústrias têxteis e de calçados) e R$ 1.916 (setor financeiro).

Em uma análise genérica, considerando apenas os números absolutos e desprezando regiões e setores, o levantamento do Ipea mostrou que o país tem mais profissionais qualificados que vagas disponíveis. Neste ano, a previsão é a de serem criadas 1,59 milhão de vagas, mas há 1,67 milhão de trabalhadores qualificados. O saldo entre a oferta de mão-de-obra e a demanda é positivo em pouco mais de 84 mil pessoas.

Pochmann também revelou que, em termos regionais, o crescimento e a descentralização desenharam uma nova geo-economia do emprego no Brasil. A região Norte é a que têm a maior carência de profissionais qualificados. Esse quadro também existe no Sul e no Centro-Oeste. No Nordeste e no Sudeste, a situação é oposta, com excesso de mão-de-obra qualificada.


Arnaldo Galvão
O Valor Econômico.