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Pesquisa Folha


São Paulo descobre suas crianças superdotadas

Pesquisa em 3 escolas públicas da cidade mostra que perto de 20% dos estudantes têm ‘altas habilidades’


As escolas públicas têm mais crianças superdotadas do que se imagina. Um levantamento recém-concluído descobriu que, em três colégios municipais de regiões pobres da zona sul de São Paulo, 18,5% dos estudantes são superdotados - praticamente 1 em cada 5 alunos. A maioria nem sequer imaginava isso.

O estudo foi feito ao longo dos últimos dois anos pela Associação Paulista para Altas Habilidades/Superdotação (Apahsd). Aplicaram-se testes em alunos de 3 a 13 anos. Das 350 crianças, 65 foram consideradas superdotadas.

Segundo a presidente da Apahsd, Ada Toscanini, o número mostra que professores e diretores não sabem identificar esse estudante. “As crianças não são estimuladas. Por falta de incentivo, os talentos acabam se perdendo”, diz ela, que apresentará o estudo hoje, em São Paulo, no 1º Congresso Paulista para Altas Habilidades e Superdotação.

Conceito equivocado
Diferentemente do que se imagina, a criança superdotada não é necessariamente um “gênio”. Por causa dessa confusão, a palavra “superdotado” está sendo substituída pela expressão “com altas habilidades”. O aluno com essa característica está acima da média na escola, nos esportes, nas artes, na criatividade ou na liderança. No caso da habilidade intelectual, o estudante pode ter um desempenho excepcional em determinada disciplina escolar, mas não ser bom nas demais. Calcula-se que de 15% a 20% da população tenha altas habilidades.

Muitas crianças nessa situação se desinteressam das aulas, por considerá-las fáceis demais. Acabam recebendo diagnóstico de hiperatividade ou déficit de atenção e chegam a tomar remédios. O desafio é oferecer-lhes atividades extras, mais complexas, fora do horário de aula.

Outro problema é o fato de as famílias dos alunos de escolas públicas nem sempre terem condições financeiras para estimular seus pequenos superdotados. A Apahsd recebe esse tipo de criança gratuitamente, mas muitas, moradoras de favelas de São Paulo, deixam de ir por não terem o dinheiro do ônibus.

A subnotificação dos superdotados se vê nas estatísticas oficiais. Do total de 55,9 milhões de estudantes do ensino básico (da educação infantil ao ensino médio), as escolas públicas e particulares informaram ao Ministério da Educação, para o último Censo Escolar, que existem apenas 2.769 alunos com altas habilidades no País - ínfimo 0,005%.

No ano passado, o Ministério da Educação destinou R$ 2 milhões aos Estados para criarem núcleos de altas habilidades. Pouco mais de 2 mil alunos freqüentam esses locais, onde desenvolvem seus potenciais. Cerca de 3,3 mil professores foram treinados para aprender a lidar com os superdotados na escola.


Ricardo Westin
O Estado de S.Paulo