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trabalho
03/11/2004
Lojas repõem emprego com temporários e renda menor

O emprego temporário no comércio para atender a demanda de final de ano crescerá de forma significativa neste ano em relação ao fraco ano passado por conta da recuperação da economia. Nas lojas de shoppings, a expectativa é de aumento de até 75%.

O que parece ser mais um bom indicador econômico esconde, entretanto, uma má notícia. As lojas reduziram muito os seus funcionários e agora precisam contratar temporários para repor os empregos liqüidados. Foram extintos 40 mil postos de trabalho na cidade de São Paulo nos últimos quatro anos, considerando o mesmo número de lojas.

Para repor parte dessas demissões, os lojistas estão contratando temporários que ganham menos do que os funcionários com carteira e impondo jornadas de trabalho mais longas. Pior: eles não têm planos para que os temporários sejam efetivados em 2005, segundo a Folha apurou.

Os comerciantes de São Paulo devem contratar 35 mil temporários -8,5% do total de empregos do comércio na cidade- neste final de ano no município de São Paulo. Isso significa 75% a mais do que em igual período do ano passado, segundo levantamento do Sindicato dos Empregados no Comércio de São Paulo. A Casas Bahia, por exemplo, abriu na semana passada 2.000 vagas para temporários. O grupo Pão de Açúcar, 6.000. O melhor ano para o comércio de São Paulo foi 2000, quando foram criadas 80 mil vagas temporárias no final de ano.

Os lojistas de shopping centers estimam que serão abertas 70 mil vagas temporárias em 58.630 lojas espalhadas por 572 estabelecimentos do país. Em 2003, foram criadas 40 mil vagas. Mas boa parte desse crescimento se deve à abertura de 18 shopping centers no país. "Essas vagas surgiram mais em função dos novos estabelecimentos do que pela recuperação econômica", diz Nabil Sahyoun, presidente da Alshop (associação dos lojistas de shoppings).

Na tentativa de reduzir custos e se tornar mais competitivo, o comércio trocou empregos com salários mais altos por mais baixos.

"No comércio, a maioria dos demitidos está na faixa salarial de R$ 1.100 a R$ 1.200.
Já os contratados, na faixa de R$ 600 a R$ 700. Isso ocorreu principalmente de junho de 2003 até maio deste ano em todos as funções. Essa tendência só foi interrompida porque o frio mais intenso melhorou as vendas neste ano", afirma Ricardo Patah, presidente do sindicato.

Segundo o sindicalista, a situação do emprego no comércio só não é pior porque os supermercados abriram mais lojas e multinacionais entraram nas vendas de materiais de construção e produtos de decoração e jardinagem.

Ganhando menos do que o trabalhador registrado e mais "precavido" com o dinheiro no bolso, o empregado temporário vai usar o salário para quitar dívidas e não para consumir, segundo economistas consultados pela Folha.

"O temporário não vai fazer um crediário nem torrar o salário em um mês se já sabe que em janeiro não tem mais emprego. Por isso, o impacto dessas contratações para a economia é muito pequeno", afirma Clemente Ganz Lúcio, diretor-técnico do Dieese.

"O emprego temporário não vai se sustentar porque a recuperação da renda do trabalhador e da massa salarial [soma de todos os salários dos trabalhadores] é tímida", diz o economista Claudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp.

Ele cita como exemplo a massa de rendimento dos trabalhadores ocupados na Grande São Paulo. Em janeiro deste ano foi de R$ 6,13 bilhões. Em agosto foi de R$ 6,39 bilhões -se manteve praticamente estável. Ou seja, apesar do aumento do emprego, a massa salarial pouco se alterou.

"Para que o emprego temporário do final do ano pudesse ser mantido no início de 2005, seria necessário que essa massa salarial tivesse um crescimento de, no mínimo, 10% neste ano. A renda tem de crescer em um ritmo maior do que o do emprego. Mas hoje não é isso o que ocorre", diz Dedecca.

Na indústria
As contratações de temporários na indústria foram mais concentradas no início do segundo semestre, já que as empresas precisam se preparar antes para atender as encomendas do comércio. A estimativa é que o aumento foi de 4% a 5% sobre o ano passado.

"As vagas temporárias na indústria ocorreram principalmente nos setores sazonais, como bebidas e alimentos [produtos natalinos]", diz Claudio Vaz, presidente do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo).

Contratos por tempo determinado também ocorreram em setores que tiveram bom desempenho por causa das exportações -caso das indústrias de automóveis e agronegócios.

A DaimlerChrysler (Mercedes-Benz) anunciou na semana passada a contratação de 650 trabalhadores pelo prazo de um ano para a fábrica de São Bernardo, onde produz caminhões e ônibus.

No ABC paulista, a agência de emprego Adecco recebeu nos últimos dois meses pedido das indústrias para contratar trabalhadores temporários para o setor de cosméticos e de embalagens.

"São vagas com base na lei nº 6.019, que regula o trabalho temporário. O salário é de R$ 550. Por dia, recebemos cerca de 40 candidatos interessados em uma vaga temporária", diz Renato Frausto, gerente de uma filial da Adecco.

A lei citada, de 1974, autoriza admissão de temporários por aumento da produção e da demanda e em substituições legais (férias e licença-maternidade).

CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
da Folha de S.Paulo

   
 
 
 

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