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pesquisa
07/03/2005
Gravidez tira da escola 25% das adolescentes

Dados da Unesco e do Ministério da Saúde mostram que a gravidez precoce e as dificuldades dela decorrentes já respondem pela terceira causa de óbitos entre as mulheres jovens do Brasil, perdendo apenas para homicídios e acidentes de transporte. E mais: dados preliminares da Unesco mostram que 25% das meninas entre 15 e 17 anos que deixam a escola o fazem por causa da gravidez, mostrando que a maternidade antecipada já é a principal causa de evasão escolar de meninas nesta faixa etária. Segundo a Unesco, das meninas de 15 a 17 que não estudam, 31% residem no Nordeste. No país, 71% moram no interior e 12% nas periferias.

Os dados, ainda inéditos, constam de três pesquisas em fase de conclusão. Uma é do Ministério da Saúde: o “Saúde Brasil 2005”, segunda versão do mapa do setor produzido anualmente pelo governo federal. Outras duas são da Unesco “Juventudes Brasileiras” e “Juventudes e Sexualidade”, sendo que a última será lançada hoje em solenidade no Ministério da Educação.

Somente entre 2001 e 2003, nasceram no país 82.834 bebês cujas mães têm entre 10 e 14 anos. Outros dois milhões são filhos de jovens entre 15 e 19.

A gravidez realmente está se tornando um grande problema na educação. Se 25% das meninas de 15 a 17 anos grávidas deixam a escola, isso significa dizer que 254 mil páram anualmente de estudar. E 2%, ou seja, outras 20 mil, abandonam os estudos para casar — afirma Miriam Abramovay, professora da Universidade Católica de Brasília, vice-coordenadora do Observatório Violência nas Escolas-Brasil e uma das coordenadoras da pesquisa “Juventudes Brasileiras”, da Unesco.

Palestras contra a evasão escolar
No município de Vicência, a 87 quilômetros de Recife, 40% das estudantes da única escola municipal do distrito de Murupé estavam grávidas há dois anos. Diante disso, a então secretária de Educação Sara Lima implantou uma programação de palestras para evitar a evasão escolar. Segundo o atual secretário, Adilson Carlos Pereira, o problema agora está contornado. Hoje secretária-executiva de Educação de Pernambuco, Sara diz que, no segundo semestre, o estado vai dar início a um programa de prevenção à gravidez precoce nas escolas.

Segundo a coordenadora de Informações e Análises Epidemiológicas da Secretaria Nacional de Vigilância de Saúde, Maria de Fátima Marinho de Souza, os óbitos atribuídos às causas provocadas pela gravidez precoce vêm se mantendo no terceiro lugar na estatística geral de mortes na faixa etária de 15 a 19 anos, desde 2001. Em 2003, data do último levantamento que constará no Mapa da Saúde desse ano, a situação não é diferente. Gravidez, parto e puerpério indicam taxa de mortalidade de 2,7 por cada grupo de cem mil jovens naquela faixa etária.

Ou seja, a morte provocada por gravidez precoce e suas conseqüências só perde no Brasil, entre garotas de 15 a 19 anos, para causas violentas, como os acidentes de trânsito (7 por 100 mil) e homicídios (6,5 por 100 mil). No Norte, os óbitos femininos pelos mesmos motivos ainda são mais preocupantes: 5,7 por 100 mil para as jovens de 15 a 19 anos.

Mães meninas geram 10.200 bebês
No Norte e no Nordeste é onde nasce o maior percentual de bebês de mães com idades entre 10 e 14 anos. Em números absolutos, o Nordeste é a região mais fértil: são mais de 10.200 bebês que nascem a cada ano de mães meninas. E os números não mudam muito de um ano para outro.

Em Recife, a ONG Cais do Parto, que trabalha com humanização do parto e educação sexual para adolescentes, começou a percorrer escolas procurando um público-alvo de 13 a 18 anos, mas teve que mudar de faixa etária.

A maioria das meninas já tinha atividade sexual e engravidado. Baixamos a faixa etária para a pré-adolescência, que é quando elas começam a fazer sexo, entre 9 e 13 anos, conta Suely Carneiro, coordenadora do Cais do Parto.

Habituada a lidar com um público muito jovem, Suely faz um alerta:
Normalmente, as adolescentes jogam os filhos para os avós criarem e tentam trabalhar para sustentá-los. Muitas deixam a escola e nunca mais voltam. E a reincindência na gravidez é grande. Temos uma geração de pais inexperientes e confusos, cujos filhos podem se transformar em adultos sem referências.

Em Pernambuco, em 2003, nasceram mais de 1.500 bebês de mães com idade entre 10 e 14 anos. Outros 226.102 foram gerados por jovens entre 15 e 19 anos, segundo o Ministério da Saúde. Já os dados da Unesco indicam que, em quatro capitais, o percentual de meninas que dizem ter conhecimento de colegas grávidas varia de 54,2 a 76,3%.

Em Recife, 36,9% das alunas menores de 18 anos já ficaram grávidas pelo menos uma vez. E em Fortaleza e Cuiabá, a quantidade de meninas das escolas públicas que já ficaram grávidas varia entre 33,3% e 22,2%.


LETÍCIA LINS
do jornal O Globo

   
 
 
 

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