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economia
07/04/2005
O efeito dos juros altos

Para entender o comportamento da produção industrial dos últimos meses, é preciso saber qual a diferença entre marcha à ré, freada e desaceleração (tirada de pé).

A produção industrial está perdendo velocidade, mas não há elementos conclusivos para afirmar que esteja dando marcha à ré. Ainda assim, o mercado financeiro baqueou: a Bolsa arriou 1,95% e os juros recuaram no mercado futuro, dando a entender que a política do Banco Central afinal está mostrando serviço.

Os números divulgados ontem pelo IBGE apontam uma queda de 1,2% da produção industrial em fevereiro em relação a janeiro, retração maior do que a esperada. Em relação ao mês anterior, foi a mais alta desde junho de 2003.

Esse número precisa ser bem medido. Em relação a fevereiro do ano passado, houve aumento de produção de 4,4% e o acumulado dos dois primeiros meses do ano em comparação com o de 2004 mostra crescimento de 5,2%.

Fevereiro é mês mais curto e quase sempre, como neste ano, tem carnaval, o que tende a provocar distorções. Mesmo assim, a série estatística deixa transparecer perda de velocidade da atividade industrial. É que o desempenho de dezembro de 2004 sobre dezembro de 2003 havia sido de crescimento de 6,1%. E o dos 12 meses terminados em janeiro, por sua vez, tinha sido também bom, de crescimento de 6,3%. Diante desses números, o avanço de 4,4% de fevereiro sobre fevereiro de 2004 mostra nítida desaceleração.

A pergunta óbvia é se esse efeito não tem a ver com a política de juros, em alta desde setembro, num total de 325 pontos-base (de 16,0% ao ano a 19,25% ao ano), uma enormidade.

Num aparente paradoxo, os segmentos que teoricamente mais dependem dos juros, nos quais prevalece o crédito ao consumidor, foram os que mostraram mais dinamismo. Em 12 meses (até fevereiro), o setor de veículos cresceu 15,4% e o de material eletrônico, 20,4%. Os dados mais recentes confirmam esse desempenho.

É que, nessas duas áreas, houve aumento do crédito. O crédito consignado (desconto em folha) cresceu mais de 100% em doze meses (terminados em fevereiro). E isso aconteceu não porque os juros ficaram mais acessíveis, mas porque, nessa faixa, a concorrência entre os bancos aumentou e estes vêm concordando com ampliação do número de prestações. Porque há mais prazo para pagar o banco, o resultado é queda da despesa mensal na compra de um produto financiado, mesmo com juros mais altos. Em outras palavras, a prestação passou a caber melhor no orçamento do consumidor e, nessas condições, vai ajudando a azeitar as vendas de produtos duráveis.

Outra faixa de produção que até parece estimular-se com os juros altos é a das exportações. Como foi apontado nesta coluna na última terça-feira, o embarque de manufaturados, que pesam 53,4% no total exportado, cresceu no último trimestre (março incluído) nada menos que 39,7%. Mas as outras áreas, como a farmacêutica, a de bebidas e a de alimentos, mostram mais o impacto dos juros altos e do recuo da renda do consumidor. Aí, a pisada no freio ficou muito mais nítida.

Esse lado ruim (retração de parte da indústria) tem ao menos um lado bom: o de que já não há mais a ameaça de inflação de demanda (alta de preços por falta de mercadoria), que vinha induzindo o Banco Central a adotar uma política retrancada nos juros.

Isso não significa ainda que o jogo vá mudar na próxima reunião do Copom, dia 20. Os juros ainda podem subir. Mas a perspectiva de alívio está mais visível. Se os preços do petróleo seguirem baixando no mercado internacional, cairá o risco de inflação mundial e os juros não terão de subir mais rapidamente, como tanta gente vinha temendo. Nessas condições, parte da turbulência externa estará afastada e o Banco Central poderá voltar a permitir que a economia interna se acelere.

CELSO MING
do o Estado de S. Paulo

   
 
 
 

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