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entrevISTA
08/11/2004
Pobres sofrerão mais por causa do descaso ambiental

Aumento da temperatura global, furacões, secas e inundações. O cenário que surge das previsões dos estudiosos que acompanham as mudanças ambientais pelo planeta não é dos mais animadores. E, eles alertam, direta ou indiretamente, cada uma dessas alterações climáticas terá profundo impacto sobre a saúde humana.

Segundo o epidemiologista Carlos Corvalán, especialista em saúde ocupacional e ambiental da Organização Mundial de Saúde,o impacto maior será sobre as populações dos países pobres. E deve refletir e acentuar ainda mais as desigualdades sociais já existentes. Corvalán esteve na terça, 19, na Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, onde deu uma palestra sobre o tema para alunos da Escola Nacional de Saúde Pública.

“Não há como deter as mudanças climáticas que já estão em curso e suas consequências. Tudo o que se pode fazer é criar estratégias de adaptação”, diz. Ele explica como essa lógica perversa acontece. “Se por um lado, os países ricos são os maiores emissores de gases e também os maiores poluentes do planeta, de outro, as nações que têm menos recursos são também as mais vulneráveis e com menos possibilidades de adaptar-se ao impacto provocado por essas mudanças. E mesmo nestes países, serão também os mais pobres os mais afetados”, diz.. Veja abaixo a entrevista concedida ao Viva Favela:

Quais as alterações climáticas mais significativas neste último século?
A maioria dos trabalhos que se conhece são feitos por membros de um Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas, espalhados em vários pontos do mundo, e que se reúnem a cada quatro anos para fazer avaliações. A década de 1990 foi a mais quente do último século. Nestes últimos cem anos, o aumento da temperatura global foi de 0,6 grau, o que já é bastante significativo, mas ainda vai subir bem mais. As projeções para este século apontam um aquecimento entre 1,4 a 5,8 graus, o que significa uma mudança bem mais rápida do que a que ocorreu nos últimos dez mil anos. Essa é apenas uma das várias alterações que vêm ocorrendo no clima do planeta.

E que consequências esse aquecimento tem sobre a saúde das pessoas?
Em certas regiões, essas ondas de calor às vezes vêm combinadas com a contaminação do ar, provocando problemas respiratórios e cardíacos. Também nesses casos, devido às desigualdades sociais, quem estiver em ambientes refrigerados certamente será bem menos afetado por tudo isso. Pobres, idosos e crianças sofrerão mais.

Além do aquecimento global, já em curso, como será o panorama ambiental mundial que os estudiosos estão prevendo?
Calcula-se que o nível do mar suba entre 9 e 88cm até 2100. Como consequências diretas, haverá um maior número de furacões, inundações, secas e serão ainda mais intensas as influências de fenômenos como o El Nino. Também nesses casos, são os países pobres que sofrem maior impacto, particularmente as populações que vivem às margens de rios, em lugares de risco. As conseqüências indiretas, e também as mais complexas, são, por exemplo, os prejuízos à lavoura, a fome e a migração de populações rurais para as cidades, onde passam por todo tipo de dificuldades de adaptação. Deve-se incluir aí também os danos à saúde mental que todas essas mudanças podem trazer ao modo de vida dessas pessoas.

Neste quadro, o que se pode esperar em termos de saúde?
Serão várias as conseqüências. Desde a alteração na distribuição de vetores por novas áreas geográficas, e as possibilidades de mudanças no alcance de doenças transmissíveis, até o ambiente favorável a doenças que a combinação de umidade e calor (provocada pelas ondas de calor e inundações) pode criar. Tudo isso vai afetar mais diretamente as populações que estiverem menos protegidas, menos imunizadas por vacinação, por exemplo. E certamente afetará bem menos aqueles que podem contar com uma boa infra-estrutura de saúde. Com a queda da produtividade agrícola, da redução dos recursos hídricos e sua contaminação, acontece a mesma coisa. Uma vez afetada a produção de alimentos, temos a longo prazo a desnutrição das populações mais pobres e todas as doenças dela decorrentes.

Tudo isso significa então um agravamento dos problemas que já se vive hoje?
Atualmente, 1/3 da população mundial vive em países onde há escassez de água, 2,4 bilhões de pessoas não contam com serviços sanitários; enquanto outros 2 bilhões vivem sem energia elétrica. Cerca de 4% das enfermidades se relacionam com problemas de falta de água potável, saneamento básico e higiene, enquanto 3% do total de doenças resultam de contaminação do ar. E nos próximos 30 anos, será preciso alimentar mais 3 bilhões de pessoas.

O que se pode fazer para minimizar os efeitos dessa situação?
São situações possíveis de se prever, mas impossíveis de se deter. Podemos é tentar nos adaptar a estas mudanças. Para isso, é preciso que se façam análises para avaliar o impacto delas em cada região, informar aos diversos setores, principalmente aos responsáveis pela tomada de decisões, sobre a importância de se pesquisar, avaliar a vulnerabilidade das diversas populações e estudar a criação de estratégias de adaptação, que serão necessárias em todos os níveis. Cada país deve fazer suas avaliações, identificar os problemas e traçar suas políticas.

As informações são do site EcoPop.

   
 
 
 

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