drogas
22/02/2008

Vida dividida entre as raves e depois das raves

Erika Vieira


Atleta, estudante de educação física e com emprego. Esse era o perfil de João (nome fictício do entrevistado que pede para não se identificar), 24 anos, antes de se envolver mais a fundo com os alucinógenos que usava para curtir melhor a música eletrônica que rolava nas raves. Típico filho de classe média paulistana, o jovem já viveu ativamente a rotina de ir todos os fins de semana para as festas que duram mais de um dia. Consumiu e vendeu diversos tipos de drogas. Das loucuras sintéticas já experimentou quase todas.

Mas depois que seu pai encontrou a balança que ele usava para pesar as substâncias, de perder o pique para praticar esportes e de se decepcionar com a corrupção que se passava com a polícia por trás das organizações das raves, João mudou de comportamento. Hoje se dedica à namorada, melhorou o relacionamento com pai, voltou para a academia e se tornou mais caseiro. Todo o relato de como foi seu passado e como é seu presente está sendo contado na entrevista a seguir.

Você gosta de rave?
Antes eu gostava de rave, agora não gosto mais. Faz um ano e um mês que eu não vou em festa nenhuma. Na verdade em festas em São Paulo eu já não vou tem uns dois anos. Lugar que toca música eletrônica eu vou mas pouco, hoje em dia não estou mais tão apegado que nem era antes.

Por quê você gostava?
Eu ia para curtir. Porque tenho muitos amigos que são produtores musicais e drogas também influenciaram. Mas eu não associava muito, teve festas que eu curti sem está drogado também.

Você freqüentou quanto tempo?
Freqüentei uns seis, sete anos.

Qual foi a primeira rave que você foi? Quem te convidou?
Eu fui porque, quando eu tinha uns 15 anos, meus amigos que moravam fora do Brasil já me falavam. Na época o pessoal já escutava música eletrônica, lá fora já era mais divulgado e eu comecei a ir atrás desse som. A festa foi bem fechada em um sítio de amigos.

O que essa festa tinha de diferente das outras?
A música. O som era legal. Eu podia fumar maconha com meus amigos. Era um ambiente aberto, legal e tranqüilo.

A sensação que você sentiu na primeira rave e nas outras foi igual?
Não porque conforme foi crescendo foi piorando, começou a ter um consumo muito grande de droga. A droga caiu de qualidade.

Como você conhece a pureza da droga?
O LSD tem a loucura mais pesada, a anfetamina você fica mais acordado.

Qual a maior quantidade que você já usou?
Diversas juntas. Cocaína já chegou a 5 gramas. Umas 10 gotas de LSD.

Que tipo de droga você já usou?
Diversos tipos de LSD, ecstasy, o MDMA, pó, maconha, anfetamina, diversos tipos de cogumelo, crack.

Por que você passa de uma droga para a outra?
Os diversos tipos de droga que experimentei são alucinógenos, eu criei gosto pelas drogas. Mas uma com o qual mais me identifiquei foi o LSD. Troquei porque o ecstasy é uma sensação de alegria falsa. Já o LSD é uma loucura mais relaxada, às vezes você vê plantas se mexerem, tem alucinações, eu via pessoas dançando no reflexo da lua na água.

Você tem medo pela sua saúde?
Não paro para pensar muito nisso. Uma coisa com a qual me preocupava era de usar quando sentia que estava bem comigo mesmo, com a minha vida pessoal, quando eu não estava brigado com a minha família nem com a minha namorada.

Você usava droga com amigos. Dava para outras pessoas?
Sim, compartilhava e trocava.

Considera isso tráfico?
A troca não considero, mas é considerado.

Por que não considera?
A troca não. Vender sim. Eu já cheguei a vender.

Por que você vendia?
Não por necessidade, mas por envolvimento. Envolvimento, talvez com amizades erradas que eu criei depois de um tempo. Não era por dinheiro, nem ambição. Tudo que me veio com droga foi com droga.

Quais eram as amizades erradas?
Um traficante de drogas nem sempre é uma boa amizade. Te traz riscos e quem está no meio está exposto a riscos.

Se você gostava, por que parou de ir?
Parei de ir porque desde que está crescendo muito as festas a polícia começou a entrar muito no meio das festas, viram que era um jeito de ganhar dinheiro fácil. Eles controlam o tráfico dentro de festas. E também está indo muita garota de programa indo nas festas, não é um ambiente que eu fui me sentindo a vontade. Eu falo isso da polícia, porque eu sempre pratiquei esporte (lutas) e tinha contato com policiais civis que depois eu via na rave. Não gostava de saber que eles tinham contato com traficantes que eu também já tive contato. Hoje eu até iria, mas ia limpo. Em relação ao que eu já fui hoje eu sou limpo.

Com qual freqüência você ia em rave?
Quase todos fins de semana.

Você prefere hoje ou antes?
Acho que são momentos. Já gostei muito de antes, mas agora gosto muito de hoje.

Voltaria para as raves?
Não.

Seu pai deixava você ir na rave? Você falava que ia?
Para o meu pai não. Para ele sempre foi mais escondido. Ele sempre foi mais fechado, centrado, educação muito rígida. Para minha mãe nunca tive muito problema, ela é minha melhor amiga, tudo que já experimentei de droga nunca escondi dela. Ela não gosta, não me apóia, mas eu converso com ela. Apesar de que ela prefere nem saber.

Seu pai nunca soube?
Sabe. Não tem como esconder. Seu corpo muda, eu era uma pessoa muito atlética, me machuquei feio e ai parei. Já estava no meio da música eletrônica então parei de me exercitar e o corpo vai mudando, vai dando na cara que você está se drogando. Meu pai chegou a mexer nas minhas coisas e acabou encontrando o que não devia. Ele descobriu maconha e uma balança, que eu usava para conferir o que eu comprava e também para a droga que eu vendia.

O que seu pai disse?
Fez todo um sermão, me passou valores de vida. Todas essas conversas que eu já tive com a minha mãe e com meu pai me fez ser o que sou, se eu falar que não foi bem instruído estou mentindo. Sempre tive apoio, estudei em escola particular e uma boa educação.

Antes você conversava com seu pai sobre drogas?
Não. Meu pai sempre foi muito fechado com relação ao consumo de drogas, porque já teve problemas de alcoolismo na família, então ele não gosta.

Como está sua vida hoje. O que você faz para se divertir?
Namoro muito. Essa é minha principal diversão.

Como você pretende levar sua vida de agora para frente?
Eu trabalho e pretendo ter uma família e filhos.

Você levaria seu filho para uma rave?
Não. O jeito que vejo a rave hoje é diferente do jeito que via antes. Eu nunca levaria meu filho para as drogas. Nunca falaria para ele usar drogas. Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.

   
 
   
 

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