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útil e agradável
25/10/2004
Jogos transformam hora de brincar em hora de aprender

Com a função de ir além do entretenimento, servindo como estímulo para as habilidades sensoriais e cognitivas das crianças, os brinquedos educativos superaram também a fama de chatos, caros e pouco diversificados. Fabricados tanto por pequenos artesãos quando por grandes empresas, estão mais atraentes, coloridos e variados. Ganharam espaços nos shoppings centers e espalharam-se por lojas especializadas.

Para quem pesquisa ou trabalha com o tema, o impulso é resultado de uma seqüência de fatores: a valorização da educação infantil, devido a uma conscientização maior de psicólogos e pedagogos sobre a importância do período, a percepção dos pais dessa necessidade e a busca dos fabricantes para oferecer novos produtos, em resposta à demanda crescente.

Traduzindo em números, cerca de 160 fabricantes, de pequeno, médio e grande porte, ocupam hoje de 15% a 20% do mercado de brinquedos no país, segundo estimativas da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos Educativos e Afins (Abrine). Há cinco anos, esse percentual estava em torno de 5% a 8%.

"Antigamente existiam butiques de brinquedos educativos, porque tinha meia dúzia de opções e eram caríssimos. Isso mudou, mas continuamos com um público exigente, que nos obriga a pesquisar e procurar novos fornecedores", afirma Maria Paula Bela de Souza, proprietária da loja Catavento.

Nas lojas, 5 mil tipos de brinquedos fornecidos por 500 fabricantes - de artesãos regionais, encontrados durante viagens por vários Estados, a grandes fabricantes, que editam livros, CDS e jogos infantis. "Tem mais gente fazendo, e com uma preocupação maior. Por exemplo, fizemos uma série de animais da fauna brasileira e fomos pesquisar com biólogos e veterinários, para fazê-los parecidos com a realidade e para montar uma ficha sobre cada um", diz Maria Lemos, da Bichos de Pano.

Para a dona de casa Elizabeth Miranda Costa, esses brinquedos e jogos são essenciais na educação de sua filha. "A maioria dos brinquedos que eles vêem na televisão é muito pronto, não sobra espaço para a imaginação. Compro essas bonecas também, mas uma só. E o resto quero que sejam estimulantes", diz.

Sua filha, Heloisa, de 12 anos, aprova. "Gosto de coisas difíceis, que a gente fica até conseguir resolver, acho mais legal. Dou de presente para meus amigos também."

Saber brincar
Mas o cenário não é tão harmônico e ainda há muitos mitos envolvendo os brinquedos, segundo os especialistas. O primeiro deles é a idéia de que comprando o brinquedo e entregando-o à criança, ela sozinha vai desenvolver suas potencialidades.

"Não há brinquedo auto-educativo. O que dá força é a intervenção do pai ou professor, para fazer com que ele cumpra sua função e seja realmente educativo", afirma o educador Celso Antunes, autor de vários livros sobre cognição e inteligência e consultor da Associação Internacional pelos Direitos da Criança Brincar. Para explicar isso, o educador recorre a uma comparação: "Pergunto aos pais se eles conseguem dar ao filho a mesma atenção que dão quando são chamados no trabalho para conversar com o chefe. É o mínimo que devem fazer, mesmo que seja por 15 minutos todos os dias".

O segundo problema está na falta de uma "bula" desses brinquedos, ou seja, muitos pais diante das opções não sabem como brincar com as crianças. O terceiro ponto é o próprio conceito de brinquedo educativo, geralmente limitado a simples peças de madeira e jogos de raciocínio.

"Brinquedo educativo é um nome como outro qualquer. Se o brinquedo interessa à criança, se ele pede interação, reação, estimula observações, então ele é educativo. E isso pode ser encontrado em lojas comerciais, em brinquedos industriais e artesanais, ou seja, em todos os lugares", diz a pedagoga Nylse Helena Silva Cunha, presidente da Associação Brasileira de Brinquedotecas.

Esclarecidos os conceitos, a principal vantagens do aprendizado associado à brincadeira está no fato de a criança não se sentir pressionada, cobrada ou com obrigação de responder a expectativas. "Brincar é essencial para o desenvolvimento e a aprendizagem. Quando a criança brinca, ela está aprendendo, se preparando para vivenciar a realidade e lidar com valores simbólicos e sociais", diz a pedagoga Edda Bomtempo, professora de psicologia escolar e de desenvolvimento humano da Universidade de São Paulo (USP). "E assim ela desenvolve habilidades nem sempre esperadas, porque ao brincar a criança transforma a realidade", completa.

Jogo de regras
Na educação infantil, o brincar engatinha, mas com avanços. A principal modificação, para os pedagogos, é acabar com a separação entre hora de brincar e hora de aprender. "Uma criança deve fazer muitas experiências e o brinquedo é a ferramenta ideal para isso. É o que ajuda ela a experimentar o corpo, o tato, o olfato, os movimentos e o raciocínio", diz a pedagoga Alice Lucot, presidente da Associação de Brinquedotecas da França, que esteve no Brasil para um congresso sobre o tema.

"O jogo está começando a ser reconhecido como um instrumento educativo no mundo inteiro. Com auxílio de professores, ele alfabetiza a criança sem que ela perceba que está estudando, ele ensina pensamento matemático com facilidade. E desenvolve autonomia. Temos muitas pesquisas que mostram todos esses resultados", diz o pedagogo italiano Giorgio Bartolucci, especialista em brinquedos e brinquedotecas.

Mesmo com a teoria, a transposição para as salas de aula às vezes é lenta e complicada. Depois de uma pesquisa com professores, que constatou a falta de conhecimento da importância do brinquedo, a pedagoga Sandra Nascimento iniciou um programa de sensibilização. "As escolas nos chamam para fazer sessões com pais e com professores. Levamos uma série de brinquedos e, ao fazê-los brincar, vamos mostrando o que pode ser aprendido com eles. No início ficam todos céticos. Quando termino, não querem mais me devolver os brinquedos."

 

SIMONE IWASSO
do jornal O Estado de S. Paulo

   
 
 
 

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