educação
26/03/2008

Fundações preparam professor do futuro

Silva, 36 anos, soube que ia dar aula para a 4ª série D, na Escola Estadual Graccho Cardoso, pensou: "Por que foram me dar logo essa turma?". Eram 28 alunos repetentes, e o D da turma também poderia servir como abreviação para "desacreditados". "Nem eles acreditavam mais neles mesmos", afirma a professora da cidade de Própria, Sergipe, na região do Baixo São Francisco. Mas ela decidiu encarar a classe como um desafio e começou a trabalhar.

Para conhecer melhor os "meninos", conseguiu fazer com que os pais participassem das reuniões com os mestres; pediu que eles passassem a valorizar o que os filhos tinham de melhor; criou horta para as crianças cultivarem na escola e ainda oficinas de arte; ensinou que uma carteira e a própria escola são bens públicos; solicitou à merendeira que melhorasse a comida, que o porteiro recebesse melhor os alunos quando eles chegavam. "Cada um que trabalha na escola é um educador. É preciso ter o melhor ambiente possível, porque todos passam a manhã inteira na escola", diz Edsalba.

Em dois meses, houve redução nas faltas de 50%. Menos cadeiras foram quebradas, as pichações diminuíram, a merenda melhorou e a recepção dos alunos também. Os resultados apareceram no fim do ano: dos 28 alunos, 23 foram aprovados. Para ficarem em pé de igualdade com os demais estudantes - 380 crianças do ensino fundamental - tiveram mais um ano de reforço, em 2002. Nesse ano, todos se envolveram com estudos sobre o Velho Chico, um mergulho no conhecimento, na história, na cultura, na arte do povo ribeirinho.

Com essas iniciativas, Edsalba recebeu o Prêmio Professores do Brasil, organizado anualmente pela Fundação Bunge, Fundação Orsa e Ministério da Educação e Cultura (MEC) em 2001 e 2002. Hoje, além de dar aulas, ela participa do ReciCriar, criado em 2003 e coordenado pela Fundação Bunge, programa de formação de educadores da rede pública de ensino por meio de palestras e oficinas gratuitas.

"No começo, convidávamos especialistas e pessoas das universidades para o programa. Mas percebemos que era mais interessante quando os seminários e as oficinas eram feitos por professores com experiências práticas. Assim, houve um desdobramento do Prêmio Professores do Brasil para o ReciCriar", afirma Cláudia Calais, coordenadora de projetos da Fundação Bunge. Segundo ela, os seminários giram em torno de cinco pilares: valorização da auto-estima do professor, registro dos processos pedagógicos; estímulo a papel fundamental do professor; vínculo do professor com o aluno pela afetividade e novos caminhos para a educação.

Desde sua criação, o programa capacitou 12 mil educadores, de 47 cidades, envolvendo 1.004 escolas em oito Estados. Os investimentos da Fundação Bunge são R$ 6 milhões por ano. "Hoje, o grande desafio da educação é a qualidade, porque 97% das crianças brasileiras estão matriculadas nas escolas", diz Cláudia.

Como a instituição, outras fundações investem pesado na capacitação de professores da rede pública para melhorar a qualidade do ensino e combater a evasão escolar. Com recursos de R$ 15 milhões, a Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro, que se realiza este ano, vai envolver 6 milhões de estudantes, 73.118 escolas, 200 mil professores em 4.450 cidades. A iniciativa é da Fundação Itaú Social e do MEC. O objetivo é capacitar professores e alunos para aprimorar a leitura e a escrita, instrumentos fundamentais para a cidadania e inserção no mercado de trabalho.

"Estamos muito orgulhosos porque o Escrevendo o Futuro virou política pública", afirma Ana Beatriz Patrício, diretora da Fundação Itaú, referindo-se ao programa criado em 2002, em parceria com a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), que em três edições bienais envolveu 3,5 milhões de alunos inscritos. Este ano, o Lugar Onde Vivo é o tema central, dividido em três gêneros: poesia, memória e artigo de opinião. Inicialmente, serão selecionados 134 mil textos e na segunda fase 25 mil. Depois serão definidos 500 semifinalistas, dos quais 150 vão concorrer na etapa final. Desses, sairão os 15 vencedores.

Com investimentos superiores a R$ 11 milhões, desde 2002, no programa EducaRede, a Fundação Telefônica tem como foco a qualificação no ensino público de aplicação de tecnologias na escola. Em parceria com a Secretaria Municipal de São Paulo, entre 2006 e 2007, formou-se um grupo de professores orientadores de informática educativa, que, junto com a equipe da secretaria, produziu um guia prático sobre uso da internet, divulgado para toda a rede municipal.

"A internet abre múltiplos caminhos, mas se as pessoas não forem orientadas a tendência é ficarem perdidas. Se procurar na internet, por exemplo, o conceito de cidadania, vão aparecer uns 430 mil resultados. No Educarede, existem 11 ou 12 resultados, o que permite ao professor trabalhar o tema", afirma Sérgio Mindlin, diretor-presidente da Fundação Telefônica. Em 2007, em 100 escolas municipais houve capacitação para os professores. Este ano, serão 500 escolas.

Tendo como parceira a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a Fundação Gerdau investe no Fundo do Milênio para a Educação Infantil. Iniciado em 2005, já receberam um ano de formação complementar 5.820 educadores no Rio Grande do Sul e Santa Catarina. "Nos próximos cinco anos, vamos multiplicar o programa no Brasil e na América Latina, onde existem unidades do grupo", afirma José Paulo Soares Martins, diretor do Instituto Gerdau.

Voltado para o ensino fundamental, o instituto iniciou em 2007 um projeto-piloto com 200 educadores, em Santa Cruz, no Rio de Janeiro. É o Multicurso, voltado para internet e vídeos, que este ano se estenderá para outros 1.300 professores de São Paulo e Minas Gerais. Há ainda o Além da Letras, rede na internet para práticas de desenvolvimento envolvendo as secretarias de educação municipais. De 2.630 educadores em 2005, a adesão saltou para 21.078 atualmente.

A capacitação de gestão em escolas é outro programa importante. Segundo Martins, os diretores aprendem como gerir de forma eficiente desde a parte administrativa até a pedagógica. Participam desse programa 499 diretores. O Instituto Gerdau vai investir este ano R$ 13 milhões em projetos educacionais.

Maria Cândida Vieira
Valor Econômico

   
 
   
 

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