João
Batista Jr.
Ainda adolescente, Fernanda Bianchini
acompanhou seus pais a uma visita ao Instituto de Cegos Padre
Chico, no bairro do Ipiranga, São Paulo. “Foi
quando tive uma idéia”, diz ela. Como havia começado
a fazer aulas de balé, pensou em ensinar o que estava
aprendendo aos deficientes visuais. Seus pais, que já
prestavam serviços à instituição,
logo trataram de incentivá-la.
Mesmo assim, a menina, com então 15 anos, ficou receosa.
“Na minha cabeça, professor é aquele que
sabe muito. Mas pais disseram para eu nunca desistir de um
desafio.”
Fernanda recorda que essas palavras ecoaram em sua cabeça,
até tomar uma decisão. “O início
foi difícil, não sabia nem como chegar perto
das meninas.” Mas depois das primeiras aulas, a nova
professora passou a desenvolver métodos de percepção
corporal por meio de toques.
E o sucesso foi enorme. Fernanda não parou de receber
interessados, teve se contar com o apóio de outros
voluntários e os ensaios passaram a resultar em apresentações.
Essa série de fatores culminou na Associação
de Balé de Cegos Fernanda Bianchini. “Mas não
ensinamos apenas balé, mas também dança
de salão e tai chi chuan.”
“Hoje as alunas são chamadas para dançar
em vários estados do país.” Fernanda conta
que, além de dar mais movimento aos deficientes visuais,
deu também oportunidade. “Muitas delas recebem
cachê pelas apresentações.” “Existe
uma proposta para o grupo se apresentar na Espanha”,
revela com entusiasmo.
Lição
“Todo pai e mãe sonha em ver a apresentação
de balé da filha no fim do ano.” “Mas com
os pais de cegos isso era impossível.” Hoje com
28 anos e formada em fisioterapia, Fernanda orgulha-se de
não ter desistido de seu projeto. Os pais dos cegos
agradecem por assistir às apresentações
e os novos bailarinos agradecem por aprender a dançar.
“E eu aprendi a ver, mas com os olhos do coração.”
Fernanda mostra, assim, que tem muito a agradecer.
Mais de 200 pessoas já passaram pelas mãos
da equipe de Fernanda Bianchini, sendo que em sua maioria
mulheres. |