análise
28/05/2008

Rua Augusta é meu antídoto contra a monotonia

Ricardo Oliveros*

Na década de 50 era um dos lugares mais chiques da cidade. Nos anos 60 e 70 foi ponto de encontro da juventude, época em que os famosos "rachas" aconteciam e foram imortalizados na música "Rua Augusta" de Hervé Cordovil, cantada não só pela Jovem Guarda, como também por Raul Seixas e os Mutantes: "Entrei na Rua Augusta a 120 por hora..."

Nos anos 80, a Augusta mudou suas características, e o que muita gente chama de declínio, prefiro denominar de novos rumos. Sou arquiteto de formação e meu mestrado foi sobre três edifícios de São Paulo: Copan de Oscar Niemeyer, Edifício Nações Unidas de Abelardo de Souza e Conjunto Nacional de David Libeskind. O que eu procurava mostrar é como a cidade foi se deslocando do centro original em direção a Paulista por duas grandes vias: Brigadeiro Luiz Antonio e rua Augusta. Mais do que a cidade, o poder político e econômico.

Sempre me pergunto, porque consideram decadência a mudança de status que uma determinada região sofre, seja por questões políticas, econômicas ou sociais. Sim, se compararmos as fotos da Augusta com seu comércio de luxo de outrora com os de hoje, de imediato as pessoas dirão: Ai que pena, tudo era tão melhor antes. Melhor para quem? Para quem tinha dinheiro, claro.

Sim, os prédios não são tão reluzentes como antes. O comércio mudou muito. As pessoas também. Mudança de classe, mas não de vida. Há dez anos atrás morei num prédio incrível entre as ruas Mathias Aires e Fernando de Albuquerque. Vários amigos como vizinhos. Na porta, sempre uma prostituta fazendo seu "ponto".

Adorava seus modelos, suas histórias. Convivemos em plena harmonia, nos quase quatro anos em que morei lá. Quando queria ir ao cinema, era só olhar pela janela e ver se tinha fila ou não no Espaço Unibanco. Sair de noite, não era problema, porque a Lôca, era logo ali. E continua lá.

Passada uma década, continuo andando feliz pela Baixa Augusta, porque o Vegas Club ali se encontra, lado a lado com as Saunas For Men. O Studio SP, logo vai se mudar para lá. Sem contar que tem coisas que só se encontra por lá, como a tradicional rotisseria Bologna, ou os mais lindos chapéus do belga Maurice Plas.

Recentemente, fui convidado para fazer uma edição de moda, para a Revista da Folha, com roupas das lojas que vestem os travestis e prostitutas do local. Por que me escolheram? Talvez, pela total intimidade e uma completa ausência de preconceitos sobre isso.

Aprendi que espaço público é isso, o encontro com o diferente e não só com nossos pares. A Augusta para mim é um antídoto contra as luzes monótonas dos shoppings centers. Sinto falta do Spazio Pirandello, do Antônio Maschio. Sinto falta do Promocenter. Sinto falta do Ceasar Park, sinto falta de morar lá. Por isso, sempre volto quando o tédio bate à minha porta.
*Ricardo Oliveros é editor de moda, mestre em Arquitetura e blogueiro do Fora de moda.

   
 
   
 

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