Aberto
no dia 23 de outubro do ano passado, no parque Ibirapuera,
uma das últimas inaugurações da gestão Marta Suplicy, o Museu
Afro-Brasil, pode encerrar suas atividades antes de completar
um ano. Com patrocínio da Petrobras de cerca de R$ 4,2 milhões,
a instituição tem apoio garantido apenas até o próximo domingo.
Segundo Carlos Augusto Calil, secretário municipal de Cultura,
em nota divulgada ontem, o museu foi criado "contrariando
o que determina a Constituição Federal" e "sem que fossem
garantidos à instituição recursos orçamentários ou quadro
de funcionários, necessários à sua continuidade e estabilidade".
O secretário de Cultura, ainda segundo a nota, afirma que
há três alternativas para a preservação da instituição: a
criação do museu, em nível municipal, mediante lei a ser enviada
à Câmara de Vereadores, destinando-lhe dotação orçamentária
e quadro de pessoal, tornando-se assim um museu municipal;
sua criação como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse
Público (Oscip) ou, ainda, como uma fundação de direito privado
a ser instituída a partir da vontade de seu curador, em ambos
os casos independente do poder e das verbas municipais.
Em qualquer um dos casos, a solução para o impasse não se
resolve a curto prazo, situação que inviabiliza a manutenção
de 47 funcionários no museu. Como solução emergencial, no
entanto, Calil diz contar com "recursos remanescentes do patrocínio
da Petrobras [que] serão aplicados para mantê-lo vivo e bem
aberto".
Entretanto, de acordo com Paulo Cauhy, do Instituto Florestan
Fernandes, organização responsável pela implantação do museu,
"a verba remanescente está empenhada em projetos em curso
e, para ser usada na manutenção da instituição, eles precisam
ser cancelados e a alteração aprovada pelo Ministério da Cultura
e pela própria Petrobras". Caso isso ocorra, estariam disponíveis
R$ 115 mil.
"Com esse dinheiro conseguimos funcionar por, no máximo, mais
dois meses", diz Emanoel Araujo, criador e diretor do museu,
que não vê com bons olhos a proposta da transformação do museu
em fundação ou Oscip. "Esse museu trata de um assunto que
deveria ser parte fundamental de uma política pública, pois
é um tema relevante da nossa história e esse é um país onde
essa questão sempre é adiada. Claro que o museu está baseado
numa coleção que é minha, mas ele é mais do que isso", afirma
Araujo. Mesmo assim, o curador diz que vai resistir: "Só sairemos
como Antonio Conselheiro em Canudos: abatidos por canhão".
Projeto de Lei
para o Museu Afro Brasil
FABIO CYPRIANO
da Folha de S.Paulo
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