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relações sociais
28/10/2004
Desenvolvimento é resultado de projeto político e não econômico

Na mesa de abertura do último dia de evento, cujo tema foi "Criando as bases para o desenvolvimento local", Silvio Caccia Bava, sociólogo e diretor do Instituto Pólis, apresentou, de forma bastante didática, os conceitos de "comunidade" e "desenvolvimento", mostrando como eles se relacionam.

Segundo o palestrante, o termo "comunidade" está ligado às relações sociais mais próximas que as pessoas têm (com seus familiares, vizinhos etc). Assim, a noção de "comunitário" está sempre identificada com decisões coletivas, e não com um indivíduo que enfrenta sozinho os desafios da sociedade.

Mas definir "comunidade", de acordo com Silvio Caccia Bava, não é suficiente; é preciso também contextualizá-la. Ele explicou que, no Brasil, a maioria das comunidades está inserida no ambiente urbano, já que 82% da população vive nas cidades. São cidades bastante desiguais, polarizadas, que concentram a riqueza de um lado e a pobreza de outro. E nas quais 45% dos habitantes vivem "abaixo da linha da pobreza", ou com menos de dois dólares por dia. Caccia Bava afirmou ainda que as cidades latino-americanas possuem uma estrutura política muito hierarquizada, autoritária, nas quais as elites controlam a vida pública - o que é resultado da herança colonial da América Latina.

O sociólogo partiu de quatro questões para definir o que é o desenvolvimento: quem o promove?; quem se beneficia dele?; o que ele oferece para a sociedade como um todo?; e que lugar ele oferece para os pobres?. Então, chegou à conclusão de que o Brasil tem um modelo de desenvolvimento concentrador de riqueza - baseado nas exportações, que beneficia "os grandes", remete lucros para o exterior, degrada o ambiente e favorece as desigualdades. É, portanto, um modelo de desenvolvimento internacional, imposto pela globalização, que não está baseado nas particularidades locais e não atende às suas necessidades.

Caccia Bava afirmou que toda a sociedade brasileira concorda que o Brasil precisa de um novo modelo de desenvolvimento, com mais distribuição de capital, redutor das desigualdades sociais, que beneficie a maioria, gere trabalho e renda, e preserve o meio ambiente. Mas para inventar esse novo modelo, é preciso observar, sobretudo, o lugar que os pobres ocupam na sociedade.

Nesse novo modelo, os pobres devem assumir papel de protagonistas, organizando-se em entidades e movimentos, garantindo sua participação nas decisões, exigindo políticas de qualidade e disputando os espaços públicos. Nesse sentido, ele citou algumas formas inovadoras de promoção do desenvolvimento local.

Lembrou, por exemplo, do Grameen Bank, idealizado por Muhammad Yunus, em Bangladesh. Essa instituição oferece microcrédito a 75% da população daquele país, sem exigir nenhum tipo de garantia. No Brasil, ele contou o caso da "Feira do Produtor", criada em Santa Catarina, por pequenos agricultores familiares. Como eles não estavam conseguindo entrar no mercado, com apoio da Prefeitura, montaram uma feira de produtores, que vendiam suas mercadorias diretamente aos consumidores, sem intermediários, e, portanto, a um preço mais acessível. Foi uma iniciativa da sociedade civil, que beneficiou toda a comunidade.

Caccia Bava, durante sua exposição, ainda citou o geógrafo Milton Santos, que dizia que, para tornar o desenvolvimento local possível, é preciso "trabalhar as pessoas nas relações com as coisas". E encontrar a solidariedade, a criatividade e a lógica presentes na espontaneidade da economia informal para então inseri-la na programação dos governos.

O sociólogo disse que o desenvolvimento é uma construção social, que depende da organização da população. Por isso, considera fundamental valorizar as pessoas, as capacidades empreendedoras de todos, as iniciativas coletivas de geração de trabalho e renda, a dinâmica particular de cada localidade, a fim de promover a cidadania, a elaboração de políticas públicas de qualidade e o desenvolvimento social.

Para concluir, Silvio Caccia Bava disse que o desenvolvimento é um projeto político e não econômico. Assim, ele depende da organização da sociedade - que inclusive vem crescendo muitos nos últimos cinco anos; fato comprovado pela dimensão que movimentos sociais como o dos quilombolas e dos índios assumiram.

Mas ele também depende do apoio dos governos, senão não ganha a generalidade que necessita. "O desenvolvimento comunitário é alma de tudo isso, mas ele precisa ser ampliado", disse. E, para que isso aconteça, de acordo com o diretor do Instituto Pólis, é preciso saber votar. Só assim é possível enfrentar a estrutura hierarquizada e conservadora tão presente nos municípios brasileiros, alertou.

LAURA GIAMMECCHINI
do site Setor3

   
 
 
 

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