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inclusão no trabalho
28/12/2004
Rede de fast food Bob´s abre as para portadores de deficiência auditiva

A loja da rede de fast food Bob´s, instalada no Carrefour da Barra na Tijuca, no Rio de Janeiro, ganhou uma nova dinâmica com a chegada de uma turma especial do Projeto Surdo-Mudo. Desde setembro, cinco deficientes auditivos foram contratados para trabalhar no atendimento da loja, a partir de um termo de compromisso firmado com o Ministério Público do Trabalho e com o DRT (Delegacia Regional do Trabalho) do Rio de Janeiro.

A iniciativa faz parte das ações da empresa que vem de encontro ao decreto 9298, de 1999, estabelecido pelo Ministério do Trabalho, que determina que as empresas com 100 ou mais empregados preencham o seu quadro de funcionários com portadores de deficiência num percentual que varia de 2% a 5% do total de empregados. De acordo com o censo do IBGE de 2000, estima-se que 14,5% da população do país apresente algum tipo de deficiência. A incapacidade de enxergar, com seus diversos graus de severidade, é responsável por quase a metade do total de casos informados, ou seja, 16,5 milhões.

Os novos funcionários foram selecionados a partir de um banco de dados fornecido pelo Núcleo de Cidadania da DRT. Geraldo Gonçalves, diretor de Recursos Humanos do Bob´s, explica que, normalmente, a política de contratação da empresa exige que os funcionários tenham entre 16 e 22 anos e o Ensino Fundamental completo. No entanto, frente às diversas dificuldades que a pessoa portadora de deficiência encontra para estudar, como a locomoção até a escola, esse último critério de contratação não foi levado em consideração. "Nos preocupamos mais em identificar aqueles que realmente tinham vontade de trabalhar", comenta.

Eles passaram por um treinamento de 45 dias, sendo preparados para trabalhar desde a limpeza e, principalmente, na produção dos sanduíches e outros alimentos. Até agora, duas turmas, com cerca de cinco alunos cada, participaram do curso. Um novo treinamento terá início em janeiro. "Alguns que passaram pelo curso acabaram saindo ou pela dificuldade de distância do local de trabalho ou pela falta de aptidão ao negócio. E isso é comum a todos os funcionários, pois as exigências são as mesmas. Os deficientes auditivos não são tratados de forma diferente e a produtividade tem que estar ligada ao serviço, senão, vira filantropia e não política de trabalho", destaca Gonçalves.

Um intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais) foi treinado especialmente para este apoio de comunicação entre os funcionários e os deficientes auditivos e também com os clientes. Os demais empregados da filial da Barra estão aprendendo a nova língua, com apoio de um livro de sinais. Além disso, foi instalado um novo sistema de cores que facilita essa comunicação, já que as cores são mais fáceis de serem ditas em libras. Por exemplo, quando o cliente pede um Big Bob, já foi estabelecida que a cor azul é que irá representá-lo.

Rafael Faria de Sá, gerente da loja, ressalta que os resultados até o momento têm sido muito positivos, já que os novos funcionários apresentam uma grande força de vontade e motivação para o trabalho. "Esse entusiasmo acaba influenciando todos nós da loja. Eles são muito caprichosos e cuidadosos com o que fazem", comenta. Para Gonçalves, essa iniciativa é uma quebra de paradigmas, já que as pessoas dificilmente imaginam um deficiente auditivo trabalhando num sistema fast food. "Isso impacta tanto nos clientes, que percebem uma nova postura da empresa, quanto no clima interno, promovendo uma maior integração entre as pessoas".

Marcelo Macedo Borges, 23 anos, deficiente auditivo, conta que esta é uma nova oportunidade aberta para eles, e que está achando o novo serviço muito bom. O jovem, que atua como atendente no Bob´s, já havia trabalhado em outro local, no departamento de almoxarifado da empresa. No entanto, ele se recorda de ser difícil a comunicação com os outros funcionários, pois as pessoas não sabiam se expressar e falar com ele.

O gerente de Recursos Humanos da empresa afirma ainda que a contratação de deficientes sempre foi uma preocupação do Bob´s, antes mesmo da exigência da lei, quando a empresa já realizava um trabalho de inclusão de portadores de deficiência física, no seu quadro de funcionários, mas as atividades eram restritas ao Bob´s Fone - sistema de atendimento telefônico para pedidos. Apesar do serviço ter sido terceirizado, alguns funcionários, como Pablo da Silva Marinho, 20, portador de deficiência mental leve, continuaram a atuar. Para o jovem, esta foi a conquista do primeiro emprego. Ele está terminando os estudos do Ensino Fundamental e pretende continuar no ramo caso haja oportunidade. "Estou aprendendo muito. Além disso, é bem interessante essa relação com os deficientes auditivos, apesar de ser complicada, às vezes", destaca o jovem.

De acordo com Gonçalves, a proposta é expandir o projeto, inicialmente, para as 60 lojas próprias do Bob´s pelo país, principalmente as lojas escolas – sendo que existem três no Rio de Janeiro e duas em São Paulo – e, depois, incluir também os 340 franquiados. Em São Paulo, o projeto deverá ter início em 2005. Uma pesquisa divulgada no início de dezembro pela Secretaria Municipal do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade da cidade, apontou que, de acordo com o censo de 2000, existem 79 mil portadores de deficiência que têm idade para trabalhar na capital paulista.

Na amostra colhida em novembro, a secretaria detectou que 88,7% estão sem emprego. Outros 15,9% estão à procura de uma ocupação e 72,8% já desistiram de procurar trabalhar. O diretor da empresa destaca que, gradativamente, o Bob´s irá contratar novos portadores de deficiência, para que a empresa possa cumprir a lei. Atualmente, a rede Bob´s conta com 7 mil empregados, sendo que 1300 estão atuando nas lojas próprias.

DANIELE PRÓSPERO
do site Setor3

   
 
 
 

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