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brasil alfabetizado
28/12/2004
Alunos e equipe do Sesi falam sobre desafios e alegrias da alfabetização

"Posso lhe garantir que não sou mais analfabeta. Sei ler e escrever, mas ainda tenho algumas dificuldades. Já consigo preencher ficha em banco e faço compras sozinhas no supermercado". Maria Olindina dos Santos, 57 anos, ex-aluna do Projeto Sesi - Por um Brasil Alfabetizado, comenta os benefícios de participar do programa.

O Programa Brasil Alfabetizado, lançado em janeiro de 2003, foi criado pelo governo federal, que pretende abolir o analfabetismo no país. Coordenado pelo Ministério da Educação (MEC), é desenvolvido por meio de convênios e parcerias para alfabetizar o maior número de jovens e adultos acima de 15 anos. O ministério repassa recursos para instituições desenvolverem as aulas de leitura e escrita.

De acordo com Ricardo Henriques, secretário de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC, o Programa Brasil Alfabetizado está seguindo dois movimentos: redesenho e reconceito, pois há uma necessidade em desvincular a idéia de campanha de alfabetização para integrá-lo a um conceito de continuidade dos estudos. E, atualmente, há a preocupação de um processo de passagem dos alunos alfabetizados pelo programa para o Ensino Fundamental.

Esse processo complementar trata-se do programa Educação de Jovens e Adultos (EJA). O governo preocupa-se com o aumento de articulações dentro do programa de alfabetização, incentivando a continuidade dos estudos. Assim, o MEC vem desenvolvendo o Programa Fazendo Escola para apoiar e ampliar o atendimento de jovens adultos nos sistemas públicos no ensino fundamental.

O programa Brasil Alfabetizado atingiu cerca de 1,9 milhão de pessoas nesse ano. A meta para 2005 é 2,2 milhões pessoas analfabetas. "É importante ressaltar que estamos abrangendo todos os 27 estados, contando com Distrito Federal. Temos ainda parcerias com 4230 municípios, 65 organizações não-governamentais e várias universidades", afirma o secretário.

Segundo Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2003, cerca de 11,2% da população brasileira é analfabeta, sendo que 22% são do Nordeste e 6,5% do Sudeste. A ex-aluna Maria Olindina já não faz parte desse número, mas chegou a perder um emprego por ser analfabeta. "Vi uma moça cortando tecido na loja e falei para ela que estava fazendo errado. Seu chefe estava ao lado e me convidou para trabalhar com eles. Não aceitei, porque não era só cortar o tecido, mas preencher a ficha com as medidas do tecido. Como faria isso sem saber ler e escrever", conta Maria Olindina.

"Foi maravilhosa essa experiência e faço questão de pagar a professora Adijane para terminar meus estudos. Não quero estudar na rede estadual e municipal, porque vou ter que estudar com jovens. Eles falam muita pornografia e bagunçam. Nas aulas de Adijane, parecíamos todos irmãos e eram todos mais velhos", afirma Maria Olindina, ex-aluna no estado de Pernambuco.

A alfabetizadora Adijane Gomes da Silva, 35 anos, ingressou no projeto em abril de 2004 e concluiu sua turma em outubro. "Achei interessante a proposta de trabalhar com adultos. O adulto vai nas aulas por interesse. É uma alegria escutar que eles conseguiram pegar sozinho o ônibus certo e escrever cartas. Afinal, trabalhar educando pessoas é a melhor coisa do mundo", conta Adijane.

As instituições conveniadas ao Programa Brasil Alfabetizado ficam responsáveis pela capacitação dos alfabetizadores, as inscrições dos alunos e organização do processo de alfabetização. Além disso, fornece material didático para os alfabetizadores e aulas de capacitação inicial e continuada, que promove diálogo, reflexão sobre o contexto histórico e conhecimentos das diferentes funções da linguagem, interpretação de texto e conhecimentos matemáticos básicos. Já a formação continuada trata-se da manutenção da aprendizagem do alfabetizador, com presença coletiva de, no mínimo, duas horas semanais.

Para participar do programa, a instituição precisa ter experiência comprovada na alfabetização de jovens e adultos e encaminhar projeto de apoio financeiro ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O formulário pode ser retirado no site do FNDE. As instituições têm que apresentar um método adequado à realidade da comunidade. "O programa metodológico é bem estruturado. Possui um eixo teórico em função de princípios de Paulo Freire, ou seja, há um alinhamento conceitual e contínuo", fala Eliane Martins, coordenadora nacional do Projeto Sesi - Por Um Brasil Alfabetizado.

O MEC repassa um piso salarial de R$ 120,00 e mais R$ 7,00 por aluno em sala de aula para os alfabetizadores. As turmas devem ter, no máximo, 25 alunos com duas horas diárias de aula, durante seis meses. De acordo com o projeto, cada etapa trata-se de seis meses de aula, mas pode variar de acordo com a região.

Segundo Eliane, o Sesi pretende atender cerca de 600 mil jovens e adultos nos dois semestres do ano. Em 2004, cada etapa atingiu cerca de 300 mil alunos. A região Nordeste é o local com maior demanda. Por exemplo, o Maranhão já possui, aproximadamente, 30 mil inscritos para o programa; 40 mil Ceará; 28 mil Pernambuco; 40 mil Piauí e 25 mil Rio de Janeiro. A faixa etária varia também, pois segue o perfil de cada estado. O Rio de Janeiro apresenta predomínio de jovens entre 20 a 30 anos. Enquanto isso, em alguns estados do Nordeste há uma concentração de alunos acima 40 anos.

Cada estado e município seguem uma metodologia e prazo de inscrição. Alguns estados já fecharam turma para o próximo ano, mas recomenda-se que os interessados se informem nas unidades do Sesi mais próxima. As aulas são adequadas aos alunos, já que muitos trabalham e moram na zona rural. Lugares como galpão de fábrica, centros espíritas, igrejas, lojas, sindicatos e penitenciárias, se tornam salas de aula.

Nesse ano, o projeto Sesi - Por um Brasil Alfabetizado atendeu cerca de 600 municípios, enquanto para o próximo ano o número passou para 750. "Hoje em dia, as pessoas têm um nível de consciência maior sobre a necessidade da educação para melhorar a qualidade de vida e inclusão social. É um resgate social. O programa dá uma injeção de ânimo aos órgãos públicos - principalmente, as escolas - para receber os jovens e adultos alfabetizados", conta Eliane.

A coordenadora estadual do projeto do Sesi, Maria Luíza Cavalcante, do Estado da Paraíba, contou que cerca de 1034 professores atenderam 22 mil alunos distribuídos em 109 municípios. Já tem uma turma de 8.991 alfabetizandos para começar suas aulas em janeiro de 2005, mas ainda há tempo para se inscrever. "Segundo os depoimentos de alunos, o programa teve um resultado positivo, pois há uma preocupação da supervisão do aluno e encaminhamento para continuidade nos estudos em escolas municipais", afirma Maria.

Já a coordenadora do em Pernambuco, Jeane Carneiro Costa, falou que o programa atingiu, aproximadamente, 27.424 alunos em 66 municípios, referentes a duas etapas. Até agora há 28 mil alunos inscritos para estudar no próximo ano, mas a coordenadoria pretende chegar aos 30 mil. "O programa tem uma grande importância, mas encontramos dificuldades em chegar a todos os analfabetos de Pernambuco, pois os 16 centros de Sesis estão espalhados na zona urbana e grande maioria do público-alvo residem na zona rural. Assim, precisamos improvisar salas de aula próximo ao aluno, como igrejas da comunidade, ONGs e outros locais".

Maria Conceição de Moura foi supervisora nos municípios de Camaragibe, Recife e Jaboatão dos Guararapes (PE). De acordo com Maria Conceição, o supervisor tem que ter curso superior em educação; experiência em supervisão de aulas e passar por uma capacitação como os alfabetizadores. A capacitação consiste em quatro dias iniciais de aulas sobre alfabetização e sobre como acompanhar o programa, auxiliando tanto o professor quanto aluno. "Não cuidamos apenas da parte pedagógica, mas também participamos de reuniões mensais para discutir a qualidade das aulas, a freqüência do aluno e verificar o motivo de evasão do aluno".

Para a ex-alfabetizadora Roberta Samara Brasileiro Martins, o programa acaba formando analfabetos funcionais, porque é pouco tempo para aprender a ler e escrever. Geralmente, esses alunos lêem pouco, copiam textos e não conseguem desenvolver textos. "Sempre digo que o mais importante não é saber ler e escrever direito, mas entender todo o processo de alfabetização e sua importância para o cotidiano".

"Sempre trabalhei em educação para crianças. Tinha curiosidade para ver como era com os jovens e adultos. Foi uma experiência muito boa, pois o adulto é mais interessado e já tem um conhecimento básico. Por isso, eles cobravam a cada dia uma coisa diferente para aprender. Cada um quer estudar uma coisa diferente e você acaba lidando com todas as disciplinas", conta Roberta.

A ex-aluna de Roberta, Maria de Jesus dos Santos, 64 anos, acha que deveria ser mais longa cada etapa do programa para os alunos se desenvolverem mais. "Antes ficava decepcionada em não poder assinar a correspondência e morria de vontade de acompanhar os hinos da Igreja. Agora vou devagar, mas consigo fazer minhas coisas", conta.


SUSANA SARMIENTO
do site Setor3

   
 
 
 

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