|
Leia
a repercussão da coluna: Cidadãos
provisórios e impostos definitivos
Caro
Gilberto:
No
que tange à carga de impostos que atualmente
incide sobre a classe média brasileira, acho
que cabe nesta discussão um apelo à coerência
que todos nós devemos cultivar em nossas posições
políticas. Se 36% do PIB é ou não
um índice alto de impostos sobre os rendimentos
anuais de cada um de nós é algo que depende
do ponto-de-vista que se adota sobre a questão.
Se
você olha esta porcentagem sob a ótica
da corrupção e das injustiças que
caracterizam a ação do estado no Brasil(como
aposentadorias de dezenas de milhares de reais ao mês
para altos funcionários públicos, ou injustificáveis
pensões vitalícias para filhas de militares
falecidos (como é o caso da irmã do atual
Ministro da Previdência, Ricardo Berzoini), aí
ela é bem alta mesmo.
Mas
se você encara estes mesmos 36% sob a luz da constante
pressão que é feita sobre o estado brasileiro
por parte da sociedade para que se construa aqui algo
semelhante aos Welfare States (estados de bem-estar
social) europeus, bem, aí isto já não
parece tão absurdo assim, na minha opinião.
Eu
penso que nós, cidadãos de classe média,
temos de ser coerentes com aquilo que cotidianamente
exigimos do estado e precisamos aceitar as consequências
lógicas que o atendimento de nossas demandas
necessariamente hão de gerar. Deixe-me ser mais
claro: se queremos que, no Brasil, o poder público
forneça à todos os habitantes do país
saúde, educação, segurança
e serviços de infra-estrutura de qualidade e
acessíveis, então temos de nos conformar
que isto custará dinheiro, e muito dinheiro.
Que
terá de sair de algum lugar. E este lugar, isto
é inescapável, terá de ser os nossos
bolsos. Não há mágica a respeito,
estas coisas custam caro, não se constrói
uma Suécia numa sociedade sem impostos, ou com
impostos baixos.
É
lógico que isto não quer dizer que devamos
aceitar desperdícios ou corrupção
feitos com nosso dinheiro, e nem tampouco devamos tolerar
políticas que, a pretexto de ajudarem aos pobres,
ajudam na verdade aos ricos e à classe média
alta (como as já citadas pensões para
filhas de militares ou a gratuidade do ensino nas universidades
públicas). Mas mesmo que todos estes ralos de
dinheiro sejam eliminados, ainda assim serão
necessários muitos recursos para que se construa
uma estado que ampare e ofereça serviços
públicos decentes à todos, em especial
aos mais pobres.
E
nós teremos de fornecer estes recursos, ou então
nossas ruas continuarão sendo lugares perigosos
para andarmos à noite. Os deserdados de nosso
país continuarão, como hoje, à
espreita.
Veja
o caso da CPMF. Todos a atacam. Mas eu não concordo
com tais ataques, sou favorável à CPMF
(com a ressalva de que ela não seja cobrada em
cascata como hoje em dia). Porquê a CPMF, digam
dela o que quiserem dizer, é um imposto socialmente
muito, mas muito mais justo, por exemplo, do que o ICMS,
que incide de maneira igual ou semelhante sobre o favelado
que compra uma caixa de fósforos na esquina e
sobre o milionário que compra um jatinho particular
para si. Já a CPMF não, só quem
tem conta-corrente paga este imposto. E pobre, no Brasil,
não tem conta-corrente. Pobre, em nosso país,
não consegue nem mesmo entrar em uma agência
bancária sem ser barrado pela segurança,
quanto mais ter conta-corrente.
E
este é só um exemplo, há vários
outros de impostos e taxas incessantemente malhados
pelas mesmas pessoas que, paradoxalmente, defendem com
ênfase que o estado brasileiro forneça
mais serviços aos cidadãos.
Assim
não dá. As pessoas precisam ser coerentes
e decidirem se querem ou não que o Brasil se
torne um país socialmente mais justo. Se querem,
precisam então estar dispostas a pagar por isto,
e ponto final. É o que eu penso.
Um
abraço,
Alex
Ricciardi.
|
|