Home
 Tempo Real
 Coluna GD
 Só Nosso
 Asneiras e Equívocos 
 Imprescindível
 Urbanidade
 Palavr@ do Leitor
 Aprendiz
 
 Quem Somos
 Expediente
 


 Dia 26.02.03

     

 

Leia a repercussão da coluna: Cidadãos provisórios e impostos definitivos

Caro Gilberto:

No que tange à carga de impostos que atualmente incide sobre a classe média brasileira, acho que cabe nesta discussão um apelo à coerência que todos nós devemos cultivar em nossas posições políticas. Se 36% do PIB é ou não um índice alto de impostos sobre os rendimentos anuais de cada um de nós é algo que depende do ponto-de-vista que se adota sobre a questão.

Se você olha esta porcentagem sob a ótica da corrupção e das injustiças que caracterizam a ação do estado no Brasil(como aposentadorias de dezenas de milhares de reais ao mês para altos funcionários públicos, ou injustificáveis pensões vitalícias para filhas de militares falecidos (como é o caso da irmã do atual Ministro da Previdência, Ricardo Berzoini), aí ela é bem alta mesmo.

Mas se você encara estes mesmos 36% sob a luz da constante pressão que é feita sobre o estado brasileiro por parte da sociedade para que se construa aqui algo semelhante aos Welfare States (estados de bem-estar social) europeus, bem, aí isto já não parece tão absurdo assim, na minha opinião.

Eu penso que nós, cidadãos de classe média, temos de ser coerentes com aquilo que cotidianamente exigimos do estado e precisamos aceitar as consequências lógicas que o atendimento de nossas demandas necessariamente hão de gerar. Deixe-me ser mais claro: se queremos que, no Brasil, o poder público forneça à todos os habitantes do país saúde, educação, segurança e serviços de infra-estrutura de qualidade e acessíveis, então temos de nos conformar que isto custará dinheiro, e muito dinheiro.

Que terá de sair de algum lugar. E este lugar, isto é inescapável, terá de ser os nossos bolsos. Não há mágica a respeito, estas coisas custam caro, não se constrói uma Suécia numa sociedade sem impostos, ou com impostos baixos.

É lógico que isto não quer dizer que devamos aceitar desperdícios ou corrupção feitos com nosso dinheiro, e nem tampouco devamos tolerar políticas que, a pretexto de ajudarem aos pobres, ajudam na verdade aos ricos e à classe média alta (como as já citadas pensões para filhas de militares ou a gratuidade do ensino nas universidades públicas). Mas mesmo que todos estes ralos de dinheiro sejam eliminados, ainda assim serão necessários muitos recursos para que se construa uma estado que ampare e ofereça serviços públicos decentes à todos, em especial aos mais pobres.

E nós teremos de fornecer estes recursos, ou então nossas ruas continuarão sendo lugares perigosos para andarmos à noite. Os deserdados de nosso país continuarão, como hoje, à espreita.

Veja o caso da CPMF. Todos a atacam. Mas eu não concordo com tais ataques, sou favorável à CPMF (com a ressalva de que ela não seja cobrada em cascata como hoje em dia). Porquê a CPMF, digam dela o que quiserem dizer, é um imposto socialmente muito, mas muito mais justo, por exemplo, do que o ICMS, que incide de maneira igual ou semelhante sobre o favelado que compra uma caixa de fósforos na esquina e sobre o milionário que compra um jatinho particular para si. Já a CPMF não, só quem tem conta-corrente paga este imposto. E pobre, no Brasil, não tem conta-corrente. Pobre, em nosso país, não consegue nem mesmo entrar em uma agência bancária sem ser barrado pela segurança, quanto mais ter conta-corrente.

E este é só um exemplo, há vários outros de impostos e taxas incessantemente malhados pelas mesmas pessoas que, paradoxalmente, defendem com ênfase que o estado brasileiro forneça mais serviços aos cidadãos.

Assim não dá. As pessoas precisam ser coerentes e decidirem se querem ou não que o Brasil se torne um país socialmente mais justo. Se querem, precisam então estar dispostas a pagar por isto, e ponto final. É o que eu penso.

Um abraço,

Alex Ricciardi.

 
 
<< - >>
 
   ANTERIORES                           - Índice
  Os animais do futebol estão soltos
  Se ACM fosse mulher
  Graziano e os novíssimos baianos
  Nordestinos são vítimas de preconceitos
  Aulas de marketing de Kelly Key e da cadelinha Perepepê
  O paradoxo de Lula
  Lula, vá a Davos
  O diploma de Lula serve?
  A verdadeira Fome Zero
  Brasil do Dr. Lula
  Rico também passa muita fome
  Decifra-me ou te mato
  Fome de marketing
  A fome de Lula
  Fernando Henrique será reconhecido pela história